O Estado de S. Paulo
Com o golpe em curso havia anos, a reunião de julho de 2022 foi só para botar o bloco na rua
A fatídica reunião do presidente Jair Bolsonaro com ministros e assessores, no dia 5 de julho de 2022, para determinar que atuassem para desacreditar as eleições, as instituições e os divergentes – portanto, pelo golpe – foi na sequência de anos de “preparativos”, com manifestações de rua, articulações de bastidores e ameaças golpistas do próprio presidente, contra as urnas eletrônicas, e de seus filhos, contra Supremo, Congresso e mídia, pilares da democracia. A reunião foi para dar um passo decisivo: pôr as ameaças em prática, antes das eleições.
Um ano antes, o general Braga Netto, então
ministro da Defesa, chamou um importante civil do governo para uma reunião com
os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica e mandou um recado para o
presidente da Câmara, Arthur Lira, em nome das Forças Armadas e dele próprio:
ou as eleições seriam com voto impresso e auditável, à maneira deles, ou não
haveria eleições. No mesmo dia, o presidente reverberava a ameaça em público.
O recado foi relatado à época pelas
jornalistas Andreza Matais e Vera Rosa, no nosso Estadão, e está aí para quem
quiser ler e comprovar que a audácia golpista da era Bolsonaro não era só
“desejo”, “intenção”, “bravata”, como insistem grupos bolsonaristas. O golpe
foi articulado, sim, inclusive com tentativa de cooptação ou intimidação de
personagens-chave de Câmara, Senado, Judiciário, mídia...
A reportagem, desmentida por Planalto,
Defesa, Câmara (como sempre acontece quando a verdade dói), conta que Arthur
Lira considerou gravíssimo um recado desses com aval dos comandos militares e
foi até Bolsonaro para dizer que iria até o fim com ele, para a vitória ou a
derrota, mas não para golpes e suspensão das eleições. A Câmara não abraçaria
um projeto desses.
Lira cumpriu à risca: garantiu a votação dos
projetos do governo na Câmara e apoiou Bolsonaro nos dois turnos, mas sempre se
posicionou contra ataques às eleições e à democracia e foi o primeiro
presidente de Poder e líder político a, publicamente, reconhecer o resultado
das urnas eletrônicas e a vitória do petista Lula.
Assim, a reunião de 5 de julho de 2022 não é
apenas vexaminosa, “mais uma dessas” do capitão que grita, fala palavrões e
gosta de bancar o machão. Foi muitíssimo mais grave: uma convocação para o
golpe, com o que Bolsonaro já dizia em 2018: eleição só vale se eu ganhar,
urnas eletrônicas e pesquisas são fraudadas e eu mando e todos obedecem,
principalmente generais, almirantes, brigadeiros. Nem todos, porém, se chamam
Eduardo Pazuello.
PS: Quem está “apagando” a Dona Marisa, o PT,
o governo? Inacreditável e cruel.
Pois é.
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