Por Carlos Alexandre de Souza, Denise Rothenburg e Vinicius Doria / Correio Braziliense
O ex-reitor
da UnB, ex-governador e ex-ministro da Educação chega aos 80 anos com a
inquietude de sempre. Ao Correio, o professor faz um balanço crítico de sua
trajetória, aponta erros do MEC e avalia o atual governo, a polarização
política e a sucessão de Ibaneis no DF
A dois dias
de completar 80 anos de idade, o professor, ex-reitor da Universidade de
Brasília, ex-governador do Distrito Federal e ex-ministro da Educação Cristovam
Buarque faz uma reflexão. “Ainda não me dei conta de que fiquei velho, mas sei
que tenho pouco tempo daqui para a frente.” Ele sabe, porém, o que fazer com
esse tempo. “Não quero gastar indo atrás de eleitor, quero gastar indo atrás de
leitor.”
Escritor
compulsivo e pensador inquieto, Cristovam perdeu a conta de quantos livros
publicou ao longo da vida, mais de 100. Nesta entrevista ao Correio,
o professor revela que vêm mais dois títulos por aí. Aos jornalistas Denise
Rothenburg, Carlos Alexandre de Souza e Vinicius Doria, o ex-governador do DF
faz um balanço — com muitas autocríticas — de sua trajetória pública e avalia o
momento atual da política brasileira.
Lula 3, polarização, emergência climática e transição energética, sucessão do governador do DF, tudo passa pelo olhar crítico do acadêmico, que não pensa mais em voltar para a política. “Quero ficar no banco dos filósofos”, diz ele. Entre cenários otimistas — “Lula vai acertar na economia” — e pessimistas — “Não vamos dar o salto na educação” —, Cristovam não crê em terceira via, defende a união das esquerdas e alerta para a possibilidade de o pós-Lula ser representado pelo que chama de “direita reciclada”.
O senhor
está completando 80 anos. O que mais lhe marcou na sua carreira política?
Ter sido
governador do Distrito Federal. Fui o segundo governador eleito, (Joaquim)
Roriz foi o primeiro. E em uma cidade com poucos anos de idade e cheia de
problemas, de desafios. Além disso, ser o primeiro governador eleito pelo
Partido dos Trabalhadores, em um grupo de oito partidos diferentes, um deles
com vocação hegemônica. E, para completar, um partido vinculado totalmente ao
sindicalismo numa unidade da Federação em que o maior empregador é o próprio
GDF. Guardo muito o desafio que representou ser o maestro desse imenso conjunto
de músicos, cada um querendo tocar uma partitura diferente. Eu tinha algumas
bandeiras claras, implantar o Bolsa-Escola, fazer a reforma da educação, o
Saúde em Casa, uma experiência que nunca tinha sido feita. Mas, se você
perguntar qual desses cargos todos o que eu mais lembro com gosto, foi ser
reitor da UnB.
E a sua
experiência como ministro da Educação?
Houve
choques, inclusive, uma coisa que eu lamento ter feito — acho que foi
inexperiência minha — com o presidente Lula. Eu dizia coisas que um ministro
não pode dizer. Eu disse que não precisava do (programa) Fome Zero. Para acabar
com a fome, bastava pegar o Bolsa-Escola, que o (ex-presidente) Fernando
Henrique Cardoso tinha copiado do nosso do GDF, aumentar um pouco o valor e dar
para todo mundo. É claro que o Lula ficou furioso, porque ele acreditava
naquilo, que era possível resolver a fome produzindo comida. Para resolver a
fome no Brasil, primeiro é colocar dinheiro no bolso do povo. E, para mim, era
claro que o ministro tinha que ser da educação, não do ensino superior. Tentei,
inclusive, convencer o Lula a criar o Ministério da Educação de Base.
Por que ele
não criou?
Pressão de
sindicatos, universidades, Andes, Fasubra, UNE, todos achavam que se
transformasse o MEC em Ministério da Educação de Base o dinheiro da
universidade iria embora. Minha proposta era diferente, era pegar a Secretaria
de Ensino Superior e levar para o Ministério da Ciência Tecnologia ou criar o
Ministério do Ensino Superior. Mas Lula queria, e conseguiu, priorizar o ensino
superior. Ele me disse, quando me demitiu por telefone (em 2004), com aquele
jeitão dele: “Companheiro, eu quero um ministro que agarre mais no ensino
superior”.
