Folha de S. Paulo
Decisão de voto criou identidades baseadas em
candidatos e afetou até sensação de bem-estar
Se um eleitor de Jair
Bolsonaro resolver falar de economia durante a ceia de Natal, é muito
provável que ele diga que o governo faz um trabalho ruim ou péssimo. Nesse
grupo, duas em cada três pessoas têm uma avaliação negativa da gestão de Lula na área,
segundo o Datafolha.
O mesmo vale se o tema for combate à miséria ou ao desemprego.
O voto na eleição anterior é o marcador mais tradicional das opiniões sobre um governo. Em grande parte dos casos, um brasileiro de baixa renda que votou no candidato derrotado terá uma avaliação pior sobre a economia do que o brasileiro de baixa renda que ajudou a eleger o presidente, mesmo que as experiências dos dois sejam idênticas.
As divisões do ciclo político atual deram um
peso extra ao fator voto nos julgamentos sobre o desempenho de um governo. Uma
larga fatia de eleitores se encastelou em identidades determinadas por essas
escolhas, se aferrou às plataformas defendidas por seus candidatos e se tornou
menos permeável a avaliações baseadas em resultados.
Em alguma medida, essa filiação afeta até
mesmo considerações que o eleitor faz sobre
sua própria sensação de bem-estar. Só 16% dos bolsonaristas dizem que sua
situação econômica melhorou nos últimos seis meses, e 43% dizem que piorou.
Entre lulistas, 55% veem uma situação mais favorável, e apenas 10% apontam para
um quadro pior.
A distorção aparece de forma acentuada entre
oposicionistas, mas o cenário de polarização também tem efeito sobre eleitores
de Lula. Neste segmento, algumas das áreas com melhor avaliação positiva são
aquelas em que o governo representa uma virada em relação a Bolsonaro: cultura
(64%), ciência e tecnologia (59%) e relações exteriores (58%).
A diferença é que eleitores que votaram em
Lula parecem menos generosos em
temas considerados sensíveis (e aí está um perigo para o governo). Um
em cada três deles acha que o governo vai mal na saúde (32%), na segurança
pública (31%) e no combate à corrupção (34%).
Melhorou em todas as áreas.
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