Folha de S. Paulo
Se aliados descrevem o governador como um
equilibrista, falta explicar por que ele sempre cai para o mesmo lado da corda
Tarcísio
de Freitas disfarçou mal. Pegou o microfone, apertou velhos botões do
patriotismo ("estamos aqui para celebrar o verde-amarelo") e lançou
palavras genéricas sobre liberdade. Enquanto colegas exibiam uma
dose de orgulho golpista, ele disse que era preciso entender um tal
"desafio da representatividade".
O governador paulista tentou fingir que aquele era um comício normal, num domingo qualquer. Exaltou obras de infraestrutura hídrica, citou um questionável milagre de expansão de ferrovias e disse ser grato a seu líder político —sem mencionar que os dois só estavam ali porque um deles corre o risco de ser preso por preparar um golpe de Estado.
O discurso de Tarcísio foi ensanduichado
pelas falas de dois notórios bufões do bolsonarismo, Magno Malta e Silas
Malafaia. Se a ideia era criar um contraste que permitisse ao governador
realçar um figurino moderado, não funcionou. A adesão ao ato e suas companhias
desnudam suas convicções mais francas.
Os mais generosos aliados de Tarcísio
descrevem o governador como um equilibrista, que tem posições ponderadas, mas
depende da herança de Bolsonaro.
Falta explicar por que ele quase sempre cai para o mesmo lado da corda,
autorizando revanches
policiais em forma de carnificina ou abraçando um pacto
por anistia a conspiradores golpistas.
No discurso de domingo (25), o governador
reconheceu a devoção exigida e praticada por aqueles que pretendem colher os
benefícios dessa filiação. Segundo ele, Bolsonaro "não é mais um CPF"
porque representa um movimento político amplo, que independe de sua pessoa
física. Por essa lógica, Tarcísio perdeu seu próprio CPF na avenida Paulista.
A sucessão de Bolsonaro ainda não foi
deflagrada porque o ex-presidente quer ser bajulado por mais algum tempo. A
associação desse processo e de seus postulantes com o golpismo, por outro lado,
já mostra que setores competitivos da direita
brasileira topam abrir mão de compromissos democráticos para ter uma
chance de voltar ao poder.
Verdade,e isso é grave.
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