Folha de S. Paulo
Presidente muda discurso ao sabor de seus
interesses, o que traz descrédito para a política
Lula é
um oportunista, no que o termo encerra de positivo e de negativo. Quando viu
que enfrentaria uma disputa difícil contra o então presidente Jair
Bolsonaro, o petista veio com o discurso da frente ampla para salvar
a democracia e convidou o ex-adversário Geraldo
Alckmin para compor a chapa, na posição de vice.
Com isso, conseguiu atrair o voto de eleitores que faziam restrições ao PT, mas tinham ainda mais medo de Bolsonaro. Deu certo. Lula venceu por estreita margem.
O panorama agora é outro. O TSE tornou
Bolsonaro inelegível. Isso é bom para Lula e o PT. O bolsonarismo
sem Bolsonaro fica enfraquecido, mas ainda é forte o suficiente para inibir o
surgimento de outras forças oposicionistas. Lula já não necessita do discurso
da frente ampla. Isso lhe deu liberdade para tentar reescrever a história, em
linhas que podem ajudar seu partido nos pleitos
municipais deste ano. Os casos de corrupção no entorno da Petrobras,
que o próprio Lula já
reconhecera como reais ("Você não pode dizer que não há
corrupção, se as pessoas confessaram"), acabam de se tornar uma orquestração
dos Estados Unidos com juízes e procuradores brasileiros para
prejudicar a empresa petrolífera.
Não foi a única reviravolta conceitual de
Lula, que fez questão de subir a rampa do Planalto acompanhado de minorias, mas
não se esforçou tanto para encontrar mulheres para pôr no STF ou que
agora empresta a Advocacia-Geral da União para fazer coro ao machismo dos
militares, que insistem em
vetar a incorporação de membros do sexo feminino em unidades de combate.
Fazer política é negociar. Daí que o discurso
de políticos é necessariamente menos definitivo do que o de líderes religiosos,
por exemplo. O problema é que, quando as mudanças batem de frente contra os
fatos ou soam muito oportunistas (agora só no sentido pejorativo), contribuem
para o descrédito da própria política, o que é ruim para a democracia.
Pois é.
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