Folha de S. Paulo
Em busca de rendição de Lula, centrão faz
pressão que corrompe a lógica política
Um presidente da Câmara tem muito poder, mas
só incomoda de verdade quando consegue instalar um clima de rebelião capaz
de contaminar
o restante do plenário.
Arthur Lira ameaçou
apertar esse botão em
seu discurso na segunda-feira (5). O chefe exibiu aos colegas armas de uso
coletivo, pôs um preço em projetos aprovados no ano passado e mostrou que não
desistirá de aportes adicionais ao generoso fundo que abastece integrantes da
Casa.
Como presidente do sindicato mais rico do país, Lira entregou benefícios saborosos aos filiados. Partilhando verba entre os parlamentares, ele rachou bancadas, puxou para sua zona de influência integrantes de partidos diversos e comprou a lealdade de deputados que passaram a votar de maneira coordenada —contra ou a favor dos interesses do governo, a depender da hora.
O tiro de Lira foi disparado em direção ao
Planalto, mas o objetivo era inflar a insatisfação interna de uma corporação
que tem o apetite em expansão. Ele convocou o plenário a permanecer em estado
de alerta contra o que chamou de acordos descumpridos e inaugurou uma falsa
concorrência entre Congresso e Planalto pelo poder de determinar como o
Orçamento deve ser gasto.
Se o governo prometeu a Lira algo que não vai
entregar, este é um problema que Lula e seus
auxiliares poderiam resolver à luz do dia. Mas o centrão parece mais
interessado em obter a rendição do Planalto em condições enevoadas e em termos
que corrompem a lógica política.
Lira tenta tirar proveito individual da
pressão que deputados podem exercer sobre o governo. Ao insistir na ideia de
que o Congresso é uma arena de distribuição de vantagens políticas, ele busca
manter a coesão do plenário e, com isso, obter controle absoluto sobre sua
sucessão como presidente da Câmara, em 2025.
Lula deu sinais de que vai resistir. Ainda
que não admita ir à guerra, o Planalto se recusa a oferecer apoio antecipado ao
candidato de Lira ou terceirizar ao deputado o controle da agenda política,
como fez Bolsonaro.
Fato.
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