sábado, 15 de abril de 2023

Marco Antonio Villa* - O Brasil republicano voltou

Revista IstoÉ

O cotidiano presidencial agora é normal. Lula viaja para ver de perto áreas atingidas por desastres naturais e inaugurar obras

Em dias sem Bolsonaro! O Brasil está vivendo um novo clima. Não que nossos problemas foram resolvidos. Seria impossível em tão curto espaço de tempo. Mas é inegável que a tensão política foi diminuindo a cada dia, especialmente após o golpe fracassado de 8 de janeiro que teve na sua liderança Jair Bolsonaro. Hoje, os jornalistas podem percorrer as ruas sem temer pela sua própria vida. A canopla, que era escondida, voltou ao microfone. A notícia é apresentada ao público sem que o jornalista tenha de dissimular para qual empresa está trabalhando. O dia a dia do presidente da República voltou ao normal.

Ele viaja pelo País, visita tanto as zonas atingidas por algum desastre natural, como também para inaugurar obras. O clima bélico dos deslocamentos presidenciais desapareceu. As motociatas e a caterva que se reunia para saudar o mandrião ficaram no passado. E a linguagem chula, homofóbica e misógina ficou reservada à triste história do último quadriênio presidencial.

Cristovam Buarque* - O Brasil voltou! Para onde vamos?

Revista Veja

'O Brasil voltou' ao passado, mas precisa avançar ao futuro. Mesmo saindo do presente nefasto em que estávamos, voltar é um verbo conservador

Nestes 100 primeiros dias, Lula já prestou o imenso serviço de trazer o Brasil ao passado anterior a 2019, mas é preciso que acene para o futuro, sintonizado com o mundo adiante, tanto nos riscos quanto nos imensos desafios e oportunidades que surgem para o Brasil, o promissor depositário de recursos para a economia do futuro, baseada em dois capitais: população e natureza. Não temos outra liderança com a sensibilidade, carisma e capacidade de aglutinação do Lula, portanto, não podemos desperdiçar sua presidência apenas e voltar ao passado anterior, até porque o Brasil não estava bem. “O Brasil voltou” ao passado, mas precisa do slogan “o Brasil avança ao futuro”. Mesmo saindo do presente nefasto em que estávamos, voltar é um verbo conservador.

Apenas com o propósito de um passado menos mal que o presente não vamos construir a estrutura necessária para o futuro que desejamos e temos potencial: com eficiência econômica, equidade social, democracia política e sustentabilidade ecológica. Não basta o governo ser novo, ele precisa ser para os novos tempos adiante, com nossos principais recursos: os milhões de cérebros e a imensa biodiversidade que bem usados permitirão aumentar e distribuir a renda, abolir a pobreza, pacificar a sociedade, civilizar as cidades, dar bem-estar à população, oferecer sonhos e esperanças aos jovens.

Marcus Pestana* - A polêmica sobre a Lei das Estatais

Resolvi retornar à realidade brasileira através de um tema que há muito me incomoda: a Lei das Estatais. Aprovamos a Lei 13.303, em junho de 2016. A autoria foi do querido Senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Houve divergências entre a Câmara e o Senado. Era deputado federal e divergi abertamente do espírito presente em um ponto da Lei. Não das suas preocupações gerais com a boa governança.

Estávamos no Governo Michel Temer. O país havia enfrentado duas grandes crises morais, onde empresas estatais foram envolvidas em graves denúncias de corrupção. A ideia era blindar essas organizações. A Lei procura corretamente traçar diretrizes com vistas a assegurar o melhor resultado possível e a prevalência do interesse público.

Alvaro Gribel - O real de volta à normalidade?

O Globo

Brasil só acompanhou o movimento global de valorização das moedas porque a Fazenda e o Banco Central fazem trabalho técnico

A valorização do real nos últimos dias tem relação direta com a queda do dólar no mundo, mas há fatores internos que servem de lição ao presidente Lula. Se por aqui a moeda americana recuou ao menor nível desde junho, na Argentina, ela bateu recorde histórico, pelo risco inflacionário. O Brasil só acompanhou esse movimento global porque a Fazenda apresentou um plano fiscal que contém o crescimento da dívida pública e o Banco Central tem feito um trabalho técnico para levar a inflação para a meta.

