O Globo
Filiação de apresentador para ser vice de
Tabata é novo retrato da barafunda partidária
José Luiz Datena começou o ano no PSC,
celebrou a Páscoa no PDT e vai passar o Natal no PSB. O apresentador nunca
disputou uma eleição, mas já está no décimo partido. A cada troca de sigla, é
bajulado por novos políticos de olho em sua popularidade na TV.
Nos últimos anos, o comunicador ensaiou se
candidatar a presidente, vice-presidente, senador e prefeito de São Paulo.
Agora promete concorrer a vice-prefeito na chapa da deputada Tabata Amaral.
No ato de filiação, ele falou muito de si
mesmo e pouco dos problemas paulistanos. “Eu não desisti da política. A
política é que desistiu de mim”, gracejou, antes que alguém questionasse seu
vaivém partidário.
Datena esteve no PT de Lula, no PP de Maluf e no PSL de Bolsonaro. Ao assinar a ficha do PSB, mostrou pouca afinidade com o ideário socialista. “Não há que ter luta de classes”, arriscou. Faltou ler o estatuto do partido, que menciona duas vezes o conceito marxista.
Diante dos novos correligionários, o
apresentador forneceu uma amostra grátis de seu telepopulismo. “O dono do
Brasil é o povo brasileiro”, proclamou. “Somos um país que deu certo por causa
da miscigenação de raças”, prosseguiu. “Não precisa acreditar em Deus para ser
honesto”, emendou.
Ele também pontificou contra o extremismo e a
“imbecilidade da radicalização”. Nem parecia o personagem dócil que ia tomar
cafezinho no Alvorada enquanto Bolsonaro atacava o Judiciário e ameaçava
desrespeitar o resultado da eleição.
Datena é um expoente do sensacionalismo na
TV. Vive de narrar incêndios, enchentes, chacinas e perseguições policiais. Seu
ofício é transformar as tragédias de cada dia em pontos na guerra da audiência.
Quando a cidade vai bem, o programa vai mal.
Se não fosse uma farsa, sua aposta na política seria uma contradição. Cumprindo
o que promete no palanque, ele ficaria sem assunto para faturar na telinha.
A festa do PSB para receber Datena é mais um
retrato da nossa barafunda partidária. No Brasil, a extrema direita manda no
Partido Liberal e o fisiologismo domina o Partido Progressista. Ninguém deveria
se espantar com um sensacionalista no Partido Socialista.
Pois é.
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