O Estado de S. Paulo
Em seu terceiro mandato, Lula exibe
incapacidade decisória
A indecisão como método tem custado a Lula um
alto preço para governar. Além de piorar as expectativas de agentes econômicos
e o funcionamento de instituições como o STF e o Ministério Público.
Políticos de diversos partidos e integrantes
da cúpula do Judiciário e do MPF acham que a demora do presidente em encontrar
nomes para cargos, cumprir acertos políticos e definir diretrizes para
políticas públicas revela cálculos equivocados. E se traduz em incapacidade
decisória.
Exemplo recente foi a demora no timing em entregar ao Centrão a Caixa Econômica, que Lula sabia ser incontornável. Acabou atrasando a tramitação de pautas relevantes para a política econômica. Em especial as arrecadatórias, nas quais está concentrado todo o esforço do governo para “equilibrar” as contas públicas.
Ainda na economia Lula seguiu exclusivamente
seu instinto de que “gasto é vida” e protelou outra decisão que todos sabiam
inevitável, a de alterar a meta fiscal, com graves consequências para as
expectativas. Era inevitável, pois a fórmula para as contas públicas
pressupunha a missão impossível de alcançar em prazo curto o nível de receitas
necessário para o gasto público contratado ao qual Lula não renuncia.
A demora nas nomeações “políticas” com data
marcada há muito tempo, como a de um ministro para a vaga de Rosa
Weber no STF e para a sucessão de Augusto
Aras como PGR, exibe um Lula travado por enorme grau de desconfiança. Sobretudo
do funcionamento das duas instituições, que ele gostaria que se moldassem à sua
pessoa.
O resultado até aqui é acentuar a sensação de
insegurança em relação às duas instituições. No caso do STF, Lula reforçou nos
atuais ministros a convicção de que a indicação de um próximo para a vaga
aberta depende do comportamento “político” dos atuais.
Na questão do PGR a interinidade atual é um
problema institucional sério, apontam especialistas. A independência dessa
função depende da estabilidade de dois anos do ocupante do cargo, e um interino
pode ser removido a qualquer momento – Lula parece estar repetindo o que
Bolsonaro já havia tentado, que é um “test-drive” para PGR.
Em outro plano, a demora de Lula em atender a
pedidos de nomeação de diretores de agências reguladoras, feitos sobretudo pelo
presidente do Senado, deixa algumas em dificuldades para operar. E torna o
presidente ainda mais vulnerável na instância legislativa na qual a oposição ao
governo se organiza com mais facilidade do que na Câmara.
Deixar as coisas acontecerem para ver se elas
se resolvem por si é um tipo de decisão. Mas não parece que está ajudando Lula.
Sei.
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