sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Celso Ming - Fim de ciclo dos juros e virada global?

O Estado de S. Paulo

Foi só o presidente do Banco Central dos Estados Unidos (o Fed), Jerome Powell, sugerir estar próximo por lá o fim do ciclo dos juros altos para que os mercados mudassem seu jogo.

Antes, estavam encolhidos, com medo de que a economia global mergulhasse na recessão. Desde a última quarta-feira, no entanto, investidores e agentes financeiros saíram das suas tocas, os juros praticados no mercado futuro caíram, as cotações do petróleo, que haviam mergulhado, voltaram a empinar, as bolsas ensaiaram um rali e as aplicações de risco ganharam fôlego.

O pouso suave ainda não está garantido, os preços dos serviços nas economias avançadas continuam subindo mais do que a inflação. Mas as condições globais parecem melhorar.

Os grandes bancos centrais tiveram de puxar os juros para cima para combater uma renitente inflação. Esse forte aumento de preços globais foi provocado não apenas porque a pandemia desorganizou os fluxos comerciais e elevou os custos de produção. Foi provocado principalmente pelo enorme despejo de moeda pelos governos e pelos bancos centrais a fim de combater a paradeira. Agora, chegam acenos importantes do Fed e do Banco Central Europeu que apontam para o fim da secura.

Se a gradual redução dos juros se confirmar nas principais economias, o Brasil poderá ser beneficiado. O maior apetite por tomadas de risco deverá despachar mais capitais para cá. Quando houver boa recuperação da atividade econômica, aumentará também a demanda por produtos brasileiros de exportação, especialmente commodities, como grãos, minério de ferro e petróleo.

Com a queda dos juros nos países avançados, será reduzida a incerteza que até agora vinha prejudicando a economia brasileira. Há apenas 12 meses, o índice de risco medido pelo adicional sobre juros (CDS5) cobrado lá fora pelos títulos do Tesouro do Brasil era de 241 pontos (ou 2,4 pontos porcentuais) acima dos juros pagos pelos títulos do Tesouro americano. Ontem, fechou abaixo dos 140 pontos.

O nível de incerteza global ainda persiste. Os Estados Unidos estão atolados em dívidas e continuam gastando neste ano de eleições. A economia da União Europeia segue patinando e a China ainda não resolveu seus problemas internos, especialmente a encalacrada em que está metido seu setor imobiliário. Mas o astral geral está mais para a confiança do que para o desânimo.

Enfim, pode estar a caminho mais uma temporada de bonanza de que o governo Lula pode tirar proveito, desde que não faça besteiras e desde que leve a sério políticas que garantam o equilíbrio das contas públicas.

 

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