Já se
passaram mais de 20 anos desde que o senhor deixou o ministério, e o Brasil
ainda tem resultados catastróficos na educação. Por quê?
A educação
no Brasil é uma questão municipal. Os municípios não têm dinheiro e são
desiguais. Agora mesmo, o ministro Camilo (Santana) lançou um programa de
alfabetização aos 8 anos. Não vai funcionar. Há município que não tem
condições. Tinha que ter uma campanha em que a União adotasse as cidades que
não têm condições. É o que eu chamo de federalização.
Quando o
senhor diz federalizar, significa o quê?
Tem razão
quem diz que a gente gasta muito em relação aos resultados. Mas tem razão quem
diz que, para dar um salto e ficar igual à Finlândia, a gente precisa gastar
mais um pouco. Federalizar é ter uma carreira nacional do magistério, com
salário pago pela União.
Seria tudo
estatal?
Eu disse
federal, não, necessariamente, estatal. E público. Uma das coisas que a
esquerda precisa descobrir é que público não é sinônimo de estatal, e estatal
não é sinônimo de público. É assim que eu imagino um sistema público de
educação, para igualar pobre e rico na mesma escola.
O MEC ainda
está longe dessa revolução?
O MEC não é
Ministério da Educação. O MEC, como está hoje, é o Ministério do Ensino
Superior. Deveria tirar o C e botar o S. Quem manda no ministério são as
universidades.
Qual sua
opinião sobre o novo ensino médio?
Votei a favor. O projeto, da época do Temer, foi um avanço. Foi um erro as
corporações quererem barrar aquilo, a ideia das trajetórias (trilhas de
aprendizagem). Isso está em Paulo Freire. O aluno tem que escolher o que ele
quer estudar, não todas as disciplinas, mas algumas que são fundamentais. O que
eu proponho, primeiramente, é tirar essa conotação de médio. Quando a gente diz
ensino médio é porque existe o fundamental e existe a universidade, e o médio
está ali, no meio. A educação de base tem que terminar depois do chamado ensino
médio, que eu chamaria de fase conclusiva. O Brasil criou a mania de que a
educação se conclui na universidade. A educação tem que se concluir antes da
universidade.
Então, a
universidade não é para todos?
A educação
tem que ser para todos que querem. Mas tem que acabar com essa ideia de que é
para todos. É falso. No dia em que a universidade for para todos será o mesmo
que dizer que a Seleção Brasileira de futebol é para todo mundo que bate bola.
Não é. A Seleção é para uma minoria.
Há outras
discussões paralelas que acabaram entrando no debate no último governo, como
home schooling, escolas militares, questões de gênero, doutrinação da esquerda.
Isso atrapalha?
É claro que
é um absurdo essas ideias trazidas pelo governo Bolsonaro e pelos reacionários,
a maioria com cunho religioso e, às vezes, é reacionarismo mesmo. O problema de
gênero, de sexo, é absurdo não se tratar disso nas escolas. Isso faz parte da
formação. Eu não falei que o menino tem que sair da escola com o mapa de como
buscar sua felicidade? Então, ele tem que conhecer a sua sexualidade, ele não
pode ter medo nem querer se esconder. Se for gay, tem que ter orgulho de ser
gay. Isso é um direito que não vai demorar muito. Erotização precoce? Isso não
é bom. A melhor solução é se falar tudo na escola sobre sexo desde que a
criança pergunte. A gente não vai passar nada para criança antes que isso
atenda à curiosidade dela. Por que o debate caiu para isso, por que os pais
querem os filhos em escola militar? O povo quer porque a escola que não é
militar virou um caos. O que os pais querem é que não tenha greve, que menino
respeite o professor, que não tenha violência. Eu errei porque não consegui
formular uma escola que ensine dando liberdade com disciplina.
Como o
senhor vê o avanço do ensino a distância (EAD) e das novas tecnologias?
