O Estado de S. Paulo
Problema para políticas industriais, entre outras, é a escolha de estratégias
A recém-anunciada política industrial do
governo foi chamada de velha pelo próprio Lula antes mesmo de começar, mas o
problema não é ser uma ideia antiga. É não se conseguir entender o que
aconteceu com o que já se tentou.
Na leitura que Lula faz do passado recente,
tudo ia maravilhosamente bem até a derrota “das elites” na eleição de 2014. O
esperneio de derrotados inconformados juntou-se à Lava Jato (e aos ianques) e
tramou-se então o golpe que interrompeu o caminho natural das coisas, o da
permanência indefinida do PT no poder.
Nessa visão histórica, não eram as políticas públicas que estavam equivocadas. Faltou tempo (devido à interrupção causada pelo golpe) para sua devida implementação. Nessa forma de se ver as coisas foram fatores puramente políticos que impediram, por exemplo, que dessem certo projetos como incentivar a indústria naval ou construir refinarias monumentais.
Pelo jeito Lula considera as condições
políticas atuais adequadas para seu intento de reparar injustiças, que vão da
“reabilitação” de reputações pessoais (a dele e de vários personagens à sua
volta, como Dilma e Mantega) à aplicação de seus conceitos de política externa,
social ou industrial. Ele o faz ignorando o grau de resistência social e as
decisivas mudanças nas relações de poder entre Legislativo e Executivo.
O problema para a “nova velha” política
industrial não é a questão do Estado ser o indutor, mas que tipo de estratégia
o Estado escolhe. No lançamento da atual “nova velha” política fez-se o uso
surrado dos exemplos de Japão, Coreia do Sul e Alemanha. Cada um ostenta
características próprias, além de seus contextos históricos e geopolíticos.
Relevante para todos, e aí se poderia incluir
também Estados Unidos, China ou Israel, entre outros, foi a ênfase colocada em
produtividade (portanto, formação de capital humano) e capacidade de
competição. Especialmente esse último fator, o da competitividade, foi
entendido por esses países como condição essencial da própria sobrevivência
diante não só de adversários comerciais mas, sobretudo, geopolíticos.
Essa compreensão é uma função de elites
políticas e econômicas. As do Brasil tem escassa capacidade de articulação
estratégica em escala nacional. Para existir entendem que tem de navegar num
ambiente de negócios péssimo, no qual é essencial a proximidade com
instituições e agentes de um Estado balofo, perdulário, ineficiente e incapaz
de raciocínio estratégico. A postura dessas elites acaba sendo defensiva e em
busca de proteção.
Lá vamos nós, então, brigar de novo com
consequências.
Sei.
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