O Estado de S. Paulo
O que o México ensina sobre o uso das Forças Armadas no combate ao narcotráfico
Trata-se de uma medida para brasileiro ver. Ao anunciar a missão de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) para conferir poder de polícia às Forças Armadas em portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo, o governo criou um factoide que não resolve no longo prazo o descontrole da criminalidade. E arrisca-se a gerar novos problemas ao atribuir aos militares funções para as quais não possuem treinamento adequado. Afinal, a doutrina do Exército para as GLOs decretadas desde 2010 é uma adaptação das doutrinas de contrainsurgência, herança da ditadura militar, e de operações de paz.
Não estamos sozinhos nesse improviso. O uso
das Forças Armadas no combate a organizações criminosas é uma tendência em toda
a América Latina. No caso brasileiro, a atuação costuma ficar restrita a coibir
o tráfico de drogas e armas nas fronteiras, ao patrulhamento do espaço público
e, em situações pontuais, à conquista territorial das mãos das facções. Em
outros países, como o México, os militares assumiram um espectro bem mais amplo
de atribuições tipicamente policiais. A GLO para os portos e aeroportos é um
passo nessa direção.
Mas o México é justamente um exemplo do que
não fazer. Desde 2006, sucessivos governos vêm jogando no colo dos militares a
missão de combater o narcotráfico. O resultado é trágico. Os cartéis mexicanos
continuam lucrando e barbarizando. A taxa de homicídios disparou de quase 10
para mais de 28 por 100.000 habitantes. As forças armadas passaram a conviver
com escândalos de abuso de poder contra a população e de corrupção. As
autoridades dos Estados Unidos chegaram a prender um general mexicano,
ex-ministro da Defesa, por suspeita de lavagem de dinheiro e narcotráfico. Em
fevereiro deste ano, um ex-secretário de Segurança Pública do México foi
condenado pela Justiça americana por envolvimento com os cartéis. Também vieram
à tona indícios de que cidadãos mexicanos foram espionados ilegalmente pelos
militares.
O atual presidente mexicano, o esquerdista Andrés Manuel Lopez Obrador, foi eleito com a promessa de enviar os militares de volta aos quarteis, mas está fazendo o oposto. A influência das forças armadas na segurança pública aumentou, apesar de decisões judiciais contrárias. Uma das novidades consistiu em colocar os fardados para controlar portos, aeroportos e sistema alfandegário. Não tem como dar certo.
Sei.
ResponderExcluirMas a idiotia tem razão de ser, ou seja, deixar as nações traficantes, confessadamente amigas do PT, fora da pressão. Para piorar, nem de longe conseguirão combater as milícias.
ResponderExcluirEnxugando gelo, enquanto abrem espaço para bolsonaros 2.0.
MAM