Folha de S. Paulo
Eleição na capital é teste para a musculatura
antipetista apresentada na avenida
Se
a multidão levada à avenida Paulista no domingo (25) de certa forma
encarnou um epitáfio do poderio do bolsonarismo como forma de pressão de seu
líder sobre as instituições, há sinais de uma movimentação social que deveria
preocupar Lula (PT) e seu governo.
Jair
Bolsonaro (PL)
não ficou um centímetro mais distante das agruras
judiciais que o esperam devido ao comportamento golpista por causa dos
milhares que envergaram verde e amarelo. Seu tom amedrontado, deixando o
serviço sujo para o pastor Silas Malafaia, confirma essa realidade.
Assim, fica fácil para o governo tergiversar e a esquerda em geral repetir o erro usual de tachar a totalidade dos presentes ao evento pseudoreligioso de gado, fascista ou algo do gênero.
Claro, alguém com
25% de fiéis autodeclarados consegue a foto que quiser. E, se é
evidente que os exemplos alegóricos estavam lá, as senhorinhas murmurando
bizarrices sobre "Israel cristão", não havia na avenida apenas isso,
ainda que não seja possível falar numa recuperação das franjas menos radicais
como um todo.
Estava presente também um fastio de classe
média muito conhecido daquelas paragens, a energia difusa de 2013 que
canalizou-se em ódio antipetista ao governo
de Dilma Rousseff (PT) em 2016, com os efeitos conhecidos para a esquerda
—a começar pelo massacre eleitoral daquele ano, do qual ainda não se recuperou
no nível municipal.
Parte disso está sequestrado sob o
bolsonarismo. Mas outra tem vida própria, embasada no conservadorismo
tradicional de São Paulo e
num sentimento antipolítico que em 2016 tinha na Lava
Jato seu altar de comunhão.
É ocioso lembrar que foi Bolsonaro que promoveu
a missa fúnebre da operação que lhe deu palanque virtual, mas o que
interessa aqui é o retrato político. O antipetismo, mais do que o bolsonarismo,
mostrou sua musculatura no domingo, e a próxima estação desse trem é o pleito
de outubro.
Não é casual a alegria dos estrategistas
de Ricardo
Nunes (MDB), o cinzento prefeito da cidade, que apoiou Bolsonaro sem
dar muito a cara a tapa. Claro, é risco: se o ex-presidente for réu durante a
campanha, sua relação com ele será mais um abacaxi para o alcaide descascar.
Neste ponto, contudo, o que se viu na avenida
foi voto em potencial. Isso preocupa o time de Guilherme
Boulos (PSOL),
por evidente o alvo óbvio daquele pessoal todo quando a disputa de outubro
começar para valer. É uma franja de eleitorado não acessível ao candidato de
Lula na capital.
O presidente também tem sua parte na equação
ao ter
depositado suas fichas pessoalmente em Boulos, tratorando o PT
municipal após fracassos consecutivos na cidade em que sempre foi o polo
alternativo à centro-direita. Se é importante dissociar fatores locais do
contexto nacional, e eleição paulistana sim é tratada como vital para os planos
de 2026 de ambos os lados.
Se o pleito de 2022 mostrou o pêndulo
paulistano migrando para a esquerda, como ocorre de forma cíclica, nada garante
que isso será ratificado neste ano. A
pecha de radical de Boulos é particularmente pesada nesse cálculo de
classe média que não mora na Vila Madalena e locais correlatos.
Para Lula, que tenta surfar uma
onda há muito espraiada de salvador da democracia por cortesia do 8 de
janeiro, a insatisfação por ora vestida de bolsonarismo é um alerta que terá
seu primeiro teste prático na disputa eleitoral de seu ungido em São Paulo.
Mas vai além disso. O clima de leniência
geral instalado em Brasília, como qualquer empresário com acesso a contratos
governamentais comenta, pode ser amplificado: até as recentes decisões
polêmicas do Supremo entram nas avaliações colhidas em pesquisas qualitativas
de partidos.
Não é casual, nesse sentido, a fidelidade
de Tarcísio
de Freitas (Republicanos) como herdeiro presumido de um Bolsonaro
inelegível —ou, como o governador paulista deixou escapar, com o CPF na prática
cancelado. É tudo posicionamento. Mas ele, diferentemente de Nunes, ainda tem
tempo antes de colocar a tática à prova.
A sorte de Lula, no contexto, é de que não há
uma Lava Jato para organizar essa energia, ora sob as asas do
bolsonarismo. O
sequestro também é tóxico dado o golpismo associado ao ex-presidente,
embora seja duvidoso o grau de aceitação da realidade por parte dos
manifestantes: a ojeriza a Lula e ao PT é maior do que qualquer relatório da
PF.
O petista fica livre para fazer o que sabe
melhor: insistir na polarização, mantendo Bolsonaro como espantalho. O flá-flu,
afinal, define
a existência política atual de ambos os rivais. Mas, a depender de
como o eleitorado se movimentar, a fórmula poderá se mostrar tão exausta quanto
a de Bolsonaro de tentar intimidar o mundo político com fotos de multidões.
Não Há Fla Flu,entre Bolsonaro & Lula, há uma omissão de pessoas que se dizem não Bolzonaro & não Lula, no exercício de sua cidadania, deixando aos simpatizantes de Lula & Bolsonaro, o protagonismo político nas redes sociais.Com rara exceção lideranças como João Amoedo, Soraya Tronick , Simone Tebet que são atuantes nas redes sociais e na atitudes proativas em favor da democracia e do bem estar social e econômico do Brasil.Vemos lideranças políticas, religiosas, empresariais omissas, medrosas e coniventes com os abusos da extrema direita e seus pares.
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