A informação dada esta semana pelo repórter Manoel Ventura, de que o novo regime fiscal irá desconsiderar receitas extraordinárias para o aumento das despesas, corrigiu uma das principais críticas ao arcabouço fiscal, que era o risco de se criar gastos permanentes tendo como base arrecadações esporádicas. O economista-chefe de um grande banco classificou a medida como “muito boa” e aposta que isso irá levar a revisões para baixo nas projeções de dívidas feitas pelo mercado. Há contudo, um risco: muitos ruídos podem vir à tona assim que o projeto da lei for divulgado, porque os detalhes fazem diferença para a política fiscal.

Carlos Alberto Sardenberg - O imposto vai para as classes médias

O Globo

Por que o ministro não compra nas livrarias brasileiras? Elas também fazem vendas on-line

É difícil fiscalizar e, pois, taxar o comércio eletrônico, tanto nacional quanto internacional. No Brasil, são centenas de milhares de pequenas compras por dia. Só pelo volume, dá para imaginar o tamanho e a sofisticação do sistema de computadores necessário para examinar e cobrar tudo isso. Mais ainda: uma fiscalização minuciosa atravanca e atrasa o negócio, que pode deixar de ser interessante para os consumidores. Se isso acontecer, a arrecadação, claro, desaparece.

Tem ainda a logística. Imaginem uma empresa sediada noutro país, fabricando num terceiro e vendendo aqui, tudo on-line. Onde cobrar? De novo, é uma questão que preocupa governos mundo afora. Poderiam fechar acordos internacionais. Mas, pelo que se sabe, Lula não tratou disso na China.

Há também uma questão social. Amplas parcelas das classes médias estão acostumadas a pagar barato nesses sites, especialmente nos de origem asiática.

O ministro Fernando Haddad não conhecia a Shein, mas deveria. Trata-se de uma companhia chinesa, gigante da moda mundial, que vende barato, muito barato. Só no Brasil, deve ter faturado algo como R$ 7 bilhões no ano passado, segundo estimativas de consultorias. É bem mais do que vendem varejistas nacionais. Por que a Shein consegue vender tão barato? Eficiência na produção e na distribuição, maior produtividade, mão de obra mais barata do que nos principais mercados ocidentais, escala maior. E, no caso do Brasil ao menos, pelo não pagamento de impostos.

Pablo Ortellado - Três ações contra a violência nas escolas

O Globo

Mídias sociais precisam retirar com agilidade e rigor conteúdos que celebram massacres

Peço desculpas ao leitor por voltar ao tema dos massacres nas escolas, depois de discuti-lo na última coluna e, outra vez, em artigo na quinta-feira. Mas o assunto é tão grave e tão urgente que achei necessário retomá-lo.

Os ataques a escolas são um problema complexo, e as soluções de fundo são tão variadas e de longo prazo que podemos perder de vista medidas efetivas para adotar de imediato. Há pelo menos três coisas que podemos fazer já.

A primeira é a adoção, pelos veículos de imprensa, de um protocolo para a cobertura dos massacres. Como já foi amplamente discutido em reportagens, eles são estimulados por comunidades true crime (crimes reais) que se reúnem no Twitter, no Telegram e no TikTok. Nessas comunidades, jovens e adolescentes celebram massacres como os de Columbine, nos Estados Unidos, em 1999, ou Suzano, no Brasil, em 2019. Adolescentes que passam por momentos difíceis e são seduzidos por impulsos sombrios e aspiram a sair do anonimato ao se inscrever nessa história de crimes.

Eduardo Affonso - O ornitorrinco chamado Brasil

O Globo

Como o mamífero que, na contramão da sua subclasse, bota ovo, o país é uma mistura de surreal com atraso e pitadas de velhas ideologias

O Brasil se presta a muitas comparações. Nos anos 1970, Edmar Bacha nos chamou de Belíndia: leis e riqueza de Bélgica, desigualdade de Índia. Delfim Netto sugeriu Ingana: impostos de Inglaterra, serviços públicos de Gana. Evoluímos para um Dubaiti: privilégios e extravagâncias da cidade de Dubai, vácuo de Estado nas favelas e periferias, à moda do Haiti. Parecemos um ornitorrinco, aquele mostruário de excentricidades, prova viva de que a fidelidade não foi seguida à risca na arca de Noé.

