Folha de S. Paulo
Teatral como todas, sabatina de Flávio Dino
promete um circo de louvores e horrores
As sabatinas no Senado talvez
tenham tido importância algum dia, mas nos dias que me lembro de tê-las visto
não tiveram relevância alguma para a aprovação de indicados ao Supremo Tribunal Federal.
Prova disso é a manifestação antecipada de
votos (vejam, são secretos) antes mesmo de os candidatos ao posto se sentarem
na Comissão de Constituição e Justiça para um ato que se presta mais a
homenagens dos presumidos julgados aos que serão seus eventuais julgadores do
que a um escrutínio sério.
Nessa trajetória houve episódios particularmente vergonhosos, como quando da indicação da primeira mulher ao STF, Ellen Gracie. Senadores gastaram muito tempo, saliva e machismo na celebração da beleza da candidata.
No caso presente de Flávio Dino,
às exaltações se somarão as provocações —prevê-se, insultuosas— por parte de
uma oposição desinteressada de aquilatar o saber político do inquirido e
interessada em descredenciá-lo por força de seu poder político.
O que se avizinha não é uma sabatina, é um
circo de horrores e louvores. Mas, como o que é ruim sempre pode piorar, o
presidente da CCJ, Davi
Alcolumbre (União-AP), teve uma ideia: juntar Dino e o indicado
para a Procuradoria-Geral, Paulo Gonet,
na mesma sessão alegadamente
a fim de agilizar os trabalhos.
Além de inédita para os cargos em questão, a
proposta é ardilosa, de resultado improdutivo e, por isso, ruinoso. Caso
prospere, teremos uma salada indigesta patrocinada pelo intuito de usar a
atmosfera de aceitação a Gonet para aplacar o clima de rejeição a Dino.
Ciosos que são de suas prerrogativas,
empenhados que estão em impor balizas ao funcionamento do tribunal (algumas
justas, mas nem todas), os parlamentares fariam um bem maior à própria
autonomia se abandonassem a cenografia e abraçassem as sabatinas como
instrumento de avaliação real dos predicados dos postulantes a guardiões da
Constituição.
Curto,simples e direto.
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