Folha de S. Paulo
É inegável que esta é uma pátria construída
sobre os pilares da desigualdade
O Brasil não é um país de iguais. Aqui
tem pacto da branquitude, privilégio branco, colorismo, racismo,
machismo e meritocracia aplicada de maneira assimétrica. Tudo junto e
misturado.
As evidências estão no cotidiano, nas
pequenas atitudes do dia a dia, em decisões tomadas não só por um contingente
significativo de cidadãos, mas também pelo Estado (o que é ainda mais grave),
que deveria a todos representar, proteger e servir.
Apesar dos incontáveis esforços para reescrever o passado, é inegável que esta é uma pátria construída sobre os pilares da desigualdade. Forjada à base de exploração dos povos originários e de milhões de homens e mulheres escravizados e traficados do continente africano por colonizadores.
Nós, os descendentes dessa gente toda, temos
na diversidade de etnias, tradições e culturas uma de nossas características
marcantes. Contudo, formamos uma nação majoritariamente negra —56% da população é
autodeclarada preta ou parda, segundo o IBGE.
É o tipo de coisa que um gestor deve manter
em mente, se não pelas razões certas, ao menos pelo fato de que essa maioria já
se mostrou capaz de decidir os rumos da nação —sobretudo diante da promessa de
um governo inclusivo.
Vem daí a frustração com a nomeação de mais
um homem para compor o Supremo Tribunal Federal (independentemente dos saberes
do indicado), a despeito da toda a mobilização de movimentos sociais negros e entidades da
sociedade civil pela indicação de uma mulher negra para a vaga.
Uma ilustre figura da República disse
recentemente que "não é com campanha pública que se faz um ministro do
STF". Estava certa. Tanto que o presidente optou por diminuir a já risível participação feminina na composição da corte.
Restou uma mulher. Na minha terra natal, um comercial de supermercado lembrava
que "a vida é feita de escolhas". Algumas custam caro... A conferir o
preço de pegar a contramão da história.
Não foi desta vez.
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