Não dá para
ficar contra o ensino a distância. Temos é que exigir qualidade. Vamos lembrar
do que aconteceu 100 anos atrás. Essa coisa esquisitíssima chamada cinema
descobriu que podia fazer arte dramática. Agora, imagine filmar uma peça no
palco e passar no cinema. Seria muito chato. Mas foi o que fizemos na pandemia
da covid-19. A gente transmitiu pelas redes sociais uma aula presencial. Temos
que fazer como o cinema fez com a arte dramática, uma nova linguagem, com
efeitos especiais, trazer o mundo para dentro da aula. Chamo isso de peças
pedagógicas cinematográficas. Criança não aguenta aula teatral, professor no
palco com quadro-negro e alunos na frente. Tem que ter Google dentro da sala,
YouTube. No ensino médio, pode ser presencial sem ser teatral. E se o aluno
naquele dia não quiser ir à escola, ele liga o aparelho dele, assiste à aula e
se comunica com o professor. É isso que tem que mudar. É como se a gente
estivesse no tempo dos automóveis, mas andando de carruagem. Temos que
substituir a carruagem da sala de aula.
O senhor
foi ministro da Educação no primeiro mandato do presidente Lula. Lula 3 é mais
do mesmo ou é algo mais?
Tem muita
coisa do mesmo, e vou apontar uma: a prisão do presente. Lula é um gênio de
buscar a unidade no presente, mas não trouxe o salto para o futuro. Ele é uma
maravilha para aprovar leis para trazer de volta Bolsa Família, mas ele ainda
não disse como é que, no Brasil, daqui a 20 anos, ninguém precise do Bolsa
família. Não é possível que este país vá precisar pela vida inteira de um Bolsa
Família. Outro exemplo, o Brasil trouxe de volta algo que estávamos perdendo,
que é a proteção das florestas, mas ele ainda não disse como será a indústria
que vai conviver com as florestas. Lula ainda não é um estadista do futuro como
foi Juscelino Kubitschek. Mas eu me orgulho de ter apoiado Lula desde 2020. Não
tinha que ter terceira via.
Por quê
não?
Escrevi
muitos artigos sobre o Lula como um grande estadista planetário. Não há ninguém
no mundo, hoje, com as condições de Lula. Quando ele fala, fala como cidadão do
mundo, mas não vê o longo prazo. Lula precisa ser maior do que já é, falta a
ele inspirar para o futuro.
Ele peca na
questão da transição energética, por exemplo, com um discurso dúbio de defender
a descarbonização e, ao mesmo tempo planejar extrair petróleo na Amazônia?
Ele tem
essa ambiguidade porque o petróleo é o presente. Lula faz o jogo do presente,
ainda que tenha um discurso para o futuro em matéria energética. Mas ele tinha
que radicalizar mais e não deveria estar insuflando a exploração de petróleo na
Foz do Amazonas, ainda que seja a 500km de distância.
Mesmo
sabendo que há uma fortuna enterrada lá?
Fortuna
hoje, mas um desastre para o planeta no futuro. Daqui a alguns anos, o petróleo
vai ser tão proibido quanto cocaína porque mata. Não é proibido fumar em
ambiente fechado? Vai ser proibido usar carro a petróleo, que vai servir só
para plásticos, para algumas indústrias químicas. Mas o eleitor quer. Por isso,
é preciso ter líderes que convençam o povo de que é preciso sacrificar essa
fortuna enterrada em nome de uma outra riqueza, que é a do ar limpo. Quem está
conseguindo isso? A China, porque lá não tem eleição para presidente, decidem e
vão em frente.
O problema
são os interesses imediatos?
Dou um
exemplo. Conheço pouco gente tão ecologista como meu amigo Randolfe (Rodrigues,
líder do governo no Senado), mas, lá no Amapá, ele está a favor da exploração
de petróleo porque o eleitor quer.
O eleitor
pensa no boleto para pagar no fim do mês…
É isso, e
para pagar o boleto no fim do mês, dentro desse sistema, ele vai nos levar à
catástrofe ecológica. Nesse ponto, eu sou pessimista sobre o futuro da
humanidade. Como eu acho que não há nada melhor do que a democracia, acho que a
democracia não vai permitir o equilíbrio ecológico. É milagre que a democracia
tenha evitado, até aqui, uma guerra atômica de um país contra outro. O eleitor
sabe que, se jogarem uma bomba aqui, isso vai chegar nele. Por isso, evitam (a
guerra nuclear). Mas na ecologia não tem isso. A ecologia tem uma sensibilidade
de longo prazo que só os filósofos têm. Mas, na hora de pagar o boleto, pensa
no imediato, no preço da carne.
