Folha de S. Paulo
Apaziguamento de militares evita crises no
presente, mas dificulta normalização democrática das Forças Armadas
Se eu estivesse na pele do Lula também
faria o possível para evitar problemas com os militares. A última coisa de que o
governo precisa é uma quartelada ou uma crise institucional. Mas é importante
ressaltar que a opção pela política de apaziguamento tem um preço, que não é
baixo.
Neste primeiro aniversário da tentativa de golpe bolsonarista, os
incorrigivelmente otimistas destacam que a intentona fracassou porque a cúpula
das Forças Armadas se recusou a patrocinar a aventura.
Verdade, mas, considerado o quadro geral, não vejo motivos para celebração.
Militares, incluindo alguns oficiais-generais, participaram ativamente das
tramas democraticidas, se é que não constituíam a espinha dorsal do movimento.
E, ao que tudo indica, serão poupados dos rigores da lei.
Se o ambiente nas casernas fosse
verdadeiramente democrático, jamais teríamos chegado ao ponto a que chegamos.
As tentativas do ex-presidente de cooptar militares para apoiá-lo teriam sido
interrompidas "ab ovo". Vimos isso nos EUA, quando o general Mark Milley, então chefe do Estado-Maior das FFAA, deu uma patada
atômica em Donald Trump quando
este tentou envolver os militares em política doméstica.
Brasileiros pagamos hoje o preço por nossa complacência do passado, quando
abrimos mão de responsabilizar os militares por crimes da ditadura. Ainda que
se entenda que a Lei de Anistia tornou a responsabilização penal
impossível, restariam a responsabilização política e uma necessária reforma
institucional. Para nos livrarmos de vez do espectro de golpes futuros,
teríamos de criar uma sólida barreira legal à politização dos quartéis, rever
os cursos de formação de oficiais, para ensinar aos jovens que o golpe de 1964 foi um golpe e não uma revolução heroica,
e, principalmente, para reescrever o artigo 142 da Carta, para deixar insofismavelmente claro
que militares não interferem na política.
Lula não fará nada disso.
Artigo curto e direto.
ResponderExcluir