Folha de S. Paulo
Apesar de alertados, cúmplices de Bolsonaro
não mediram os riscos
Um dos conspiradores presentes à reunião de 5 de julho de 2022 no Palácio do Planalto, Anderson Torres foi profético: "Quero que cada um pense no que pode fazer previamente porque todos vamos nos foder", disse o ministro da Justiça de Bolsonaro. Apesar da linguagem tosca, não deixa de ser uma fala com rasgos de inteligência, capacidade que faltou ao "arranjo de dinâmica golpista", nos termos do ministro Alexandre de Moraes, do STF, para autorizar a operação da PF biblicamente batizada de Tempo da Verdade.
O que houve de sobra nos planos de golpe foi
a certeza de impunidade, aliada à burrice orgulhosa e à mais pura chinelagem.
Anderson Torres alertou, mas nenhum dos cúmplices da subversão —nem mesmo o
ex-ministro da Economia Paulo Guedes,
tão técnico e tão "limpinho"— quis medir os riscos. Para manter o
poder e as boquinhas ricas, toparam desacreditar e se mobilizar contra o
sistema eleitoral.
Torres, em cuja casa foi encontrada a famosa
minuta —mais tarde, imagine você, submetida ao copidesque de Bolsonaro—, não
deu ouvidos a suas palavras. Tanto que esteve preso durante quatro meses em
2023, acusado de ter sido conivente com a insurreição fascista que depredou as
sedes dos Três Poderes em Brasília. Ao menos, ele já conhece o
caminho que seus companheiros, entre os quais cinco oficiais-generais de quatro
estrelas, deverão seguir num futuro próximo.
Considerado o bambambã das Forças Armadas
para comunicação criptografada, Augusto Heleno mantinha uma espécie de
"diário do golpe", com anotações do próprio punho. O caderninho
estava na casa do general, à espera de ser apreendido pela PF.
Homem que iria acabar com a criminalidade no
Rio, Braga Netto chamava o comandante do Exército de "cagão" e
infernizava a vida dos colegas de farda, via zap, com figurinhas de personagens
da Escolinha do Professor Raimundo. Era golpe ou zoação da quinta série?
Uma tentativa de golpe tabajara.
ResponderExcluir