sábado, 6 de janeiro de 2024

Carlos Alberto Sardenberg - Calcinha com bolso

O Globo

Estamos admitindo que o furto de celular acontecerá em toda festa de rua ou mesmo sem festa

Apareceu na categoria esperteza: calcinha com bolso de zíper, na frente, para levar o celular. Novidade para o carnaval, espécie de contramalandragem para escapar dos furtos, devidamente anunciada nos sites de roupas femininas. Coloque no Google “calcinha com bolso”, e aparecem diversas opções de modelos e preços. Há cuecas, também, mas não têm, digamos, a mesma graça.

A recepção na imprensa foi positiva. Grande sacada. Destaca-se que a moça pode levar o celular e um cartão de débito, embora este seja dispensável. Pode-se pagar tudo pelo celular, não é mesmo? Também é verdade que, se ganha em segurança, a roupa íntima perde em sensualidade.

Que fazer? Trata-se de um trade off diante da onda de furtos e arrastões. A ideia, ao que parece, saiu do Rio, mas o problema é nacional. Na festa da virada no Centro de São Paulo, um cara foi apanhado com 17 celulares, e isso antes da meia-noite.

Nos divertimos com a história quando comentamos na CBN, mas depois deu um baixo-astral. Caramba, gente, então estamos rindo porque neste carnaval seremos mais espertos que os bandidos?

Estamos admitindo que o furto de celular acontecerá em toda festa de rua ou mesmo sem festa, num simples passeio na praia ou no parque. É da vida social. A resposta, logo, só pode ser algum truque de sobrevivência. E se o bandido for violento? Aí, é torcer para escapar com o mínimo de danos.

Estamos nos acostumando com o errado, com o crime, com o pouco que já está bom. Revela falta de confiança nas instituições, nas leis e nas pessoas que deveriam garanti-las. E um certo desânimo com o país.

Há pelo menos quatro décadas, a economia brasileira segue nessa toada: algum crescimento, inflação, pasmaceira, recessão, pequena recuperação, outra estagnação. Na média, o PIB e a renda real evoluem em torno de 1% ao ano.

Neste momento, comemora-se um crescimento de quase 3% que deve ter sido obtido no ano passado. Segundo o FMI, o número se equipara à média mundial, mas é inferior à dos países emergentes (4%) e muito menor que o resultado dos asiáticos (5,2%). Só é melhor que a média esperada para a América Latina (2,3%) — dos nossos irmãos de baixo desempenho econômico e social.

Também se dá por coisa da vida que os juros no Brasil são mais elevados. Teoria e História mostram que os países com juros baixos exibem contas públicas equilibradas, gasto público eficiente, amplo espaço para a prosperidade das empresas e para o desenvolvimento de iniciativas pessoais e privadas, além de ganhos de produtividade com boa educação.

Por que não se consegue ao menos imitar os bem-sucedidos?

Considerem a educação. No fim do ano passado, comemorou-se por aqui, discretamente, é verdade, o resultado do Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Os alunos brasileiros quase não sofreram perdas em consequência da pandemia. Pouco se notou que o padrão vinha de muito baixo, de onde é difícil cair. E se deixou de lado o principal: os alunos das escolas privadas foram bem, enquanto os estudantes das públicas ficaram entre os piores desempenhos do mundo.

Parecia jogada política. Esconder o ruim. Pensando bem, foi o costume. A escola pública é ruim, assim mesmo. Em alguns estados, foi boa até os anos 1960. Daí foi piorando, em meio a infindáveis discussões sobre o melhor modelo educacional e adequado ao Brasil.

Há países ricos com boas escolas públicas. Há países emergentes, especialmente os asiáticos, que deixaram a pobreza enquanto melhoravam a qualidade de suas escolas públicas. A relação é direta: escola boa, produtividade da mão de obra, crescimento forte e melhor distribuição da renda, porque os pobres têm oportunidades educacionais próximas às dos ricos.

Há escolas públicas de qualidade em diversas cidades brasileiras. Isso quer dizer que, mesmo aqui, sabe-se como ensinar língua, matemática e ciência para um mundo de inteligência artificial.

Para todo lado onde se olha, sabe-se o problema. Olhando um pouco em volta, encontram-se soluções corretas.

E a gente aqui inventando calcinha com bolso de zíper.

 

4 comentários:

  1. Anônimo6/1/24 11:44

    SARDENBERG OU BELUZZO?

    1982,1983...1985...1989...
    1992,1993,...1995,...1999...
    2002,2003,...2005,...2009...
    2012,2013,...2015,...2019...
    2022,2023,...

    Carlos Alberto Sardemberg, o autor deste artigo, parece mau-humorado. Mas é apenas um homem lamentando o destino a que vêm condenando o seu país:: de 1982 até hoje o Brasil encontra-se com sua economia estagnada.

    ■Alguém pode ler o Sardenberg, suas queixas com gastança e com falta de responsabilidade, suas reclamações com os repetidos desequilíbrios fiscais, se sentir contrariado e soltar vespas em Sardemberg.
    ■Depois este alguém pode ler Luiz Gonzzaga Beluzzo, a defesa que Beluzzo faz de gastança, não achar que gastança é irresponsabilidade, que não resulta em desequilíbrios, se identificar com Beluzzo porque ele instiga a um caminho com promessa de redenção, ficar animado e aplaudir Beluzzo.

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    1. Anônimo6/1/24 11:45

      OS FATOS
      OS DADOS
      A REALIDADE

      ■■■Antes de alguém fechar qualquer juízo quanto às queixas de Sardenberg e o Pau-na-Máquina de Beluzzo eu chamaria a atenção para que refletisse que nestes anos os que tentaram andar fizeram o que Beluzzo recomenda e o que Sardenberg lamenta.

