Folha de S. Paulo
Novo presidente começou evitando
radicalização, mas não tem para onde correr quando paciência do eleitorado
acabar
Uma característica comum entre Trump, Bolsonaro e Milei é
que, quando lançaram suas candidaturas presidenciais, não imaginavam que
poderiam ganhar. Eles surgiram como postulantes folclóricos, que entraram na
disputa para promover a própria imagem, a fim de satisfazer o ego (Trump) ou
cacifar-se politicamente para pleitos futuros (Bolsonaro e Milei). Como não
tinham nada a perder, levaram a retórica
antissistema ao paroxismo e fizeram promessas delirantes.
Trump foi errático e antissistema do primeiro ao último dia de seu mandato. Bolsonaro começou falando grosso, mas, ao primeiro sinal de dificuldades, entregou-se gostosamente ao centrão. Como se comportará Milei?
Sua primeira inflexão foi na direção
da moderação. Por imposições da realidade fática (não há dólares para a
dolarização) e política (nem sua coalizão original nem os grupos que o
abraçaram no segundo turno têm maioria congressual), ele pôs no freezer suas
ideias mais mirabolantes e passou a fazer gestos de conciliação para o mundaréu
de gente que atacara durante a campanha.
Vale observar que essa costumava ser a ordem
natural das coisas; candidatos davam-se aos arroubos retóricos durante a
disputa eleitoral mas, uma vez vitoriosos, faziam a famosa guinada ao centro.
De uns tempos para cá é que líderes populistas têm preferido entreter sua base
a governar.
O problema dos argentinos é que qualquer
saída para a encrenca econômica em que se meteram será extremamente penosa.
Mesmo que Milei faça tudo certo (o que parece improvável), resultados
demorariam a aparecer. Muito antes disso, ele se veria pressionado não só pela
oposição peronista como pelos próprios eleitores, e só teria o lado da
radicalização para correr. Argentinos são menos tolerantes que os brasileiros.
Na crise do "corralito" em
2001, ondas de protestos fizeram com que, no espaço de poucos dias, cinco
pessoas passassem pela Presidência do país.
Cai o rei de espada,cai o rei de ouro...
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