Folha de S. Paulo
Acordos de fim de ano facilitam ainda mais os
favores a empresas e parlamentares
O Congresso é
uma máquina de promoção de ineficiências econômicas e orçamentárias. Se era
preciso dar mais exemplos, considerem-se as votações do segundo semestre deste
ano ou a corrida de final de ano legislativo para a obtenção e distribuição de
favores.
São emendas que picotam o Orçamento, sem
critério social ou econômico, em pequenas obras de baixo impacto, ou leis que
simplesmente dão dinheiro a empresas.
É uma obviedade cada vez mais notável desde
2015, mas a gente não liga, como sapos tolos cozidos na água que esquenta.
É um arranjo para déficits a perder de vista, favores para empresas que aumentam a ineficiência da economia (persistência da pobreza), Orçamento picotado em ninharias, injustiça tributária etc. É o acordão da mediocridade eterna.
O Congresso quase inteiro prega o enxugamento
de Estado, carga tributária, despesa —esta legislatura em particular, pois
"liberal" (rá).
Na prática, gasta mais e concede reduções de
impostos que facilitam a sobrevivência de empresas ineficientes ou aumentam a
rentabilidade delas, particularmente se são amigas ou se instalem na paróquia
do parlamentar.
O país quase inteiro banca a diminuição da
produtividade (o PIB cresce menos), pois o negócio seria inviável, naquela
região (ou mesmo em qualquer outra) se não fosse o subsídio estatal. Isso é
rentismo.
Algumas empresas de energia, de combustíveis,
montadoras de veículos, de eletrodomésticos, de bebidas, de profissionais ricos
e tantas outras levam algum. A reforma tributária, ainda mais quando tramitou
pelo Senado,
tornou-se outro grande escândalo de distribuição de favores a privados.
Haverá ainda gordos fundos de desenvolvimento
regional, que jamais desenvolveram coisa alguma a não ser o caixa de empresas e
seus amigos. A carga tributária dos beneficiados vai diminuir ou continuar
menor. A dos "comuns" vai aumentar.
A fim de tentar aprovar a reforma tributária
e leis que aumentam a sua receita, o governo
vai se proibir de fazer cortes em um dos tipos de emendas parlamentares ("de
comissão"). É o acordo da liquidação pré-natalina de favores para
deputados e senadores fechado nesta semana entre Lula-Haddad e
caciques do centrão —o Congresso quase inteiro.
O escasso dinheiro do Orçamento que já não
está carimbado para despesas obrigatórias é dividido para obras e compras de
cidades e prefeitos da base parlamentar do deputado ou senador, um complemento
ao fundão eleitoral e partidário, já gordo de bilhões.
Parlamentares têm mais poder e nenhuma
responsabilidade.
Esse seria o dinheiro restante para
investimentos federais em obras e compras que incentivassem o crescimento, que
atenuassem problemas importantes de infraestrutura, social ou econômica, que
incrementassem ciência e tecnologia, quem sabe um plano nacional de educação
infantil para crianças pobres.
A aprovação dos projetos maiores do governo
exige negociação caso a caso. As negociações são ainda mais difíceis nesta
legislatura, mais direitista, conservadora, antipetista ou simplesmente
negocista.
A concessão de cargos ou de emendas a um
partido ou a "líderes" não encaminha o problema. Os próprios partidos
são mais fragmentados.
Mesmo que tenham ministério, estatal ou
autarquia, um grupo de seus deputados ou senadores dirá que não se sente
representado, que outra fração da legenda é que recebeu prebendas e benesses.
É impossível comparar o grau de negocismo de
cada legislatura, até porque vários acordos são opacos. Os efeitos daninhos são
maiores, de qualquer modo, pois se briga por cada vez menos dinheiro, pelo
"volume morto", pelo resto do Orçamento que não vai para gasto
obrigatório.
Para piorar, mesmo parlamentares governistas
votam medidas que aumentam a despesa, Judiciário e Ministério Público investem
para engordar penduricalhos, militares mantêm privilégios etc.
O desânimo é muito grande.
Perfeito!
ResponderExcluirCarácoles!
ResponderExcluirÉ bem isto!
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