Folha de S. Paulo
Dados de serviços, comércio e indústria
indicam terceiro trimestre fraco, mas há saídas
A economia brasileira desaqueceu
no terceiro trimestre, a julgar pelos dados disponíveis. Não parece
dramático nem imprevisto. Há até fumaça de possíveis boas notícias. Mas parece
que o tempo do PIB,
ao menos, esfriou.
Quanto a sinais de alívio, ressurgiu a perspectiva de que o aperto financeiro (juros altos etc.) nos Estados Unidos pare por aqui, dada a queda da inflação deles. Faz mais de ano, o humor com os EUA tem variado muito, com paniquitos e pequenas euforias, como a desta terça-feira. Mas a perspectiva agora é mais benigna, embora um nível mais alto de juros no mundo ainda seja a expectativa para os próximos anos, o que nos afeta também (taxas maiores aqui, menos influxo de capital etc.).
Dá para melhorar, com remédio caseiro.
Aprovar a reforma
tributária. Não chutar o pau da barraca, que é a meta fiscal, meta que
sustenta um arcabouço fiscal meio fraquinho. Ter um plano inteligente de
desenvolvimento "verde".
E daí que se derramou o leite do terceiro
trimestre? Dá para pensar no que fazer, no curto prazo, e principalmente no que
NÃO fazer, como se sugere mais acima.
O setor de serviços cresceu 0,4% no terceiro
trimestre em relação ao anterior, quando crescera 0,5%. Poderia ser o bastante
para manter o PIB no azul, excluído o desempenho da agropecuária, que tende a
vir no vermelho —e
corre risco com um El Niño e uma El Niña na sequência. As vendas do
comércio não cresceram (houve alta de 1,7% no trimestre anterior). A produção
da indústria também ficou estagnada (alta de 0,4% no segundo trimestre). São
contas feitas com base nos dados do IBGE. Os números não são tão completos
quanto os do PIB, que será divulgado em 5 de dezembro, note-se.
O total de salários ("massa de
rendimentos") ainda cresce. Mas taxas de juros bancários altas, ora caindo
mui ligeiramente, complicaram vendas de bens duráveis, que dependem de crédito.
O crédito, no caso o total de dinheiro
emprestado via bancos, anda de lado, se tanto. Mas a inadimplência das pessoas
físicas tem caído faz alguns meses, de leve. O desemprego continua baixo, em
termos históricos, e salários não têm pressionado a inflação, aparentemente
crescendo abaixo da produtividade.
Mais preocupante é a queda do investimento,
as despesas em novas máquinas, equipamentos e em construção civil. O instituto
federal de pesquisa econômica, o Ipea, tem um indicador de desempenho do
investimento, "formação bruta de capital fixo". No trimestre
encerrado em agosto, dado mais recente, caiu 2,7% (depois de baixa de 0,2% no
trimestre até julho e quase estagnação no trimestre até junho).
Juros altos, bidu, e incerteza quanto à
economia doméstica e internacional fizeram estrago.
Quanto aos ânimos das empresas, parece ter
havido alguma melhora a partir de junho, ao menos a julgar pelas captações no
mercado de capitais. São empréstimos via títulos de dívida, como debêntures, e
venda de ações, grosso modo; é dinheiro usado em capital de giro, investimento,
melhora da dívida etc.
O ano havia sido horrível até maio, com média
mensal de captação de R$ 21,5 bilhões, graças ao efeito de trambiques como o
das Americanas, entre outros problemas em empresas, e por causa da taxa de
juros, claro. De junho a setembro, a captação média mensal foi a R$ 45,8
bilhões. Os dados são da Anbima.
Ainda se está muito longe dos anos de 2019 a
2022, alguns muito excepcionais, decerto. Quanto a novas ofertas de vendas de
novas ações ("IPOs"), a seca continua, mistura de incerteza com ações
valendo pouco.
Trata-se aqui apenas de curto prazo, do
período daqui a um ano. Trata-se do jogo, não do campeonato. Dá para virar a
partida. Mais importante é não fazer gol contra.
''2019 a 2022'',triste memória,diga-se.
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