Folha de S. Paulo
Equador sucumbe diante da força do tráfico,
que se tornou atividade globalizada
Até poucos anos atrás, o Equador não era um país muito violento. Em 2016, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes ali registrada foi de 6. Não chega a ser um índice europeu, mas o Equador aparecia no pelotão de frente dos países mais pacíficos da América do Sul. Em 2022, a cifra saltou para 26 por 100 mil. A principal explicação para o fenômeno é o fortalecimento dos cartéis de tráfico de drogas que ali passaram a operar.
A Ambev e a Seagram também são organizações dedicadas a comercializar
uma droga potente, o álcool, mas não geram o mesmo nível de violência. Por quê?
Elas trabalham com um produto legalizado. Se um representante da Ambev se
desentende com o da rival, procurará a Justiça para
acertar a diferença. Se a empresa desejar ampliar seus negócios, fará com que
seus consorciados adquiram mais alvarás para vender bebidas. As máfias, porém,
não podem recorrer a tribunais regulares nem têm acesso aos órgãos de
licenciamento do Estado. Isso significa que eventuais disputas entre grupos
criminosos serão resolvidas à bala. Na impossibilidade de obter alvarás,
corromperão policiais e outras autoridades.
É elucidativo aqui lembrar que, nos anos 20
do século passado, quando os EUA proibiram produção, transporte e venda de
bebidas alcoólicas, também se assistiu a um enorme crescimento do gangsterismo
e da violência a ele associada. Eram os tempos de Al Capone e os tiroteios nas ruas de Chicago. Com a
revogação da Lei Seca em 1933, as máfias viram seu poder reduzir-se. Os
chefões já não se apropriavam mais daquilo que os economistas chamam de imposto
da ilegalidade, que é o adicional de preço gerado pelo fato de o produto ser
proibido.
O tráfico internacional é uma atividade
globalizada. Os principais cartéis, que muitas vezes operam em rede, se
tornaram empresas multibilionárias. Estados menores e menos institucionalizados
como o Equador não são páreo para eles.
Pois é.
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