quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Vinicius Torres Freire - A economia esfriou, mas tem como virar o jogo

Folha de S. Paulo

Dados de serviços, comércio e indústria indicam terceiro trimestre fraco, mas há saídas

economia brasileira desaqueceu no terceiro trimestre, a julgar pelos dados disponíveis. Não parece dramático nem imprevisto. Há até fumaça de possíveis boas notícias. Mas parece que o tempo do PIB, ao menos, esfriou.

Quanto a sinais de alívio, ressurgiu a perspectiva de que o aperto financeiro (juros altos etc.) nos Estados Unidos pare por aqui, dada a queda da inflação deles. Faz mais de ano, o humor com os EUA tem variado muito, com paniquitos e pequenas euforias, como a desta terça-feira. Mas a perspectiva agora é mais benigna, embora um nível mais alto de juros no mundo ainda seja a expectativa para os próximos anos, o que nos afeta também (taxas maiores aqui, menos influxo de capital etc.).

Dá para melhorar, com remédio caseiro. Aprovar a reforma tributária. Não chutar o pau da barraca, que é a meta fiscal, meta que sustenta um arcabouço fiscal meio fraquinho. Ter um plano inteligente de desenvolvimento "verde".

E daí que se derramou o leite do terceiro trimestre? Dá para pensar no que fazer, no curto prazo, e principalmente no que NÃO fazer, como se sugere mais acima.

O setor de serviços cresceu 0,4% no terceiro trimestre em relação ao anterior, quando crescera 0,5%. Poderia ser o bastante para manter o PIB no azul, excluído o desempenho da agropecuária, que tende a vir no vermelho —e corre risco com um El Niño e uma El Niña na sequência. As vendas do comércio não cresceram (houve alta de 1,7% no trimestre anterior). A produção da indústria também ficou estagnada (alta de 0,4% no segundo trimestre). São contas feitas com base nos dados do IBGE. Os números não são tão completos quanto os do PIB, que será divulgado em 5 de dezembro, note-se.

O total de salários ("massa de rendimentos") ainda cresce. Mas taxas de juros bancários altas, ora caindo mui ligeiramente, complicaram vendas de bens duráveis, que dependem de crédito.

O crédito, no caso o total de dinheiro emprestado via bancos, anda de lado, se tanto. Mas a inadimplência das pessoas físicas tem caído faz alguns meses, de leve. O desemprego continua baixo, em termos históricos, e salários não têm pressionado a inflação, aparentemente crescendo abaixo da produtividade.

Mais preocupante é a queda do investimento, as despesas em novas máquinas, equipamentos e em construção civil. O instituto federal de pesquisa econômica, o Ipea, tem um indicador de desempenho do investimento, "formação bruta de capital fixo". No trimestre encerrado em agosto, dado mais recente, caiu 2,7% (depois de baixa de 0,2% no trimestre até julho e quase estagnação no trimestre até junho).

Juros altos, bidu, e incerteza quanto à economia doméstica e internacional fizeram estrago.

Quanto aos ânimos das empresas, parece ter havido alguma melhora a partir de junho, ao menos a julgar pelas captações no mercado de capitais. São empréstimos via títulos de dívida, como debêntures, e venda de ações, grosso modo; é dinheiro usado em capital de giro, investimento, melhora da dívida etc.

O ano havia sido horrível até maio, com média mensal de captação de R$ 21,5 bilhões, graças ao efeito de trambiques como o das Americanas, entre outros problemas em empresas, e por causa da taxa de juros, claro. De junho a setembro, a captação média mensal foi a R$ 45,8 bilhões. Os dados são da Anbima.

Ainda se está muito longe dos anos de 2019 a 2022, alguns muito excepcionais, decerto. Quanto a novas ofertas de vendas de novas ações ("IPOs"), a seca continua, mistura de incerteza com ações valendo pouco.

Trata-se aqui apenas de curto prazo, do período daqui a um ano. Trata-se do jogo, não do campeonato. Dá para virar a partida. Mais importante é não fazer gol contra.

 

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