Folha de S. Paulo
Com Lewandowski e Dino, presidente estreita
aliança para se contrapor a um Congresso indócil
Lula descreveu Flávio Dino e Ricardo
Lewandowski como uma dupla. Ao comentar a ida de Dino para
o STF,
ele afirmou que o tribunal teria "um ministro com a cabeça política".
Nem foi preciso completar o raciocínio: para o
Ministério da Justiça, o presidente optou por alguém com a cabeça de
ministro do STF.
A nomeação de Lewandowski reforça o entendimento de que Lula escolheu governar com o Supremo. Com a entrada de um ex-integrante da corte no primeiro escalão, o presidente estreita uma aliança com a qual espera garantir estabilidade e se contrapor a um Congresso poderoso e frequentemente indócil.
No capítulo anterior, com a indicação de
Dino, Lula mandou um político para o STF sem omitir o valor que dava a essa
credencial. O presidente sinalizou a aliados, diversas vezes, que enxergava a
corte como parte do jogo político e poderia negociar ali, portanto, saídas
políticas para crises igualmente políticas.
Lewandowski deve atuar no sentido inverso.
Enquanto Dino constrói sua própria força dentro do plenário, Lula espera que o
futuro ministro da Justiça aproveite sua influência num ambiente profundamente
corporativista para defender os interesses do governo —tanto no Supremo como em
outros tribunais.
Lula deixa claro o peso que deposita sobre o
Judiciário em questões sensíveis. O governo foi ao STF para questionar a
privatização da Eletrobras e recuperar a arrecadação de tributos, e não esconde
a expectativa de que a corte possa reverter derrotas impostas pelo Congresso no
marco temporal e na desoneração.
O presidente parece avaliar que os benefícios
superam os riscos da operação, a começar pela escolha de Lewandowski, que chega
com a inevitável
carga de decisões alinhadas aos petistas quando vestia toga.
Outro perigo é mais amplo e assombra aliados
de Lula. Com o pacto, o STF acumulou poder, ampliou sua influência sobre
nomeações para tribunais e ganhou proteção política. Dificilmente algum
governante terá força para moderar seu apetite.
Sei.
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