Folha de S. Paulo
'Nova Indústria Brasil' ameaça repetir os
fracassos de Dilma, Lula e Geisel
Com o governo indo atrás de toda exceçãozinha
tributária que ele possa cortar para arrecadar um pouquinho mais,
seria de se esperar que, na hora de investir o dinheiro, ele usasse do mesmo
rigor, sendo impiedoso com gastos ineficientes, certo? Certo??
Infelizmente, parece que com o "Nova
indústria Brasil" o governo vai investir
muito (R$ 300 bi) com o que já deu errado. Exigência de conteúdo
nacional, crédito subsidiado e compras do governo.
Não é preciso ser um fundamentalista de mercado para ver o problema aí. Afinal, o Estado tem um papel no crescimento econômico. A Coreia do Sul não chegou aonde chegou sem papel ativo do governo. Mas tão importante quanto os casos de sucesso, é lembrar quando a política industrial fracassou, como no Brasil. Dilma, Lula, Geisel; a política industrial brasileira já torrou muito dinheiro e empobreceu muita gente.
Um fato que me chama a atenção: nossos
projetos de industrialização são sempre pensados da fronteira para
dentro. Saúde,
defesa, agro: no Nova
Indústria Brasil, em todos eles o objetivo é reduzir o uso de insumos
importados e produzir para atender o mercado interno.
Imagine se fôssemos enfrentar a pandemia
de Covid apenas
com produtos nacionais. Abriríamos mão das melhores vacinas disponíveis, como,
aliás, o governo ameaçou fazer com relação à vacina da dengue em
julho do ano passado, dando prioridade à vacina do Butantan, que nem pronta
estava. Felizmente,
voltou atrás.
Receber crédito subsidiado para produzir, sem
concorrência internacional, bens industrializados que serão comprados pelo
governo. É assim que vamos estimular nosso empresariado a inovar?
Não que não haja méritos nas seis missões
definidas pelo projeto. Melhora do ambiente de negócios, infraestrutura,
tecnologias limpas; todos ótimos, mas correm o risco de serem sabotados
pela lógica do dirigismo político e do protecionismo. Pela regulamentação
proposta à lei de licitações, há casos em que uma licitação pública pode optar
pelo produto nacional mesmo que o equivalente estrangeiro seja até 20% mais
barato. Nós pagaremos essa conta.
É verdade que a globalização tal como era
praticada nas últimas décadas está em xeque. Só que em vez de buscar a
autarquia produtiva, o que as economias mais produtivas do mundo têm feito é optar
pelo "nearshoring". Em poucas palavras: em vez de terceirizar a
produção tendo como único critério o preço mais baixo, levar em conta
também os
riscos de se produzir em países distantes, politicamente instáveis ou pouco
democráticos.
O Brasil tem tudo para se beneficiar disso:
somos uma democracia ocidental que demonstrou sua resiliência, compromisso com
o meio ambiente e estamos distantes dos conflitos que abalam o mundo. Quem
passou na nossa frente, contudo, foi o México, que já
tem colhido alguns resultados. A produção
industrial mexicana subiu 0,4% entre o terceiro trimestre de 22 e 23.
Ao contrário da brasileira, que caiu 0,9% (dados do ranking do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Melhore o ambiente de negócios,
desburocratize, aposte no verde; e também invista em pesquisa e na ponte entre
ciência e mercado. Mas não selecione ganhadores e nem prive a população
brasileira daquilo que de melhor e mais eficiente o mundo tem a oferecer.
Pode ser.
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