Mas o carro
faz parte da mitologia de Lula: o trabalhador tem que ter carro na garagem,
picanha na churrasqueira e cerveja no freezer.
É um modelo
mitológico porque fica muito vinculado ao indivíduo, e não, ao todo. A
mitologia do Lula é ‘como eu quero que cada indivíduo neste país fique bem’.
Ele não conseguiu ainda o imaginário da mitologia que quer para o Brasil daqui
a 100 anos. E não é só o Lula, nenhum outro (líder) tem.
O senhor
faz reflexões sobre o pós-Lula. Como seria esse futuro?
Essa é a
pergunta para a qual vocês vão ter que me chamar novamente aqui para outra
entrevista (risos). Eu me preocupo muito porque, quando falamos no pós-Lula, é
o futuro sem Lula. Quem vai liderar o novo tempo? Um novo partido? Quem vai
liderar a direita — embora a direita não precise mudar muito?. A direita é
conservadora, somos nós, da esquerda — e eu gosto ainda de usar essa palavra —,
que temos que nos transformar para inventar um mundo novo, sair da nostalgia
ideológica. O direitista tem direito de ser nostálgico, ele quer o passado. Mas
eu quero é um mundo que vá além de (Karl) Marx, que vá além de tudo isso que
está aí que a gente chama de esquerda, que leve em conta as novas mídias, a
inteligência artificial, que leve em conta fim do emprego, a tragédia da
maravilha. Eu uso muito a expressão ‘os erros do sucesso’. É um sucesso, por
exemplo, as famílias terem poucos filhos, mas é um desastre para as finanças da
Previdência. Temos que adaptar a Previdência para essa nova pirâmide etária. A
gente tem que trazer — aí é o mais grave — no discurso da esquerda o
esgotamento do Estado, um esgotamento financeiro. Fomos nos acostumando a
gastar e a gastar.
E o
problema da corrupção?
É o
esgotamento moral, a corrupção está intrínseca na ideia de que o que é público
eu posso levar para casa. Esses dois esgotamentos têm que trazer algo novo.
A esquerda
tem que entender que a iniciativa privada pode ser parceira do Estado?
Esse é o
paradigma. A esquerda tem que entender que o debate com a direita não é na
economia, que, hoje, é muito técnica e dependente do resto do mundo. A economia
vai continuar respeitando a propriedade privada, respeitando o lucro do bom
empreendedor, e o mercado. E não pode mais fechar o país, tem que levar em
conta o resto do mundo em cada decisão de economia. Se a gente proteger agora a
nossa indústria automobilística, por exemplo, o europeu não vai comprar nossa
soja. E não se pode gastar mais do que se arrecada. A esquerda tem que
descobrir o valor da aritmética. Os projetos sociais a gente financia tirando
dinheiro dos ricos. Por que o governo só pode ter mais dinheiro emitindo moeda
ou se endividando? Nesse ponto, Lula acerta ao taxar transações de fundos (dos
super-ricos) no exterior. Tem que tirar também das mordomias do Parlamento, das
mordomias do Judiciário. Mas é cômodo dizer que não há limites para gastar.
Grande parte da esquerda se acomodou porque caiu no eleitoralismo.
Muitas
dessas medidas, como o imposto para super-ricos, passam pelo Congresso. É
possível fazer essas mudanças com esse Parlamento que temos?
Não sou
otimista. Temos duas alternativas. Uma, que eu não defendo, é aceitar que não
dá para fazer e ponto. A outra é: ‘vamos negociar ?’. Acho (a negociação)
perfeitamente legítima. O que eu não sei são os limites do possível.
Como senhor
vê a participação dos militares na política brasileira?
Um tema que
me interessa muito, porque é polêmico, são os limites da questão militar. Um
dos fracassos da nossa democracia é não enfrentarmos essa questão. Em 40 anos
de democracia, a cada eleição precisamos esperar para saber se teremos ou não
um conjunto de generais omissos. Os (oficiais) ruins tentaram dar o golpe (em 8
de janeiro), os demais foram omissos. Nenhum desses omissos deu voz de prisão
aos golpistas. Para mim, foi pura sorte que os omissos não mudassem de lado.
Temos que mudar a própria ideia de Forças Armadas para Forças de Defesa.
Essa não
foi a inspiração para a criação do Ministério da Defesa?
