O Estado de S. Paulo
Desafio do governo em 2024 é repetir 2023 e superar as previsões negativas
O ano de 2023 acabou melhor do que começou,
mas os desafios de 2024 não serão fáceis para o mundo, a América Latina e o
Brasil, que resistiu bem às ameaças de golpe de Estado, surpreendeu
positivamente na economia, recuperou parceiros fundamentais na política externa
e, agora, precisa jogar toda sua energia para enfrentar problemas estruturais e
algo que só vem piorando: as tensões na América do Sul e o desequilíbrio entre
Executivo, Legislativo e Judiciário.
Ucrânia e Faixa de Gaza viram escombros e a ONU confirma sua irrelevância, num ambiente que frustrou as expectativas do presidente Lula para sua atuação internacional. Em 2023, ele passou 62 dias fora, em 24 países de todos os continentes, e teve sucesso ao normalizar as relações com o resto do mundo, mas derrapou em gestos e declarações de cunho ideológico – portanto, pouco diplomáticas – e acabou muito distante do protagonismo sonhado.
Em 2024, o Brasil tem a presidência do G-20,
grupo das maiores economias mundiais, e do banco dos Brics, agora ampliados,
além de se preparar para sediar a COP-30, em 2025. Mas, se Ucrânia e Gaza estão
muito longe, Guiana e Argentina são aqui e estão em perigo. Uma, ameaçada pelo
já autocrata Maduro e outra, pelo potencial autocrata Milei. O Brasil é
periférico na geopolítica internacional, mas é líder na América do Sul.
Na economia, o desafio é superar as previsões
negativas, como em 2023. Não será fácil e já começa com o déficit zero no
centro da disputa virtualmente perdida pela reoneração da folha de pagamento,
entre o governo, com Fernando Haddad na linha de frente, e o Congresso, com
Rodrigo Pacheco na defesa. A aposta é que ele devolva para o Executivo a MP
sobre a folha, sem votação e com apoio político, jurídico e empresarial. Em
2015, o Senado devolveu para o governo Dilma Rousseff uma MP sobre o mesmo
tema.
Os ânimos entre Congresso, governo e Supremo
já estão acirrados por outras questões, como marco temporal das terras
indígenas, intervenção do Legislativo no funcionamento do Supremo, e
vice-versa, além das medidas econômicas de Haddad, como a própria aritmética
fiscal e a segunda fase da reforma tributária. O bolsonarismo sobrevive e o
Centrão tem a faca, o queijo e os votos nas mãos.
Quanto aos problemas estruturais, os três
Poderes têm de agir, mas a sociedade não pode lavar as mãos: a cruel
desigualdade social; índices inadmissíveis de criminalidade; avanço de milícias
e crime organizado sobre as instituições; deterioração do clima e do ambiente
que compromete o futuro da humanidade e do Brasil.
Feliz 2024!
Felicidades!
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