O Globo
Não houve festa. Não daquelas, pagas por
associações de magistrados, em que o empossado canta para empresário que tem
pendências no Supremo. Flávio Dino vestiu a toga e foi à missa.
Posse discreta; não livre — Deus sempre vendo
— de prévia reunião VIP. Modalidade de folia petit comité. Há imagens. Daniela
Lima, da GloboNews, documentou. Numa sala contígua ao plenário, ministros em
rodinhas com enrolados cujo foro é o STF.
Posse discreta e concorrida, não convidado o
comedimento, ausente a impessoalidade, barrada a prudência.
Estava lá, num dos bolinhos, sorridente, com o sorridente imperador do Senado Davi Alcolumbre, o ministro Juscelino Filho, deputado pelo Maranhão, cujas remessas de emendas a municípios do estado estão sob investigação. O maranhense Dino — ex-colega de ministério do investigado — é o relator. Declarar-se-á impedido?
Não serão poucos os impedimentos no
horizonte, se o novo ministro afinal não for aquele que, em campanha pela
cadeira, firmou o “compromisso de ser um guardião e um facilitador do diálogo
entre os Poderes”. (Sendo a função — essa guarda desviada — já mui exercida no
STF, a declaração também comunicava que a concorrência se acirraria.)
O cronista, folião pecador, falou em farra e
se lembrou do carnaval: o presidente do Supremo malandreando na Sapucaí;
passarela em que o Estado Democrático de Direito abriu alas a que anísios e
outros capitães — não raro com demandas na Corte — expressassem-exibissem seus
impérios. E Barroso ali, todo trabalhado no linho, soltinho e exposto.
Expondo-se. Carteirada que nem a irresistibilidade do Salgueiro na avenida
justificaria.
(Sugestão de enredo para a Unidos
de Padre Miguel, a de Celsinho da Vila Vintém, que voltará — muitas décadas
depois — ao Grupo Especial: “Salvando a democracia adoidado”.)
Da fala do presidente do STF — um de nossos
salvadores — na posse de Dino, outro herói salvador:
— A vida é dura, mas é boa, porque nos dá o
privilégio de servir ao país, sem nenhum outro interesse que não seja fazer um
Brasil melhor e maior.
A vida boa oferece muitos privilégios, não
raro ofertados por quem — à custa de vidas duras — se serve do Brasil e tem
interesse em fazer do país patrimônio privado ainda melhor e maior.
(Num camarote privado, Nunes Marques —
egresso dos abadás de Salvador — viu os desfiles de segunda-feira, dia em que
passou o buliçoso caju da Mocidade Independente, a escola sob patronato de
Rogério de Andrade, de cujo processo no Supremo o ministro é relator e cuja
prisão preventiva revogara em 2022.)
Dino não irá à Sapucaí. A posse austera
comunica um perfil. A questão sendo se deixará de ser agente político, a
avenida indo até ele. Há respostas na forma como se comportou desde que
chancelado pelo Senado, em dezembro. Em vez de uma quarentena informal,
desligando-se do Ministério da Justiça e da atividade política, escolheu
participar-influir na transição para Ricardo
Lewandowski e ainda voltar — e apresentar projetos — ao Parlamento; de
onde saiu para pegar o Supremo no dia seguinte.
Tudo indica que estreará em ação que tem seu
ex-partido como parte. Questionamento sobre mudança na regra para distribuição
das sobras eleitorais. O resultado podendo alterar a composição da Câmara e
beneficiar o PSB. Declarar-se-á impedido?
Se o cronista gostasse de apostas e tivesse
tostão para apostar, casaria que Dino, senador eterno, será — anomalia natural
(o oximoro se impõe) numa Corte constitucional que se dilata sobre a República
— ministro-líder do governo no Supremo. O tribunal há muito à vontade para ser
(já é) o terceiro turno parlamentar. E então Dino. Uma escolha pelo — um
investimento no — vício. Pós-Lewandowski, um Xandão para Lula chamar de seu.
A tese da liderança do novo ministro pela
agenda do governo será testada quando o STF voltar a examinar a liminar — de,
ora, Lewandowski — que enterrou a Lei das Estatais. O Planalto o tem na conta
do advento decisivo para — esculhambado o desejo do legislador — assegurar a
formação de maioria em prol do aparelhamento político-partidário de companhias
estatais. Declarar-se-á impedido?
Registre-se, do pós-missa, a compreensão de
Dino sobre a função do STF, alargamento que é produto de um tipo de dependência
da virtude (já deve haver até um mercado) de salvar a democracia:
— O Supremo tem esse grande papel de controle
sobre os outros Poderes.
O controle exercido pelo STF é de
constitucionalidade, a partir do que determina a Constituição, daí derivando a
contenção — de modo estrito — sobre outros Poderes. É uma obviedade. Sim. Que
não impede nem sequer constrange — aumentada doravante a concorrência — a
expansão das abordagens xandônicas.
Andreazza? (epa! epa!)
ResponderExcluirMas tá mais pra uma espécie de Chris Flores, sempre FOFOCALIZANDO, né não?