O Globo
Foi questionável o fechamento de contas nas
mídias sociais de diversos bolsonaristas
A ida de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal não é boa — ou melhor, não é boa do ponto de vista político. Do ponto de vista formal e do mérito, Dino tem todas as qualidades necessárias. Não apenas notável saber jurídico e reputação ilibada, como dispõe de carisma e oratória. Nos diferentes cargos políticos que ocupou, demonstrou habilidades de negociação e compromisso que serão muito úteis na Corte. Dino, porém, é um político, e um político que se destacou por ser combativo num período de polarização acirrada. Num momento em que a Corte é acusada pela oposição de ser politicamente parcial, a chegada dele aprofundará a crise de legitimidade do Supremo.
Duas diferentes pesquisas mostraram o tamanho
do estrago. O Datafolha
de sábado passado mostrou que 38% dos brasileiros consideram a atuação
da Corte ruim ou péssima. Um ano atrás, em dezembro de 2022, a desaprovação era
de 31%. Aumento de sete pontos. Quando se separa o índice de aprovação pela
preferência política, a explicação fica evidente. Enquanto a desaprovação é de
apenas 15% entre petistas, sobe a 65% entre os bolsonaristas (dois de cada três
acham a atuação do STF ruim
ou péssima).
Esses dados são confirmados por outra
pesquisa. No mês passado, a Quaest
também mediu a aprovação da Corte entre os brasileiros. Aqueles que
têm imagem negativa do STF passaram de 29% em fevereiro para 36% em outubro. E,
de novo, quando separamos as respostas pela preferência política, o abismo se
revela. Entre os que votaram em Lula no
segundo turno, apenas 14% têm imagem negativa da Corte. Entre quem votou em
Bolsonaro, são 62%.
Na metade do eleitorado que votou em
Bolsonaro, a avaliação e a imagem do Supremo são muito ruins. Isso não faz bem
para a democracia brasileira. É uma crise de legitimidade que cobrará um preço
no futuro. A chegada de um ministro que, como Lula fez questão de ressaltar,
“pela primeira vez na História deste país” é “comunista” não ajuda nada. Só
aprofunda o problema.
Os motivos por que os bolsonaristas não veem
o Supremo com bons olhos não são difíceis de descobrir. Acreditam que o STF é
parcial e os persegue politicamente. Na administração Bolsonaro, acreditavam
que a Corte bloqueava muitas ações de um governo eleito democraticamente,
limitando o escopo da soberania popular. Depois, nos desdobramentos do 8 de
Janeiro, passaram a acreditar que a Corte manteve preso um número exagerado de
pessoas sem provas suficientes e que o TSE implantou um regime de censura nas mídias
sociais. Por fim, acreditam que o próprio presidente do STF se entregou ao
dizer, em
evento da UNE, que tinham derrotado o bolsonarismo.
O Supremo teve papel muito importante para
conter os excessos do bolsonarismo, especialmente nos momentos críticos entre
novembro de 2022 e janeiro de 2023, quando alguns bolsonaristas arquitetaram um
golpe de Estado. Estou convencido de que, sem a ação do Supremo, não teríamos
chegado até aqui. Porém me parece igualmente claro que o STF e a instituição
irmã TSE se excederam na resposta. Embora o 8 de Janeiro justificasse uma
resposta dura, duríssima, houve prisões para as quais as provas eram frágeis. Ainda
mais questionável foi o fechamento de contas nas mídias sociais de diversos
bolsonaristas. Era possível responder duramente com uma observância mais
estrita da lei. O que se espera do STF é encontrar o equilíbrio entre defender
a democracia com vigor, mas sem excesso e sem viés.
O Supremo pode se iludir com a ideia de que
seus excessos são apenas “democracia militante” e que não fará mal à Corte
receber mais um ministro com uma imagem politicamente carregada. Mas que
trabalho de preservação da democracia é esse em que a legitimidade de um dos
Poderes da República vai derretendo perante uma parcela tão expressiva da
cidadania?
O colunista tem boa dose de razão, mas FALTOU DIZER que Bolsonaro desde o início do seu DESgoverno atuou contra o STF, o TSE, as urnas eletrônicas, e durante a pandemia atuou CONTRA A SAÚDE PÚBLICA, sempre com a complacência do procurador geral do MPF. Com a pregação diária de Bolsonaro contra o STF e particularmente contra alguns ministros pessoalmente (Moraes, Fachin, que comandaram o TSE), é lógico que grande parte dos bolsonaristas foi convencida pelo miliciano mentiroso e se alinhou com ele nas suas críticas.
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