Valor Econômico
Opep+ e Venezuela mostraram-se jogadas de
risco excessivo
A dianteira como potência verde e a aposta na
liderança de um continente pacífico são dois pilares da política externa
brasileira. Esta semana ambos trincaram com a adesão do país à Opep+ e as
ameaças fronteiriças de Nicolás Maduro. Aqueles que acusam o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de ter assumido o terceiro mandato com uma visão de mundo
congelada no primeiro renovaram seus argumentos.
A necessidade de o Brasil emplacar como
destino dos investidores mundiais em energia limpa ganhou ainda mais
dramaticidade com o PIB no trimestre a mostrar como o recuo do investimento
alargou a armadilha de um país que consome seu futuro.
O Brasil tinha boletim de aluno em franca recuperação a mostrar na COP 28, com redução do desmatamento, recomposição do Fundo Amazônia e financiamento público voltado à economia de baixo carbono. Tanta confiança parece ter turvado a visão do presidente em sua agenda prévia na Arábia Saudita. A avidez em buscar o apoio do mundo árabe à candidatura brasileira à COP 30 e em comprometer investidores sauditas com o PAC levou o país a confirmar a adesão ao bloco.
A Opep+ não agrega apenas os maiores
produtores de petróleo. São também aqueles que mais dependem do combustível.
Por óbvio, são os mais interessados em frear a transição energética.
Não terá efeito concreto esta adesão, dizem
os defensores da estratégia lulista. De fato, como a Petrobras não monopoliza o
mercado nacional, o governo brasileiro não terá ingerência nas cotas e preços
de sua produção.
A adesão, porém, agrega-se ao conjunto de
ações nas quais o Brasil se engajou no chamado “Sul Global”, como a expansão do
Brics. Os sauditas lideram a paulatina autonomia do mundo árabe em relação aos
Estados Unidos, como ficou claro em Gaza. Na mesma medida em que demarca
terreno de seu parceiro histórico, franqueia espaços à Rússia e,
principalmente, à China, líder deste movimento.
Ambos os países dão retaguarda a Maduro, que
se lançou a uma guerra na floresta. Lula reagiu no tom adequado mas
insuficiente para reverter o tropeço naquele tapete vermelho estendido a Maduro
na rampa do Palácio do Planalto em maio. Com as perspectivas no Cone Sul
turvadas pela eleição de Javier Milei, a Organização do Tratado de Cooperação
Amazônica tornou-se o grande palco da liderança regional do Brasil. Foi neste
palco que Maduro subiu com uniforme camuflado.
Se, 20 anos atrás, a aproximação com a China
embutia promessa de desenvolvimento nacional, escassa nas relações com o
Hemisfério Norte, o cenário mudou. A notícia de que os chineses ultrapassaram o
Brasil na venda de carros para a América Latina não é coincidência, mas a peça
que faltava para o quebra-cabeça. Investimentos chineses só impulsionam a
vocação do Brasil como exportador de alimentos. Foi a Coreia do Sul, e não a
China, o primeiro comprador asiático do KC-390, da Embraer.
O que resta para o Brasil se portas como a da
União Europeia se estreitam? A possibilidade de se colocar estrategicamente no
mundo e não a reboque. Tome-se o acordo entre a UE e o Mercosul. Lula queria
correr com o acordo para evitar que Milei e Lacalle Pou se unissem para
bombardear o Mercosul. A questão acabou superada pela decisão do ainda
presidente argentino, Alberto Fernández, de não se mexer em seus últimos dias
de governo.
Se o Brasil deixou de ter motivos para
apressar o acordo, não precisaria vê-lo enterrado por um presidente francês a
colocar a culpa no Brasil. É claro que Emmanuel Macron agiu para preservar a
agroindústria francesa, mas graças às contradições de um país que afaga Marina
Silva com a mão esquerda e os petroleiros árabes com a direita, foi capaz de
despertar dúvidas sobre a justeza de suas alegações.
Na linha de que governar é abrir avenidas
(para os outros), também o fez para aqueles que, na véspera, havia chamado de
“raposas no galinheiro”. Se a contradição é o nome do jogo, então o Congresso
também tem o direito de afrouxar o controle dos agrotóxicos e tornar
obrigatória a compra de energia das termelétricas a carvão.
No afã de remendar o estrago, o “Conversa com
o presidente”, faltando 25 dias para o encerramento de 2023, foi tomado por um
balanço do primeiro ano de governo com a inédita presença de dez ministros no
programa com Lula no papel de entrevistador.
O relato oficial sobre a visita a Berlim foi
o de que se tratou de uma passagem “apoteótica”. Além de (mais) um convite a
Vladimir Putin, Lula firmou acordos de cuja importância não há por que se
duvidar, mas foi preciso buscar os ministros para lhes dar credibilidade.
Em busca da vacina perdida, Lula informou que
se tratava de sua última viagem ao exterior no ano que já está para terminar e
que, em 2024, só fará duas delas. No resto do ano vai “cuidar do povo
brasileiro”.
A pausa que as eleições municipais imporão
pode vir a ser o momento de um freio de arrumação. O avanço das redes sociais
proporcionou muitas “fake news”, como costuma alertar o presidente, mas também
possibilitou que os brasileiros estejam mais ligados no que se passa fora do
país do que há 20 anos.
O Hemisfério Norte não abre mão de
idiossincrasias como a exploração de petróleo no Alasca, mas acelera sua
transição energética numa velocidade capaz de criar novas categorias de
excluídos do comércio mundial. O Brasil pretendia ser a estrela do baile, mas
tem que batalhar é para não ser excluído.
Este é artigo para os que se iludem com a trama sórdida de Lula e do PT lerem com lamparina acesa e atenção por cada frase, cada palavra, cada letra.
ResponderExcluirA autora não pode usar certos adjetivos mais fortes e muitos lulistas, acostumados a usar adjetivos ásperos para agredir, passaram eles mesmos a só entender adjetivos ásperos.
É um artigo para leitura demorada, mas cada tempo de reflexão será de muito bom proveito.
Criticar é fácil.
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