terça-feira, 21 de novembro de 2023

Eliane Cantanhêde - Motosserra na Argentina

O Estado de S. Paulo

Um perigo para a Argentina, Milei forma com Bolsonaro e Trump um trio contra a democracia

O que começa errado tende a dar errado até o fim e este é o caso, não só da eleição do anarcocapitalista Javier Milei na Argentina como também das relações entre Milei e Lula. Se fosse só entre os dois, problema deles. Como é entre os dois principais países do Mercosul, estão em jogo as relações bilaterais, a sobrevivência do bloco, o acordo com a União Europeia (EU), o equilíbrio do Cone Sul e as relações com o resto do mundo.

Milei foi eleito com mais de 10 pontos, às vésperas de três eventos nesta semana em Brasília. Primeiro, o anúncio Mercosul-UE e a reunião 12 X 12, entre os ministros de Defesa e de Relações Exteriores dos 12 países da América do Sul. Como Milei ameaça retirar a Argentina do Mercosul, imaginem o climão.

O terceiro evento é uma reunião de chanceleres dos oito países amazônicos (incluindo Guiana e Suriname) e um dos símbolos da campanha de Milei foi... uma motosserra! Ok, era para simbolizar corte nos gastos públicos, mas remete a ambiente, clima, florestas, essas “bobagens” que a extrema direita despreza como “coisa de comunista”.

Na campanha, Milei xingava Lula justamente de “ladrão” e “comunista”, enquanto o PT e os marqueteiros de Lula se embolavam com o agora derrotado Sérgio Massa, peronista. O peronismo perdeu, Lula e o Brasil perderam juntos. Mas houve quem ganhasse: Jair Bolsonaro, amigão de Donald Trump e de Milei, num trio do barulho contra a democracia.

Antes da eleição, Lula fez um apelo genérico ao “voto democrático” e, no dia, Janja postou um abraço entre a argentina Mafalda e a brasileira Monica, com uma provocação: “que Massa esse abraço!”. Infantil e desnecessário. E agora? Milei já anunciou que, rompendo a tradição, suas primeiras viagens serão a EUA e Israel, não ao Brasil. E Lula não deve ir à posse, abrindo espaço para um brilhareco de Bolsonaro na região.

Anunciado o resultado, o presidente brasileiro, pelas redes, desejou “sorte e sucesso” ao novo governo, sem incluir o nome de Milei. No dia seguinte, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, avisou que Lula não vai telefonar para cumprimentar Milei, o que é diplomaticamente obrigatório, até que ele peça desculpas pelos xingamentos. Então, parece que, além de não ir à posse, não vai ligar nunca...

Com suas bandeiras delirantes, Milei é um evidente perigo para uma Argentina já tão combalida e joga seu país contra o Brasil, traz o fantasma da extrema direita de volta e dá a Lula um problemaço para o presente e uma ameaça para o futuro. Milei na Argentina, Trump na frente das pesquisas nos EUA e o Brasil dividido ao meio. Como ficam Bolsonaro e o bolsonarismo?

 

Um comentário: