O Globo
O parlamentarismo orçamentário banca a
autonomia pervertida do Congresso — ponta de uma cadeia de disfunções que mina
o arranjo entre Poderes e faz erodir o equilíbrio da República
A Lei de Diretrizes Orçamentárias, conforme
relatório aprovado na comissão mista, é categórica: o parlamentarismo
orçamentário — fiador da autonomia pervertida do Congresso — vige no Brasil;
ponta de uma cadeia de disfunções que mina o arranjo entre Poderes e faz erodir
o equilíbrio da República.
Governo desapetrechado, que faz acordo — ode
à fragilidade — para ter ainda menos instrumentos de negociação. Congresso — o
imperador Lira — governante, que extrai do Planalto pacto informal para que a
nova fachada do orçamento secreto, a emenda de comissão, não seja
contingenciada. (Para aprovar os projetos arrecadatórios de Haddad, ora, o
compromisso por mais gastos de bloqueio interditado.) Corte Constitucional
rebatedora, com sua deturpação proativa sendo açulada — para frear o Parlamento
— pelo mesmo governo que cede à concentração de poder parlamentar.
Não virá para tanto — a ser líder de Lula no
STF — o senador Flávio Dino? Mais um agente político no tribunal — zelador dos
trânsitos antes de guardião da Constituição.
O efeito dominó agravador dos vícios institucionais. Governo fraco, desprovido de meios, que admite a fraqueza e a enfrenta apostando na doença. (Se o gênio xandônico não volta mais à lâmpada, que haja — é a pretensão — um Xandão para chamar de meu.) Congresso forte que concentra poder em poucos alcolumbres. Supremo convidado — provocado — a legislar sobre o legislado; a avançar sobre o legislado. O espírito do tempo é autoritário.
O Parlamento ganha musculatura — existência
executiva informal — ao se ordenar gestor de fundos orçamentários cada vez
maiores e menos dependentes dos controles de tempo do Executivo. Uma
autodeterminação viciada — para a qual colaboraram sucessivos governos — que,
esvaziando os termos da negociação política e depauperando o Planalto de turno,
contribui para a hipertrofia do já mui expandido Supremo Tribunal Federal.
O volume obrigatório de emendas parlamentares
crescentes e a manutenção, sob fachadas cambiantes, do sistema operacional —
opaco e autoritário — do orçamento secreto definem a inexistência de base
legislativa de apoio a governo no Brasil. O ministro Alexandre Padilha e os
líderes governistas no Congresso podem discursar sobre a formação da maioria
que, afinal, aprovou a reforma tributária. É do jogo.
A verdade consistindo em o Lirão apresentar —
a cada votação de interesse — custo de administração pesado (e de carga
progressiva) pela reunião episódica dos votos necessários; e para além dos
necessários, aquela vitória robusta, com que se demonstra força. Força de quem?
O Parlamento, reduzido a seus poucos donos, que controla vultosos fundos
orçamentários — restritos os mecanismos do governo para negociar com as
liberações de emendas —, tem a independência corrompida, pois achacadora, de só
formar as maiorias circunstanciais se com mais dinheiros e codevasfs.
Desmobilizadas as estruturas de lideranças
partidárias, ademais grassando a impositividade (formal e informal) das emendas
parlamentares, poder concentrado em Lira e seus elmares, a base é de apoio ao
Lirão autossuficiente. (Arthur Lira é alguém que não se move, senão para
concentrar ainda mais poder em si.) Vitória de quem? Donde o governo — fraco
para todo lado — a investir no STF como espécie de terceiro turno da atividade
legislativa. Dino indicado a ser um facilitador-geral do Planalto no tribunal.
O senador, ministro de Estado, a ser ministro
do Supremo, tem clareza sobre o que será, ainda que deturpando — não estará
sozinho — a natureza da função, incapaz de diferençar o que afirma discernir:
— Sei distinguir o que é o papel de um juiz e
de um político. Se tiver a honra de receber a aprovação [estava em campanha no
Senado], levarei comigo esse compromisso de ser um guardião e um facilitador do
diálogo entre os Poderes.
Mais um togado monocrata — comunista ou não —
para mediar o ritmo dos interesses políticos a partir (em defesa) da agenda do
governo. Repito: Dino foi indicado ao Supremo rebatedor para rebater — também
internamente — pelo Planalto. Um desenvolvimento de Lewandowski. O STF
compreendido como agência política e desejado como ente associado-aliado —
atraído a ocupar espaços em que já atua com fluência.
Lula a convidar ministros do Supremo para
confraternização (oi!?) em que — informa este GLOBO — se discutirá a relação
com o Congresso. Isso não é normal.
Descreve-se aqui um conjunto de degradações —
o sucateamento — da República que força a pressão pelo sistema
semipresidencialista. Em campanha também — muito à vontade para opinar sempre,
perdido o comedimento —, ministros do Supremo. Necessário sendo lembrar que o
primeiro-ministro seria Lira. O cínico a advertir: mera formalização.
Excepcional!
ResponderExcluirPerfeito!
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