Correio Braziliense
O ex-presidente Bolsonaro, mesmo impedido de
disputar eleições, continua sendo a principal e mais influente liderança de
oposição ao governo federal
Pesquisa divulgada, nesta quinta-feira, pelo
Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) mostra que a polarização política
entre governo e oposição tem uma base objetiva, a avaliação do governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela opinião pública: 13% consideram a
administração do petista ótima; 25%, boa; 30%, regular; 9% ruim; e 21%,
péssima. Em relação a setembro, quando se realizou a pesquisa anterior do Ipec,
a avaliação positiva de Lula caiu dois pontos percentuais, passando de 40% para
38%, e a reprovação aumentou cinco pontos, ou seja, subiu de 25% para 30%.
O modo como Lula governa é aprovado por 51% e desaprovado por 43% (6% não sabem ou não responderam). Confiam no presidente da República 48%, enquanto 50% não confiam, para 3% que não sabem ou não responderam. A expectativa em relação ao governo não foi um bom resultado: 32% consideram melhor do que esperavam, 30% igual e 35%, pior. Trocando seis por meia dúzia, a pesquisa é um copo pela metade, uns consideram boa, ou seja, quase cheio, outros consideram ruim, isto é, quase vazio. No fundo, os dados mostram que há espaço de sobra para a oposição ao governo manter o presidente Lula sob forte pressão nas eleições municipais.
De certa forma, os números do Ipec corroboram
a avaliação da cúpula do PL, liderada por Valdemar Costa Neto, de que o
ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo impedido de disputar eleições, continua
sendo a principal e mais influente liderança de oposição ao governo. A recepção
que obteve no Congressos na terça-feira, no lançamento da frente parlamentar
das escolas militares, principal bandeira do governo Bolsonaro na educação,
reforça essa avaliação, bem como a recepção popular que encontra quando vai a
locais públicos.
O primeiro impacto relevante dessa pesquisa
será nas eleições para a Prefeitura de São Paulo, na qual Bolsonaro e Lula se
digladiam, nos bastidores. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que já
tem o apoio do governador Tarcísio de Freitas, com ela, torna-se refém do apoio
de Bolsonaro, que deve exigir a indicação de seu companheiro de chapa.
O nome proposto pelo PL é o do deputado
estadual Gil Diniz, mas Nunes prefere a secretária estadual de Políticas para a
Mulher, Sonaira Fernandes (Republicanos), a indicada do Palácio dos
Bandeirantes. É uma forma de manter certa distância de Bolsonaro, que está
incomodado com isso e, por sua vez, ameaça apoiar o deputado federal Ricardo
Salles (PL-SP), nome descartado por Valdemar Costa Neto.
Xadrez eleitoral
Do outro lado, estão o deputado federal
Guilherme Boulos (PSol-SP), que liderava a disputa pela Prefeitura de São
Paulo, no fim de setembro (27), segundo o instituto Paraná Pesquisas, com 35,1%
das intenções de voto, contra 29% de Nunes (MDB). A deputada federal Tabata
Amaral (PSB-SP) aparecia em 3º lugar, com 7,5%, seguida do deputado Kim
Kataguiri (União Brasil-SP), com 5,3%. Vinicius Poit (Novo), com 2,8%, estava
em último lugar. É a melhor pesquisa para o atual prefeito de São Paulo até
agora.
É aí que Lula entra em campo, para preservar
a base eleitoral que lhe deu a vitória contra Bolsonaro na capital paulista,
por 53,54% a 46,46%, no segundo turno das eleições de 2022, margem mais
confortável do que o resultado nacional, que terminou em 50,90% a 49,10%.
Boulos não tem como não entregar a vice de sua chapa para o PT, que sempre teve
candidato próprio. O problema é que o PT não tem um nome capaz de aglutinar os
eleitores que votaram em Lula. Na melhor das hipóteses, teria um quarto dos
votos, o que é muita coisa, mas abarca também os eleitores de Boulos.
É por essa razão que Lula trabalha para
atrair de volta ao PT a ex-prefeita Marta Suplicy, atual secretaria de Relações
Internacionais da Prefeitura de São Paulo, aliada de primeira hora de Nunes,
mas adversária de Bolsonaro, a quem chamou de psicopata. A ex-petista era
protagonista da “volta, Lula” no governo de Dilma Rousseff, cuja candidatura à
reeleição provocou o rompimento entre ambas. Como Boulos não tem experiência
administrativa nem relações com a elite paulista, Lula considera Marta a vice
ideal. O problema é convencer tanto a cúpula do PT quanto a ex-prefeita.
O jogo eleitoral paulista reflete a
complexidade da polarização política na sociedade, na qual Lula e Bolsonaro
ponteiam. O petista foi eleito muito mais pelo antibolsonarismo do que pela
força do PT. Ainda que tenha a segunda bancada na Câmara, a legenda se
enfraqueceu muito nas eleições de 2020: o número de prefeituras sob seu
controle caiu de 254 para 183, perda de 28%. Com a vitória de Lula, filiou mais
45 prefeitos, número que nem se compara aos do PSD, de Gilberto Kassab, que
saltou de 660 para 968 prefeituras. Poderoso secretário de Governo e Relações
Institucionais do governador Tarcísio de Freitas, Kassab apoia Nunes.
Kassab escolheu o lado errado.
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