O Globo
Embora não tenham mencionado
diretamente Jair
Bolsonaro em seus discursos, tanto Lula como
o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de
Moraes procuraram deixar claro em suas falas, no ato realizado
no Congresso Nacional para lembrar o 8 de janeiro, que não desistiram de
responsabilizar o ex-presidente da República por seu envolvimento nos atos
golpistas.
Moraes disse que "não haverá impunidade,
apaziguamento ou esquecimento" aos envolvidos na trama golpista, e que
"não haverá qualquer tipo de anistia aos personagens envolvidos nos
ataques".
Já Lula afirmou que "não haverá perdão
para quem atenta contra a democracia, seu país e contra seu próprio povo”, em
um discurso em que falou o tempo todo do antecessor.
“Adversários políticos e autoridades constituídas poderiam ser fuziladas ou enforcadas em praça pública, a julgar por aquilo que o ex-presidente golpista pregou em campanha e seus seguidores tramam nas redes sociais”, disse o petista.
E se por um lado o tom adotado pelos dois
principais antagonistas de Bolsonaro demonstra que não haverá trégua para a
extrema direita nem na Justiça e
nem no Executivo, também demonstra o quanto a missão é complexa.
Afinal, um ano depois, continuam sem resposta
as questões mais importantes: quem planejou, quem pagou e quem coordenou a
estratégia que levou à invasão das sedes dos Três Poderes.
Desde o 8 de janeiro, já foram denunciadas
1.413 pessoas, e 66 continuam presas.
Mas os quatro inquéritos que Alexandre
comanda no Supremo ainda não tiveram desfecho, e apenas um financiador, um
empresário do Paraná que
desembolsou R$ 60 mil, foi denunciado.
Moraes e Lula sabem que a demora em chegar a
uma cúpula, seja ela militar ou civil, passa a impressão aos golpistas de que
só os bagrinhos realmente sofrerão as consequências. Mesmo porque apesar de
estar inelegível, Jair Bolsonaro até hoje não sofreu nenhuma acusação formal
pelo que aconteceu em Brasília no
dia 8 de janeiro de 2023.
Não foi à toa, portanto, a afirmação de
Moraes de que “ignorar tão grave atentado à democracia e ao Estado de Direito
seria equivalente a encorajar grupos extremistas à prática de novos atos
criminosos e golpistas”.
Lula também foi nessa toada ao dizer que
"o perdão soaria como impunidade. E a impunidade, como salvo conduto para
novos atos terroristas".
Disso, aliás, ninguém discorda. Se os cabeças
do ato de terror que se deu em Brasília continuarem por aí à solta, se enchendo
de razão ao protestar contra inquéritos secretos e intermináveis que não chegam
a lugar nenhum, o risco de uma nova conjunção infame de fatores acabar em mais
tumulto aumenta.
E apesar da ênfase dada à necessidade de uma
regulação apropriada para as redes sociais que ajude a evitar novas ondas de
desinformação, fake news e ataques virulentos à democracia, no fundo tanto Lula
quando Moraes sabem que os antídotos para o golpismo e suas variáveis já
existem. Eles estão na Constituição e no Código Penal. Basta usá-los
corretamente.
Pode ser.
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