Como o mamífero que, na contramão da sua subclasse, bota ovo, o Brasil é uma mistura de surreal com atraso e pitadas de velhas ideologias. Quase metade da população sobrevive sem acesso a saneamento básico, mas o governo está mais interessado em proteger as empresas estatais que em garantir esgoto e água potável.

Dora Kramer - O nível, excelências...

Folha de S. Paulo

Baixarias no Congresso desqualificam a oposição, requisito essencial à democracia

Permitam-me um testemunho: como repórter, acompanhei no Congresso o dia a dia da Assembleia Nacional Constituinte (1987-88). Debates duros, embates pesados entre esquerda e direita, tentava-se reconstruir o país com a ditadura ainda nos calcanhares.

O convívio era com Ulysses Guimarães, Mário Covas, Nelson Jobim, Fernando Henrique, Miro Teixeira, Affonso Arinos, Roberto Campos, Paulo Delgado e tantos outros. Nível alto, qual fosse o matiz ideológico. Tempos de sarrafo elevado.

Alvaro Costa e Silva - Política da lacração

Folha de S. Paulo

Congresso se assume como espelho das mídias sociais

"Mao Tsé-tung, Hitler, Stálin, Fidel Castro e Lula. Todos têm algo em comum: a vontade de desarmar o cidadão." A frase tem o cheiro e o tamanho de um tuíte escrito por anônimo e replicado por robôs. Bobagem sem fundamento histórico cujo objetivo é "lacrar", como se diz.

O autor da bobagem, no entanto, é o deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP), que a soltou em alto e bom som na sessão de terça (11) da Comissão de Segurança Pública da Câmara. Ex-delegado da Polícia Civil, em sua declaração ao TSE Bilynskyj omitiu ser sócio de um clube de tiro e, em suas redes sociais, costuma fazer apologia a estupro e racismo e incentivar atos golpistas.

Demétrio Magnoli - O 'tudo' de Zelenski

Folha de S. Paulo

Lula quer negociar a soberania dos outros?

"Zelenski não pode querer tudo", exclamou Lula, indicando a linha que seguiria na visita à China, onde tentou estabelecer uma parceria com Xi Jinping na mediação de eventuais negociações de paz entre Rússia e Ucrânia. "Tudo", aí, significa a Crimeia e a Otan. A primeira renúncia sugerida debilita a posição do Brasil como mediador confiável. A segunda evidencia uma apreciação primitiva das realidades geopolíticas.

O Brasil, cortesia do Itamaraty de Mauro Vieira, votou na resolução da ONU que exige a retirada imediata das forças invasoras russas e o respeito à integridade territorial ucraniana. A declaração de Lula, cortesia do assessor especial Celso Amorim, renegou o voto brasileiro. A Crimeia faz parte do território ucraniano internacionalmente reconhecido. Nenhuma nação que respeita a Carta da ONU tem o direito de propor a cessão de parte do território de um país soberano invadido –como, aliás, explicou a Ucrânia na sua resposta a Lula.

João Gabriel de Lima* - Elas já fazem, mas não dizem como

O Estado de S. Paulo

As plataformas, com seus algoritmos, já exercem papel moderador. Mas não é claro como o fazem

As barbaridades perpetradas em escolas em Blumenau e São Paulo desencadearam um debate sobre a responsabilidade das plataformas digitais. O Ministério da Justiça emitiu, na quarta-feira passada, portaria que impede o compartilhamento de conteúdos que façam ameaças ou incentivem ataques em escolas.

O debate sobre o assunto é mundial e é balizado por duas perguntas. Primeira: as plataformas são responsáveis pelos conteúdos que publicam? Segunda: elas devem remunerar os produtores de conteúdo? São, no entanto, falsas questões. As plataformas, com seus algoritmos, já exercem papel moderador. E, igualmente, já subsidiam alguns produtores de conteúdo. Nos dois casos, no entanto, não é claro para o público como exercem esse papel. As novas legislações sobre o tema exigem, basicamente, maior transparência.

Almir Pazzianotto Pinto* - A rebelião das massas

O Estado de S. Paulo

Os responsáveis pela governança estavam ausentes enquanto a Praça dos Três Poderes era invadida, ocupada e depredada pela multidão anárquica, sem controle e liderança

Sob a moldura jurídica, os envolvidos nos acontecimentos de 8 de janeiro estão entregues ao julgamento do Poder Judiciário. Aconteceram atos de vandalismo cometidos contra o Palácio do Planalto, o prédio do Congresso Nacional, o edifício do Supremo Tribunal Federal, localizados na Praça dos Três Poderes, onde se encontra permanentemente hasteada a Bandeira do Brasil.