      De diferente teve o intervalo do período Fernando Henrique/Lula1.

      ■■■Este período Fernando Henrique/Lula1 teve início em maio/1993, quando Fernando Henrique assumiu o Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco e começou a implementar o Plano Real e a fazer reformas estruturais, e é um período que vai até o final do 1° mandato de Lula, em dezembro/2006.
      ■É um período que seguiu com os dois mandatos de Fernando Henrique e o 1° mandato de Lula.

      Lula, na campanha de 2002, assinou e divulgou um documento se comprometendo a não implantar as políticas econômicas do PT e dar continuidade às políticas do governo que herdava. E Lula cumpriu o que assinou e no seu 1° mandato deu continuidade ao saneamento das contas públicas iniciado por Fernando Henrique.

      ■Como Lula1 deu total continuidade a FHC1eFHC2, e como este período teve início um pouco antes, quando FHC assumiu o Ministério da Fazenda e implantou o Plano Real, eu considero este período, que vai de 1993 até 2006, como um só período de nossa economia.

      Este período foi quando as consequências de tentar acelerar o desenvolvimento com investimento baseado em dívida, principalmente a partir de 1974, resultou em desequilíbrio fiscal e a inflação estava se aproximando de 3000% (sic::três mil por cento!) e o Brasil acumulava problemas econômicos e sociais completamente alarmantes, todos em trajetória de se agravarem ainda mais.
      ■Fernando Henrique iniciou, em 1993, o saneamento da nossa economia e Lula1 deu continuidade ao saneamento iniciado por Fernando Henrique.

      A partir do seu 2° mandato, iniciado em 2007, Lula se afastou das políticas deste período e começou a implantar as políticas próprias do PT, que têm mais semelhança com o desenvolvimentismo que desembocou na paradeira iniciada em 1982.

      De 1974 para cá, nós brasileiros vivemos estes dois caminhos::
      A)■O assim chamado "desenvolvimentismo", com o investimento sendo feito com emissão de dívida, que é um período que vai de 1974 até agora;
      B)■E dentro deste período de política chamada de desenvolvimentista houve um intervalo que vai de 1993 até 2006, quando tivemos a experiência de aplicar austeridade, sanear a situação fiscal das contas públicas e buscar equilíbrio fiscal.

      O período de nossa economia chamado de "desenvolvimentista", que vai de 1974 e segue até hoje, teve o seu alge no governo Geisel e depois no governo Dilma.
      ■É o período de buscar crescimento baseado em fazer dívida para investir, que é o que propõe Luiz Gonzaga Beluzzo.

      O intervalo dentro deste período em que se fez uma política fiscal e econômica diferente foi o que junta os mandatos FHC1eFHC2 com o Lula1, e vai de 1993, quando FHC assumiu o Ministério da Fazenda de Itamar, até o fim do 1° mandato de Lula, em 2007 e interrompido em Lula2.
      ■E o período de busca de crescimento baseado em austeridade para primeiro sanear os desequilíbrios fiscais e depois prosseguir sem deixar que os desequilíbrios retornem e é o caminho proposto por Carlos Alberto Sardenberg.

      SARDENBERG OU BELUZZO
      ■Os dados, os fatos, a realidade, têm dado razão a quem?

      Edson Luiz Pianca.

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  2. Anônimo6/1/24 12:34

    Como Sardemberg não é e economista, sendo ele um jornalista que estudou direito e filosofia e que quando estava no fim não pôde se graduar, impedido que foi pelo AI-5, vou confrontar dois economistas::
    ■Marcos Lisboa
    ■Luiz Gonzaga Belluzzo.

    =》Marcos Lisboa representa a proposta de buscar o crescimento iniciando o caminho pela austeridade fiscal defendida por Sardenberg e foi Marcos Lisboa o condutor das políticas econômicas no governo Lula1, com Henrique Meireles no Ministério da Fazenda;

    =》Luiz Belluzzo representa ele mesmo a sua proposta de fazer expansão de gastos com dívida para buscar crescimento e trabalhou no Ministério da Fazenda do Governo Sarney e depois atuou no governo Quércia quando este foi governador de São Paulo. No governo Lula1 Belluzo não pôde influenciar, por causa da presença de Marcos Lisboa no Lula1 conduzindo as políticas econômicas.

    Quem e o que você prefere?
    =>■Você prefere Marcos Lisboa e a sua política de austeridade que saneia as contas para só depois buscar crescimento, por entender que assim se consegue crescimento sustentável e que, portanto, não vai gerar uma situação de crise que vai desabar sobre a cabeça de ninguém, fazendo o país cair em uma baita recessão econômica e causando retrocesso em vez de crescimento?

    =>■Ou você prefere Luiz Belluzzo e sua proposta de fazer expansão de gasto por meio de emissão de dívida para buscar crescimento, não concordando que se endividar, mesmo quando já se está muito endividado e se tem custo de capital muito alto, seja uma irresponsabilidade e tendo certeza que assim o crescimento vem.

    ■■■Baseado na experiência dos últimos 50 anos nós temos todas as condições para ao menos ter um vislumbre das consequências de cada proposta e ter uma ideia de quem é realmente excelente economista e quem é apenas um propositor exuberante.

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    1. Anônimo6/1/24 15:02

      CORRIGINDO: com Henrique Meireles no Banco Central.

      ■Então, este trecho fica assim::
      =》Marcos Lisboa representa a proposta de buscar o crescimento iniciando o caminho pela austeridade fiscal defendida por Sardenberg e foi Marcos Lisboa o condutor das políticas econômicas no governo Lula1, com Henrique Meireles no Banco Central;

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