O
Ministério da Defesa tem me parecido ser duas coisas: o representante sindical
das Forças Armadas para conseguir mais dinheiro e o rivotril da sociedade
(risos).
É o
ministério do “muita calma nessa hora”?
Sim. Temos
que ter a consciência de que esse pessoal está aí para defender a pátria, as
fronteiras. E cada vez mais vai diminuir o papel da Defesa com base na
infantaria e na cavalaria. Cada vez mais, será com base na ciência. Eu até
imagino um sistema de defesa nacional onde estejam militares e universitários,
cientistas de tecnologia.
Como o
senhor avalia o seu conterrâneo José Múcio Monteiro, ministro da Defesa?
Ele é um
excelente farmacêutico e líder sindical dos militares. É o ministro que atende
muito bem a questão do orçamento (militar) junto ao presidente e é o ministro
do “muita calma nessa hora”. Mas, pelo que vejo, nem ele nem os anteriores
podem ser chamados de líderes das Forças Armadas.
O senhor
acha que estamos livres de riscos à democracia?
Nos
próximos meses, sim. Mas é claro que vejo riscos, não mudou nada, só tivemos a
sorte de ter generais omissos que não entraram no golpe e de ter um ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) obsessivo. Alexandre de Moraes é uma pessoa
obsessiva, corajosa na defesa das regras, da democracia. Tivemos a sorte de o
presidente ser Lula, com o carisma dele. E a maior de todas as sortes: o outro
lado ser um idiota, que é Jair Bolsonaro, que foi um capitão expulso do
Exército. Imagine se ele fosse um general? Imagine se Alexandre de Moraes não
tivesse essa obsessão, titubeasse um pouco.
Como
ex-governador e cidadão, como vê o Distrito Federal? Brasília melhorou?
Começo pela
política nacional. Eu sou filiado a um partido muito pequenininho, quase
insignificante, que é o Cidadania. Lá, se fala muito que o nosso problema são
os extremos — problema que temos aqui, no Distrito Federal. Mas eu não acredito
na polarização. Esses dois extremos existem porque o centro é vazio. É tão
vazio que chamamos de terceira via, não de via principal. Nessas eleições
municipais, muito nacionalizadas, defendo que nós, que não estamos nos
extremos, precisamos ganhar a disputa moral, ser reconhecidos como parte da
família progressista.
Não foi o
que Lula fez na última eleição, se aproximar do centro?
Mas era uma
estratégia eleitoral, que deveria ser feita. Estou falando dos próximos cinco
anos para recuperar a credibilidade. Falo do meu caso, eu me distanciei muito
desse pessoal, votei no impeachment (da presidente Dilma Rousseff), tenho uma
posição econômica completamente diferente da esquerda. A economia não é um
debate para a esquerda, tem regras técnicas. A esquerda entra na hora de
distribuir o que a economia produz e, mesmo assim, com cuidado para os
empresários não irem embora. Precisamos mostrar que temos um lado. Precisamos
mostrar esse lado no DF, mas está difícil. Precisamos dar apoio a uma via
progressista que enfrente os conservadores do entorno do governador Ibaneis
Rocha.
Nesse
Brasil pós-Lula, Fernando Haddad seria o nome para sucedê-lo?
Se a
escolha fosse minha, seria o Haddad um bom pós-Lula. Mas eu não pergunto do
ponto de vista eleitoral, falo de carisma, de competência, e ele não tem como
Lula tem. Ninguém tem.
E o
vice-presidente Geraldo Alckmin?
Poderia,
mas será que ele consegue ser o pós-Lula diferente do Lula e mantendo o apoio
do PT? Alckmin está em uma posição privilegiada, é ministro da indústria em um
momento em que se necessita de uma nova indústria no mundo. Mas ele não trouxe
nada ainda. E colocou no lugar de quem pode fazer isso Rodrigo Rollemberg
(secretário de Economia Criativa do Midc), que está pensando em ser deputado,
está ali passando o tempo. Eu temo que o pós-Lula venha de uma direita
reciclada.
E quem
representaria melhor essa direita?
O
(governador de Goiás, Ronaldo) Caiado poderia trazer uma proposta reciclada. No
Brasil, a disputa não se dará no debate econômico, porque Lula vai acertar na
economia. O grande debate vai ser na segurança pública. Caiado vai pegar essa
questão da segurança porque, dizem, deu um jeito em Goiás.