A capital da República, construída pelo presidente Juscelino Kubitschek, é símbolo da Pátria. A Praça dos Três Poderes, com a sua austeridade arquitetônica, deveria refletir o espírito de unidade, independência e harmonia entre o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário.

Nada pior, em qualquer Estado organizado, do que a acefalia do poder. Quando acontece, o vazio passa às mãos de algum aventureiro ou resulta em convulsão anárquica, permitindo que massas descontroladas e enfurecidas assumam o comando da situação.

Adriana Fernandes - Efeito Shein

O Estado de S. Paulo

Haddad precisava mostrar que iria buscar R$ 150 bilhões, mas uma avenida de fake news se abriu

Em se tratando de assuntos tributários, existe uma máxima. O governo jamais pode anunciar que adotará uma medida de alta de imposto, aperto de brechas, correção de distorções tributárias, combate à fraude, corte de benefícios e renúncia fiscal, e não baixar o ato legal.

Esse erro foi cometido pelo ministro Fernando Haddad, poucos dias depois do anúncio do novo arcabouço fiscal. Ele antecipou o conteúdo das principais medidas que pretendia tomar para conseguir R$ 150 bilhões de receita.

O Estadão havia antecipado algumas. E Haddad, numa das inúmeras entrevistas que concedeu sobre o projeto, não só confirmou em “on”, como deu detalhes. O problema foi que Haddad não baixou os atos ou preparou previamente um discurso organizado de defesa do ato, embasado em números.

José de Souza Martins* - O fotógrafo que revela o belo e as significações da cidade

Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

Exposição “Fuga”, de Marcio Scavone, tem como referência o legado de sua memória sobre Nova York, Londres, Paris, México, Roma, Rio, São Paulo e Tóquio

Uma exposição fotográfica, “Fuga”, de Marcio Scavone, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, traz até nós a bela e trabalhosa mostra que ele apresentou antes na Itália, na Sicília. Seu tema é a cidade e tem como referência o legado de sua memória sobre Nova York, Londres, Paris, México, Roma, Rio, São Paulo e Tóquio.

Fotografias de cidades têm sido comuns na história da imagem fotográfica. Não raro, foi o caso aqui no Brasil, fotos do que restava de um passado que se sabia estava por terminar. Fotos, portanto, sobre a morte da cidade, a cidade capturada pelo imaginário do passado, de um foi que não seria mais. A fotografia como um lamento conservador.

A ordenação imaginária da cidade em nome do passado de cada uma tem tentado todos os fotógrafos que a elas se dedicaram. A cidade vista e temida como expressão da desordem da pós-modernidade. A cidade apreciada por aquilo que não era nem é, imaginariamente capturada pelo conservadorismo do interior da casa, concebida como extensão dos cômodos interiores da moradia. De vários modos negação do que a cidade é e pode, o possível, a ruptura, a sociabilidade libertadora das ruas e praças.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Lula ainda não conteve a alta no desmatamento

O Globo

Dados do Inpe revelam recorde da devastação no Cerrado e segundo pior índice histórico na Amazônia

Os números mais recentes sobre desmatamento divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) são implacáveis para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, eleito com a promessa de estancar a derrubada de florestas que deteriorou a imagem do país no exterior durante a gestão Jair Bolsonaro. No primeiro trimestre de 2023, os alertas de desmatamento no Cerrado bateram recorde, atingindo uma área de 1.375 quilômetros quadrados, segundo o sistema Deter, do Inpe. É uma área comparável à do município do Rio de Janeiro. A Amazônia registrou o segundo pior índice da série histórica, com perda de 844 quilômetros quadrados de vegetação.

Diante dos resultados, o Ministério do Meio Ambiente tentou amenizar a catástrofe. Disse que, no primeiro trimestre deste ano, houve aumento de 219% nas autuações de delitos contra a flora amazônica em relação à média no período dos últimos quatro anos. E que as apreensões de bens pela fiscalização cresceram 133% de janeiro a março, sustentadas principalmente pelas operações contra o garimpo ilegal nas terras ianomâmis. O governo alega que essas medidas descapitalizam os infratores e restringem o comércio ilegal do ouro.