Nascido no bairro pobre
Onde os pés da gente nobre
Jamais lá foram pisar
Ali criou-se um menino
Que, por culpa do destino
Nunca leu o B-A-BÁ.
Ainda na tenra idade
A grande necessidade
O tirou do doce lar.
Para ajudar no pão
Buscou uma profissão
Pois tinha que trabalhar.
Foi ele ser jornaleiro
Trocando tão prazenteiro
O bairro pelo centrão.
Todo dia trabalhando
Logo foi se acostumando
A gritar o seu pregão.
Pés descalços, maltrapilho
Percorre as ruas o filho
Da rude periferia.
Quando a tarde se dispersa
Ao barraco ele regressa
Depois de puxado dia.
Não existe diferença
Tudo que diz a imprensa
Tudo que sai no jornal
As manchetes decoravam
No seu pregão explorava
O fato sensacional.
Um dia, porém, senhores
Dobra o número de leitores
Cresce a venda do jornal:
Dois corpos ensanguentados
Na manchete são mostrados
Do crime passional.
Não quis ele acreditar
No que pode constatar
Na sua turva visão:
Era o pai, a mãe querida
Tudo que tinha na vida
Que desabou, veio ao chão.
O jornaleiro não lê
Porém, as fotos que vê
Lhe partem o coração.
A dor no peito pungia...
O pobre, naquele dia,
Não gritou o seu pregão.
*Zelito Magalhães, jornalista, escritor e poeta (Fortaleza-CE
Que tristeza!
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