O Estado de S. Paulo
O Brasil oferece a imagem de um país que não sabe explorar seu potencial
Para um estrangeiro participando do Fórum
Econômico Mundial, em Davos, o Brasil não deve ter sido um país fácil de ser
decifrado. Num mesmo dia ele ouviu do ministro de Minas e Energia que o
petróleo continuará sendo – e muito – explorado. E da ministra do Meio Ambiente
que negará permissões para mais exploração de petróleo.
Ouviu de ambos que o Brasil é “a” solução para o investimento privado na transição de energia (leia-se economia verde). Seria por tentar ressuscitar o capitalismo de Estado e projetos estatais da velha indústria pesada, com seu direcionamento para os tais “campeões nacionais”, como desconfia o Financial Times (muito lido pela turma que frequenta Davos), que seja a aposta do presidente Lula?
Falar de mudança climática gera tráfego
copioso e gratuito na internet, mas, a julgar por outro material publicado em
Davos – pesquisa da Fundação Dom Cabral e do próprio Fórum sobre o futuro do
crescimento –, o buraco para a economia brasileira é bem mais embaixo. Mais uma
vez o País desponta nesse tipo de análise por suas incomparáveis
potencialidades (água e produção de alimentos) e suas imensas fragilidades.
A principal é ligada ao “ecossistema tecnológico”,
conceito que engloba tanto os clássicos como inovação e desenvolvimento de
tecnologias quanto a formação de capital humano e ambiente de negócios
(tributação, propriedade intelectual e regulação). Apenas no quesito capital
humano calcula-se que 44% das habilidades dos trabalhadores no Brasil devem
sofrer alterações nos próximos cinco anos e 60% da força de trabalho vai
necessitar de treinamento.
Como se vê, a questão não se reduz a afinar
discursos entre áreas com visões conflitantes da exploração de recursos. Todo
mundo reconhece que investimento em infraestrutura, educação e formação de
capital humano é fator essencial para crescimento em qualquer lugar do planeta,
mas não explica tudo.
O diferencial essencial, conclui o texto da
Dom Cabral, são gestão pública e investimentos que garantam melhor ambiente de
negócios, estimulem novas empresas, atraiam capital externo e tenham impacto na
renda per capita. Nesse sentido, o Brasil tem tido grandes dificuldades e,
apesar do sucesso de setores como aeronáutica e agricultura/pecuária, no seu
conjunto é uma área estagnada em relação às principais economias.
A percepção de que o Brasil se move pouco,
embora desfrute de fatores favoráveis (inclusive geopolíticos), surge em outro
levantamento publicado em Davos, feito entre executivos, dando conta de certa
decepção em relação ao País como lugar estratégico. Devem estar se perguntando
por que demoramos tanto para chegar ao futuro. •
Pois é.
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