segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Lygia Maria - Ministério da Ignorância

Folha de S. Paulo

Festival de besteira sobre língua e racismo provoca riso e não contribui para a diminuição de desigualdades

Em seu Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País), lançado em 1966, o jornalista Sérgio Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, criou um sofisticado mecanismo de humor que se baseava na reprodução de notícias com falas e atos de autoridades que, de tão absurdos, sequer precisavam de comentário para fazerem rir.

De lá para cá, o festival tornou-se uma tradição nacional celebrada tanto na direita como na esquerda. Jair Bolsonaro (PL) disse que o peixe, por ser inteligente, foge da mancha de petróleo; já Dilma Rousseff (PT) elogiou as "mulheres sapiens" enquanto saudava a mandioca.

Na última semana, a ministra da Igualdade Racial deu sua contribuição para o Febeapá, ao dizer que o termo "buraco negro" é racista. E foi além. Anielle Franco disse que usa "escurecer" no lugar de "esclarecer" para causar incômodo e, assim, fazer com que pessoas brancas percebam que há palavras racistas.

Ora, ministra, "buraco negro" e "esclarecer" não têm nada a ver com raça, mas sim com luminosidade. Um é objeto astronômico que suga tudo a sua volta, inclusive a luz; o outro é termo que significa iluminar para ver ou entender melhor.

É preciso deixar claro: não existe palavra racista a priori. Os significados das palavras se constituem a partir de interações em atos de fala, com contextos e interlocutores específicos. O termo "macaco", que designa um tipo de primata, pode ser racista quando proferido num estádio de futebol para um jogador negro. Já em relação a "esclarecer" e "buraco negro", sequer há evidência empírica de uso racista.

A ministra fala da importância de um suposto "letramento racial" num país no qual mais da metade das crianças no 2º ano letivo não estão alfabetizadas, segundo o MEC.

Em vez de respaldar um festival de besteiras sobre linguística, o ministério deveria propor e cobrar ações pragmáticas, baseadas em evidências, que de fato contribuam para a diminuição da desigualdade social, que afeta sobretudo a população negra.

7 comentários:

  1. A Folha insiste em desperdiçar espaço e tinta com esta coitada.

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  2. Eu sou de esquerda e adorei o artigo.

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  3. Adoro quando criticam as bobagens da minha esquerda.

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    1. Bravo!
      Bravo!
      Muito Bom! Muito Bom!
      Clac! Clac! Clac! Clac!

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  4. ■Eu, de minha parte, adoro ler quem pensa diferente de mim, quando fundamentam o que escrevem.
    ▪Gosto de muitos textos desta Lygia Maria*.

    Eu, que não sou nem de direita, nem de centro e que me recuso a rotular a minha visão como "de esquerda", embora para efeito didático eu seria isto: esquerda (e o que vem sendo convencionado no Brasil como esquerda eu não entendo que o seja), prefiro ler quem discorda de mim, quando ele fundamenta. Quando quem escreve é alguém de quem discordo e ele vem com ideologismos ou insistindo com propostas que a realidade rejeitou, eu deixo o texto dele de lado ou busco refletir o que discordo no texto e como penso a questão.

    ■Já quando o texto é de alguém com quem eu tenderia a concordar e o texto dele, no entanto, vem com ideologismos para servir de argumento de justificação dos erros que deveriam ser reconhecidos ou com afirmações infundadas, estes textos eu só posso lamentar e não endosso.
    ▪Claro que é muito bom ler textos que concordam com o que a gente pensa, mas não quando estes textos servem para afirmar nossos equívocos, nosso vies ideológico e nos levar ao autoengano.

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    1. *Observo que da mesma Lygia Maria de quem leio vários textos com os quais concordo e gosto, da mesma Lygia Maria me deparo com textos bem carregados de ideologismos, textos esses que deixo de lado.

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  5. GuilvanMelo insiste em gastar espaço com Daniel, um coitado.

    MAM

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