E o
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas?
Seria outro
nome, mas todo mundo está dizendo que ele quer permanecer (no cargo para tentar
a reeleição). Se ele sair sem apoio de Bolsonaro, perde. Se tiver o apoio, vai
ter dificuldades também.
Para a
sucessão de Ibaneis, quem poderia ter chance de vitória?
Para unir,
temos que pensar em ideias, depois se define um critério para escolher o nome,
mas vai ser difícil um nome que venha do zero. Até porque Ibaneis tem um nome,
a (vice-governadora) Celina Leão, que é muito presente. Hoje, a gente não tem
essa personalidade para unificar. Fazia tempo que não conversava com a senadora
Leila (do Vôlei). Também conversei com (o ex-candidato do PT ao governo do DF)
Leandro Grass. Precisamos criar um bloco progressista.
Se
Rollemberg voltar para a Câmara, poderia ser incluído nessa lista?
Ele pode
voltar a ter visibilidade, mas, para ser candidato (ao GDF), eu não acredito
nem acho que ele queira.
Na última
eleição, Grass perdeu para Ibaneis no primeiro turno. Os três governos
progressistas no DF — o seu, o do Rollemberg e o de Agnelo — foram muito
criticados. Por quê?
Primeiro,
não é só culpa nossa. O fato é que o Brasil entrou em um processo de
antiesquerdismo. E por que entramos nisso? Problema nosso. Escrevi um livro
sobre isso — Por que nós falhamos — o Brasil de 1992 a 2018 —, que vai de
Itamar Franco a Michel Temer. Fui convidado para uma palestra na Universidade
de Oxford (no Reino Unido) em que o tema era “Por que Bolsonaro ganhou?”. Disse
que não tinha o menor interesse, mas, se quisessem que eu falasse sobre “Por
que nós perdemos”, eu iria.
O senhor
pensa em voltar à política?
Não, quem
tem 80 anos não pensa em voltar.
Como o
senhor chega aos 80 anos?
Sem dúvida
alguma, houve uma melhora no país, mas aumentou a brecha de esperança de vida
entre quem tem acesso a serviços médicos e quem não tem. Os ricos, quem tem
acesso, vivem muito mais. Eu faço parte desses que têm acesso privilegiado.
Mas, confesso, ainda não me dei conta de que fiquei velho. Faço tudo o que
fazia, só que com menos vigor, mais devagar. Mas eu tenho uma percepção, que é
o tempo adiante. A cara que eu tenho no espelho não mudou muito nos últimos dez
anos, mas sei que tenho pouco tempo daqui para a frente. Isso muda meu dia a
dia. Quando se fala em voltar para a política, eu vou ter que gastar um tempo
que eu não quero gastar indo atrás de eleitor. Quero gastar indo atrás de
leitor.
O senhor
quer ficar no banco dos filósofos?
Sim, acho
que eu tenho uma contribuição a dar no banco dos filósofos maior do que no
banco dos estadistas, dos políticos.
O que mais
o marcou ao longo desta trajetória de vida?
Tem uma
coisa que me marcou muito, a greve dos professores quando eu era governador. E
que me derrotou, inclusive (na campanha pela reeleição).
O professor
foi traído pelos professores?
Traição é
uma palavra muito forte, mas o sindicato, depois se soube, vivia uma luta
política interna. E, talvez, eu não tenha feito o que eles queriam. Talvez
tenha sido um purismo meu. O mesmo purismo que me levou a votar pelo
impeachment (de Dilma Rousseff). Foi um erro ter votado no impeachment da
Dilma. Acho que ela cometeu, sim, irresponsabilidade fiscal. Mas, com isso, eu
sacrifiquei, inclusive, a minha possibilidade de contribuir. Eu perdi minha
reeleição (ao Senado) por isso. E eu estava com a reeleição ganha, mas
cochilei, fiz uma campanha de salto alto. E o bolsonarismo pesou. Eu reconheço
que foi um erro, do ponto de vista político, apesar do acerto do ponto de vista
da coerência. Naquele momento, mudei de lado. A minha turma votou contra o impeachment,
mas eu queria ser macho com minha coerência e votei a favor. Foi uma pisada de
bola. Se me arrependo? Difícil dizer, nem sabia o preço a pagar. No prédio onde
moravam minhas netas, na época com 5 e 8 anos, estenderam uma faixa “Meu vovô é
golpista”. Jogo baixo. Eu entendo a raiva, mas a raiva não é boa conselheira.
