Folha de S. Paulo
Israelenses e palestinos têm razões de sobra
para queixar-se do comportamento do outro lado
Vão se acumulando razões para que Israel conclua
ou pelo menos reduza as operações militares em Gaza. A mais premente é a economia. Travar uma guerra como
essa é estupidamente caro para Israel. A segunda razão é a pressão
internacional, em especial a dos EUA, para suspender a carnificina. E até os
membros mais extremistas do governo de Netanyahu sabem que o país precisa do apoio dos EUA.
As razões humanitárias para interromper os ataques, que, num mundo justo, dispensariam todas as outras, entram apenas em terceiro lugar ou mais abaixo. E isso nos leva a um paradoxo. A maioria dos israelenses e a dos palestinos são, por definição, pessoas normais, que valorizam a vida humana e repelem o que veem como injustiças. Como então, explicar, o apoio maciço de israelenses às operações militares e os ostensivos aplausos de palestinos (e de boa parte da opinião pública mundial) aos ataques terroristas de 7 de outubro?
O problema está na cadeia de causalidades.
Tudo no Universo tem causas proximais e distais, e nossas mentes se aproveitam
dessa exuberância para extrair as racionalizações que mais lhes convêm. Grande
parte dos israelenses deve lamentar as mortes de palestinos, mas as coloca na
conta do Hamas,
que disparou o primeiro tiro em outubro e ainda usa a própria população como
escudo humano, ignorando que as bombas que já causaram mais de 20 mil mortes
são lançadas por Israel.
De modo análogo, palestinos veem os atos
terroristas como uma resposta natural aos mais 50 anos de brutal ocupação
israelense, sem atentar para o fato de que assassinatos a sangue-frio, estupros
e sequestros são, pela régua moral da civilização contemporânea, métodos
absolutamente inaceitáveis de resistência.
Ambos os lados estão certos em suas queixas e
errados por suas cegueiras seletivas. Hoje, a paz é impossível. Mas a crise
tornou o "statu quo" insustentável. No médio prazo, tudo terá de
mudar.
Uma boa análise, relativamente imparcial e não tendenciosa! Parabéns ao colunista e ao blog que divulga seu trabalho.
ResponderExcluirApena uma dúvida: a população de Israel tem razões de sobra para reclamar e está reclamando, sim. Mais de 200 mil JUDEUS foram desabrigadas pela evacuação das fronteiras. As pressões políticas e sociais internas a Israel sobre Netaniahu são muito intensas. E isso conta muito!
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