Folha de S. Paulo
Sem muito a fazer, Bolsonaro fustiga Tarcísio
em busca da relevância perdida
Jair Bolsonaro anda sem atividades relevantes com as
quais se ocupar. Transita entre prestações de contas à polícia, cerimônias de entrega de medalhas em Câmaras
Municipais e gestos que deem a impressão de que será um cabo eleitoral
imprescindível à direita, mesmo impedido de concorrer por decisão da Justiça.
À falta do que fazer, fustiga Tarcísio de Freitas, que tem mais a fazer. Precisa
governar São Paulo, cujos problemas não são poucos nem pequenos. Já ao
ex-presidente sobra tempo livre para cavar espaço no noticiário político.
Apenas se antagonizar ao presidente da República já não rende, sendo a
recíproca verdadeira. Para Luiz Inácio
da Silva também é ativo gasto. Por isso o ex-presidente
resolveu fazer algo que é notícia pelo inusitado da coisa: afetar contrariedade
com o governador que ajudou a eleger.
Brigar com aliado chama mais atenção do que
combater o adversário. Bolsonaro decidiu apostar alto quando disse que a
relação com Tarcísio não "andava bem". Por quê? Relação civilizada
com o governo federal, apoio à Reforma
Tributária e atitudes não condizentes com o bolsonarismo-raiz.
Tarcísio faz gestos para adoçar a boca dos radicais como quando anistia multas
da pandemia ou presta absurda homenagem a Erasmo Dias em obra pública.
Perfumarias insuficientes para aplacar a saudade que Bolsonaro tem da ribalta e
por isso precisa criar caso, como criou com a ciência, com a China, com
jornalistas, com o STF, com a legislação ambiental e com o próprio vice, Hamilton Mourão.
Por mais que Bolsonaro provoque em busca de reação, marcar posição na toada da
extrema direita não interessa a Tarcísio, cujo plano é outro: entregar uma boa
administração de São Paulo e se reeleger em 2026, a fim de concorrer em 2030 na
defesa dos ideais da direita. Algo mais civilizado que os anseios saudosistas
de um cacique anacrônico em busca da relevância perdida.
É.
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