domingo, 18 de fevereiro de 2024

Bernardo Mello Franco - O papel dos empresários

O Globo

Áudio de Mauro Cid revelou participação de donos de marcas conhecidas em conspiração contra a democracia

Em gravação encontrada pela Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Cid afirma que empresários encorajaram Jair Bolsonaro a “virar o jogo” depois da derrota nas urnas.

A mensagem trata de uma reunião em novembro de 2022, quando Lula já havia vencido a eleição presidencial. Bolsonaro seguia encastelado no Alvorada, conspirando para dar um golpe e continuar no poder.

Cid cita os donos de três marcas famosas: Luciano Hang, da Havan; Meyer Nigri, da Tecnisa; e Afrânio Barreira, do Coco Bambu. O militar também menciona “aquele cara da Centauro” — para a PF, uma provável referência a Sebastião Bomfim.

Em notas à imprensa, os quatro contestaram o relato e negaram ter participado da trama golpista. Agora a polícia terá que descobrir quem está mentindo.

Bolsonaro vende a fábula de que chegou ao poder sem ajuda do sistema, graças à genialidade do filho e às redes sociais. No mundo real, foi o candidato ungido pelo poder econômico para derrotar o PT em 2018.

Antes da campanha, o capitão já era conhecido pelo extremismo. Exaltava a ditadura, defendia a tortura e pregava o fuzilamento de adversários políticos. Nada disso impediu que os donos do PIB aderissem a seu projeto.

Em 2022, parte do empresariado resolveu se descolar do presidente que atacava as instituições e ameaçava desrespeitar o resultado das urnas. Bolsonaristas de carteirinha, Hang, Nigri, Bomfim e Barreira ficaram a seu lado até o fim.

O quarteto não estava só. Ex-presidente da Fiesp e eterno candidato ao governo paulista, Paulo Skaf prometeu “não faltar” ao aliado. “Ele pode falar o que não deve, mas ele faz o que deve ser feito”, disse, dias antes do segundo turno. A frase é um lembrete de que o encantamento com Bolsonaro não se deveu a seus olhos azuis.

O capitão sempre viveu às custas do poder público, mas se embrulhou na bandeira do fundamentalismo de mercado. “É horrível ser patrão no Brasil”, declarou.

Eleito, empenhou-se no desmonte do Estado e da legislação trabalhista e ambiental. Seu governo defendeu um capitalismo selvagem, em que tudo seria permitido em nome do lucro: do garimpo em terras indígenas ao trabalho infantil, que voltou a crescer após anos de queda.

“Tive uma reunião face to face com Bolsonaro e vi um cara com posições fantásticas”, derramou-se o dono da Centauro, ao declarar seu voto em 2018. O empresário dizia ter “confiança cega” em Paulo Guedes, liberal de estimação do capitão.

Tempos depois, o ministro da Economia participaria da reunião em que que Bolsonaro falou abertamente num golpe para melar a eleição. Permaneceu em silêncio, mexendo despreocupadamente com seus papéis.

A folia de Lira

Arthur Lira usou avião da FAB para pular o carnaval no Rio e em Salvador. Na Sapucaí, posou alegremente com o bicheiro Aniz Abrahão David, o Anísio. A presença do chefão da Câmara não deu sorte à Beija-Flor. A escola recebeu R$ 8 milhões da Prefeitura de Maceió, mas amargou o oitavo lugar.

4 comentários:

  1. Texto excepcional! Bolsonaro sempre foi apoiado por empresários pouco democratas ou claramente golpistas. Cúmplices de seus crimes existem em quase todos os setores, inclusive entre grandes empresários, como os citados!

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  2. Nem um pio do companheiro Bernardo Melo Franco sobre a morte do Mártir Navalny.

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  3. Os novos ricos que os quatrocentões desprezam.

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