O Estado de S. Paulo
Ramagem não agira por conta própria, mas dentro da engrenagem do golpe e a mando de Bolsonaro
Ao anunciar que tinha um “sistema particular
de inteligência”, na reunião ministerial tenebrosa de maio de 2020, o então
presidente Jair Bolsonaro confessou um crime, a manipulação das instituições e
uma velha prática: a confusão entre o público e o privado. O sistema de
inteligência do Estado não é propriedade de presidentes e nunca poderia ser
considerado “particular”, assim como Exército Brasileiro nunca deveria ser
chamado de “meu Exército”.
Os sistemas que Bolsonaro tentou transformar em “particulares” foram os de inteligência, como Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência (Abin); os armados, Exército, Marinha e Aeronáutica, além de PRF e até polícias estaduais; e os de investigação e controle, como Receita Federal (impostos) e Coaf (operações financeiras “atípicas”).
Na direção da Abin, o delegado e agora
deputado Alexandre Ramagem não usava os instrumentos espiões e ilegais da
agência por decisão e interesse próprios contra ministros do Supremo,
presidente da Câmara e até promotora do caso Marielle, mas sim a mando do chefe
Bolsonaro, contra os que ameaçavam seus devaneios golpistas e a favor, por
exemplo, dos filhos.
Poderia ser ainda pior. Bolsonaro chegou a
nomear Ramagem para a direção-geral da PF e, se a Abin é órgão de inteligência,
a PF é também operacional, com mão na massa – e no revólver. Apesar de
criticado, o ministro do STF Alexandre de Moraes alegou “desvio de finalidade”
e impediu a ida de Ramagem para a PF. E não foi por “perseguição”, mas por
informação, sua especialidade.
Moraes já sabia que Ramagem usava a Abin para
monitorar os passos de cidadãos e autoridades por interesses políticos, o que é
crime previsto no artigo 5.º da Constituição (sobre direitos individuais) e
método clássico de ditaduras. É assim que Nicolás Maduro acaba de prender 32
críticos do regime na Venezuela.
As investigações sobre a Abin dos tempos de
Ramagem e Bolsonaro são parte do processo de desvendar e desbaratar o aparato
montado para controle de cidadãos e preparação de um golpe, incluindo o
Ministério da Justiça, que listou 579 nomes de professores e funcionários
públicos federais e estaduais “antifascistas” (contrários a Bolsonaro). Com que
finalidade? O ministro era Anderson Torres, também delegado de carreira da PF,
que estava metido na tentativa de golpe e acabou preso.
Um Ramagem daqui, um Anderson Torres dali, um
Mauro Cid acolá…. Sem contar generais, de um lado, e figuras muito suspeitas,
de outro: Fabrício Queiroz, Daniel Silveira, Walter Delgatti, Marcos do Val…
Onde o Brasil foi se meter? Aliás, ainda há muito a investigar.
Verdade.
ResponderExcluirExcelente. Os crimes do DESgoverno Bolsonaro estão sendo investigados, e o bando de militares golpistas enfim terá que prestar contas à Justiça!
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