Valor Econômico
Manutenção da meta de déficit zero em 2024 e
limite de R$ 23 bilhões para contingenciamento podem resultar em aperto mais
forte nas contas em 2025 e 2026
Muita água ainda vai rolar sob a ponte, mas o
“combo” formado pela manutenção da meta de déficit zero em 2024 e, ao mesmo
tempo, uma limitação de R$ 23 bilhões para contingenciar despesas pode ser bem
indigesto para a ala do governo que luta contra a contenção das despesas. A
resultante pode ser um aperto mais forte nas contas de 2025 e em 2026.
É o que se pode depreender da resposta dada pelo secretário de Orçamento Federal, Paulo Bijos, ao ser questionado se a promessa de contingenciar no máximo R$ 23 bilhões não resultaria numa limitação de despesas menor do que a necessária para atingir a meta.
“Se houver, eventualmente, uma frustração no
cumprimento da meta de 2024, da meta zero, há consequências perenes implícitas
no arcabouço”, disse.
A primeira delas diz respeito ao ritmo de
crescimento do limite de despesas no ano seguinte. Passaria a ser de 50% do
crescimento das receitas, e não 70%. Ou seja, haveria uma desaceleração. O
segundo é o acionamento de “gatilhos” para cortar despesas, que teriam impacto
em 2025 e 2026. Entre eles, está a proibição de criação de cargos ou alteração
de estrutura na carreira dos servidores que implique em aumento de despesas, o
estabelecimento de novas despesas obrigatórias.
Há outras questões não respondidas. Por
exemplo: se a opção for por uma mudança da meta, o que aconteceria com os
objetivos estabelecidos para os anos seguintes..
Uma eventual alteração da meta ou limitação
do contingenciamento, disse o secretário, não afeta a nova regra fiscal. “A
meta fiscal não é, como se diz equivocadamente, um componente do arcabouço”,
disse.
Uma coisa é o arcabouço, regulado pela Lei
Complementar 200, e outra são as metas, fixadas anualmente na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO). A limitação do contingenciamento em R$ 23 bilhões caminha
para ser incluída na LDO de 2024.
Essa limitação do contingenciamento se baseia
em um ponto do arcabouço, o que estabelece um piso mínimo para o crescimento
das despesas de um ano para outro. Esse limite é de 0,6%, considerado
suficiente para fazer frente ao crescimento vegetativo da população.
A interpretação é criticada por alguns
especialistas, para quem o limite mínimo de 0,6% serviria para balizar a
elaboração do Orçamento, mas não necessariamente sua execução. Ou seja, é um
limite para a autorização do gasto, e não para o gasto propriamente dito - que
pode ser diferente.
Bijos e o secretário do Tesouro Nacional,
Rogério Ceron, se alinharam na defesa da tese que o mínimo de 0,6% deve ser
observado para garantir o caráter anticíclico do arcabouço. Um mecanismo para
proteger as políticas públicas em cenários econômicos adversos. Essa
interpretação foi fortalecida por parecer elaborado pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional (PGFN).
A equipe econômica seguirá comprometida com o
déficit zero em 2024, disse Ceron. Todas as medidas estão sendo tomadas,
frisou.
Por enquanto, a área econômica conseguiu
delimitar os debates em torno da meta fiscal e apartá-los do arcabouço. No ano
que vem, o tensionamento entre as regras fiscais e os planos do governo em ano
eleitoral deve se acentuar. O novo arcabouço fiscal passará por um duro teste
logo na estreia.
Lendo e aprendendo com a oriental.
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