Correio Braziliense
Ao ressaltar as realizações de seu primeiro
ano de gestão, porém, foi vaiado e chamado de ladrão pelos deputados
bolsonaristas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi à
promulgação da Reforma Tributária no Congresso com dois objetivos: capitalizar
sua aprovação, depois de 30 anos debates, como o mais importante feito de seu
governo, e se aproximar mais do Congresso, com um discurso contra a
polarização, no qual destacou que governistas e oposicionistas são igualmente
representantes do país e querem o melhor para o povo. Foi muito aplaudido. Ao
ressaltar as realizações de seu primeiro ano de gestão, porém, foi vaiado e
chamado de ladrão pelos deputados bolsonaristas, o que gerou um bate-boca com
petistas, cujo desfecho foi um tapa desferido pelo deputado Washington Quaquá
(PT-RJ) na cara do deputado Messias Donato (Progressistas-ES). Por pouco o
episódio não virou um conflito generalizado entre petistas e oposição.
O episódio foi isolado e contido pelos seguranças, mas reflete a contradição entre o comportamento da bancada petista, que aceita qualquer provocação, e a preocupação de Lula em ampliar ao máximo o relacionamento do Palácio do Planalto com os partidos do Centrão. Ao escalar a radicalização em plenário, Quaquá desgastou o próprio presidente Lula num momento de grande exposição pública, como foi a solenidade de ontem, da qual também participou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso. Até o desastrado e condenável gesto do vice-presidente do PT, que não fez sequer uma autocrítica, Lula era o dono absoluto da cena.
No seu discurso, o presidente Lula ressaltou
que essa é a primeira reforma tributária aprovada durante um regime
democrático. A última modernização do modelo de cobrança de impostos ocorreu há
40 anos, no governo do general João Batista Figueiredo, e, mesmo assim, manteve
grande parte da estrutura tributária da década de 1960. Ao final do seu
discurso, num esforço para desanuviar o ambiente, Lula fez um gesto de
reconhecimento pela contribuição da oposição: "Não precisa gostar do
governo Lula. Guarde essa foto, se lembrem que, contra ou a favor, vocês
contribuíram para que este país, pela primeira vez no regime democrático,
aprovasse uma reforma tributária", disse.
Lula mimou Lira e Pacheco depois de um ato
falho no qual se referiu a ambos como Arthur Pacheco, sem sequer se dar conta.
Foi enfático ao destacar o papel de deputados e senadores ao aprovar a reforma,
que somente foi promulgada na quarta-feira porque os presidentes da Câmara e do
Senado se empenharam para que a votação fosse concluída ainda neste ano.
"É a demonstração de que este Congresso, independentemente da posição
política, toda vez que precisou demonstrar compromisso com o povo, quando ele foi
desafiado, ele demonstrou."
Protagonismo
Na verdade, houve uma disputa surda pelo
protagonismo na reforma, que se refletiu nos discursos dos principais
envolvidos nas negociações para sua aprovação. O presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, enfatizou que a reforma é um divisor de águas "rumo ao
progresso", uma conquista do Congresso e do povo. "Não se trata
apenas de uma redução na quantidade de tributos, mas de um mudança qualitativa
do modelo. A transparência do sistema vai atrair investimentos e criar
empregos. Vai reduzir as desigualdades sociais e produzir desenvolvimento
equânime para todos os brasileiros. Representa a força da democracia, para que
substituíssemos o poder de tributar dos Estados autoritários para o direito de
tributar dos estados democráticos modernos."
Lira classificou o sistema tributário atual
como um "manicômio fiscal". Também destacou que é a primeira ampla
mudança no modelo tributário aprovada durante um regime democrático. "Não
nasceu de um ato autoritário de um Poder, e sim, de intenso diálogo",
disse. Alfinetou o presidente Lula ao afirmar que a reforma não era uma
"pauta de governo", mas de Estado, "do povo brasileiro e do
futuro do país".
Também se manifestaram na solenidade outros
protagonistas da reforma, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; a
ministra do Planejamento, Simone Tebet; o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), que
apresentou o projeto de autoria do economista Bernardo Appy — hoje secretário
extraordinário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda; e os relatores
Aguinaldo Pacheco (PP-PB), na Câmara; e Eduardo Braga (MDB-AM), no Senado.
A Reforma Tributária, que modifica impostos
federais, estaduais e municipais, estava na pauta do Congresso havia três anos.
Foi aprovada em julho pela Câmara, mas foi modificada pelo Senado, em novembro.
Sua conclusão foi uma corrida contra relógio, porque as modificações feitas
pelos senadores precisaram ser votadas novamente pelos deputados, o que somente
ocorreu na sexta-feira passada.
Feliz Natal, entro em recesso e volto no dia
27.
Bom recesso.
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