domingo, 5 de novembro de 2023

Eliane Cantanhêde - GLO, mas com o Exército bem longe

O Estado de S. Paulo

O pacote contra a violência no Rio é para valer, ou mera satisfação ao digníssimo público?

Juntou a fome com a vontade de comer, porque nem o presidente Lula admitia decretar GLO para o Exército no Rio nem o Exército queria GLO numa hora dessas. Foi assim que o pacote contra a violência saiu, como antecipado aqui na coluna, em 26/10, com um típico jeitinho brasileiro: as Forças Armadas entram na guerra contra milícias e organizações criminosas, mas com limites, cautelas e, principalmente, um bom discurso de marketing.

Escaldado pela tentativa de golpe de 8 de janeiro, que teve participação direta ou apoio subliminar de variadas patentes, Lula não quis naquele dia e continua sem querer ouvir falar de GLO, muito menos de militares subindo morros, de fuzis em punho, com tanques nas ruas. O erro dele, mais uma vez, foi falar demais e na hora errada sobre temas sensíveis e depois ser obrigado a recuar.

“Enquanto eu for presidente, não vai ter GLO”, disse a jornalistas, cheio de autoridade. Cinco dias depois, o governo anunciou... GLO no Rio, mas só para Marinha e Aeronáutica. Ao contrário de dobrar a aposta, como fez contra o déficit zero e contra o próprio Fernando Haddad, da Fazenda, Lula voltou atrás e liberou a GLO, mas não para o Exército.

Se o presidente era contra GLO, imaginem o próprio Exército, com tantos militares na mira de STF, PF e CPMI, um general da ativa considerado o pior ministro da Saúde da história, um tenente-coronel da ativa metido em venda ilegal de joias no exterior, atestados falsos de vacina e minutas de golpe de Estado.

E mais: armas de grande alcance indo parar na bandidagem e a PF mirando em generais por desvios justamente durante a intervenção na Segurança Pública no Rio sob comando de um general da ativa.

É hora de GLO de novo, logo no Rio? Definitivamente não. Por isso, a GLO vale para a FAB atuar como polícia nos aeroportos de Guarulhos e Galeão e a Marinha nos portos de Santos, Rio e Itaguaí. O Exército fica bem longe, numa faixa de até 150 quilômetros nas fronteiras de Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por onde entram e saem drogas, armas, contrabando e criminosos. E com base na Lei Complementar 97, de 1999, não na GLO.

A expectativa para o pacote é baixa e a avaliação é de que não passa de uma satisfação para a opinião pública. Mas o governo Lula não tinha alternativa. Cruzar os braços? Fingir que não tem nada acontecendo? Agora, é cuidar para não trazer a responsabilidade e a solução do problema para Brasília, muito menos para dentro do Planalto. Segurança Pública é atribuição dos Estados. O atual governador Cláudio Castro não pariu Matheus, mas ele que o embale.

 

 

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