Folha de S. Paulo
Palavras de Lula não conquistam casas no
tabuleiro da guerra, e oposição se resume a reações desonestas e um 'perdido de
impeachment'
Lula faz sua
diplomacia como o político que é. Numa mesma entrevista, revestiu-se de cautela
ao reclamar do que chamou de pré-julgamento
do governo Vladimir Putin pela morte do opositor Alexei Navalni,
escapuliu de uma pergunta sobre o cerco
de Nicolás Maduro à ONU na Venezuela e citou o Holocausto ao criticar
a matança em Gaza.
Presidentes têm uma latitude que é vedada aos diplomatas. Costumam ser ideologicamente seletivos em comentários sobre parceiros e adversários, dispensam coerência em posicionamentos públicos, surfam nas ondas de suas bases políticas e exageram no barulho para ganhar atenção em debates internacionais.
As
palavras de Lula sobre a campanha israelense em Gaza e sua repercussão
provam que é preciso ter habilidade até na hora de fazer barulho.
Crimes de guerra não são concursos de
selvageria. Lula usa seus movimentos no tabuleiro global para denunciar de
forma enfática as
violações do governo de Binyamin Netanyahu em território palestino, mas não
avançou uma única casa com a referência imprópria à brutalidade de Adolf Hitler
no extermínio de judeus durante a Segunda Guerra.
O argumento de que o petista teve coragem
para manifestar indignação e ampliar as cobranças por um cessar-fogo diz muito
sobre a maneira como aliados e apoiadores enxergam o presidente e nada sobre o
esforço que ainda é necessário para tirar da inércia a máquina global que
sustenta a guerra.
A reação desonesta de Israel mostra
que Netanyahu explora a crise como propaganda. Depois que o governo acusou Lula
de negar
o Holocausto, algo que o petista não fez, o chanceler Mauro Vieira (um
diplomata, não um político) disse que o país lança "uma
cortina de fumaça" para encobrir o massacre em Gaza.
Já a oposição brasileira, capitaneada pelos
melhores líderes bolsonaristas, busca um estardalhaço próprio com um
tradicional "perdido de impeachment": sem causa legal, sem
votos em plenário e sem nenhuma razão de ser além da algazarra.
Pois é.
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