Aos 80
anos, o que o senhor ainda quer fazer?
Boa
pergunta. Não vou dizer algo impossível, que é ver o Náutico campeão (risos).
Eu quero continuar escrevendo. Em 8 de março eu lanço um livro de conversas com
(o economista e um dos pais do Plano Real) Edmar Bacha. E vou lançar uma ficção
em abril ou maio. O personagem principal é um jornalista do Correio que faz uma
investigação sobre meninos que desaparecem em Planaltina. Ele tem uma moto
velha e uma namorada em Sobradinho. E eu misturo evasão escolar com
desaparecimento. O título vai ser Os náufragos, que é como eu chamo as crianças
que saem da escola, que caem no mar da desescola e não têm futuro.
IMPERDÍVEL! Algumas reflexões importantes (inclusive autocríticas) de um dos maiores EDUCADORES brasileiros e de um político realmente HONESTO! Além disto, que não é pouco, também é um grande escritor! Parabéns ao entrevistado, e ao blog que divulgou esta magnífica entrevista!
ResponderExcluirNOS ÚLTIMOS 21 ANOS O BRASIL,
ResponderExcluirQUANDO SE MEXEU, ANDOU PARA TRÁS !
■E o que mais fracassou nestes últimos 21 anos foi a... E.D.U.C.A.Ç.Ã.O !
=》E Cristóvão Buarque foi parte deste fracasso.
QUE ENTREVISTA PATÉTICA !
■■■Poucas vezes eu vi alguma entrevista tão à vazia como esta do Cristóvam Buarque!
■■O Critovám, nesta entrevista, ficou como um jogador de futebol atrapalhado no jogo:: faz que vai, não vai; depois volta e a tentar ir outra vez e não vai... E quando Cristovam finalmente chuta, a bola vai para fora ou ele faz gol contra.
■O pior é que depois de chutar o Cristóvão pensa -ou finge que pensa- que fez um gol a favor.
■Ao final da entrevista não sobra nada que valha a pena. Talvez uma fala de umas quatro palavras soltas ali, outro dropszinho com um quadradinho de palavras acolá....
=》Quando Cristóvão fala em quatro palavras que economia é técnica ele acerta o drible. Aliás, essa fala de quatro palavras desmonta aquele palavrório ridículo da professora ideologizada que foi publicada aqui ontem, a Clara Mattei.
■■■A VERDADE SOBRE A REALIDADE
DO BRASIL DEPOIS DE 21 ANOS DE LULA E PT
■A verdade é que o Brasil está vivendo por nada faz 21 anos.
=》O Brasil só não está completamente estacionado há 21 anos porque em várias coisas, e das mais importantes, o Brasil nos últimos anos ANDOU PARA TRÁS!
=》A EDUCAÇÃO no Brasil PIOROU nestes últimos 21 anos;
=》A SEGURANÇA no Brasil PIOROU nestes últimos 21 anos;
=》A ECONOMIA do Brasil foi estraçalhada por Lula e o PT nestes últimos 21 anos;
=》O Brasil foi fortemente DESINDUSTRIALIZADO nestes últimos 21 anos;
=》OBrasil ESTÁ SENDO USADO para fortalecer os interesses das ditaduras nestes últimos 21 anos.
O BRASIL NÃO VAI AGUENTAR
■■O Brasil não vai conseguir ficar em pé se tivermos mais 10 anos iguais a estes trágicos últimos 21 anos!
=》Dos escombros da ditadura de 1964 o governo Fernando Henrique conseguiu limpar o Brasil e prepará-lo para voltar a crescer. Lula e o PT DESTRUÍRAM TUDO é Bolsonaro agravou, em vez de começar a reverter. Se as coisas continuarem assim, o Brasil vai desabar completamente em cima das cabeças de seus velhos, dos aposentados, das crianças, dos trabalhadores, dos empresários...
●Vai ser um Arrasa Quarteirão:: não vai sobrar nada para recomeçamos.
O Brasil vai se generalizar nas delinquências políticas e na corrupção de Lula, nós deboches e nas caixas de dinheiro de Bolsonaro, no ratátátátá do Comando Vermelho....
Edson Luiz Pianca
@edson_pianca