Correio Braziliense
Gilmar e Toffoli foram os principais
interlocutores do Supremo com o mundo político, mas Lula tem, agora, outros
dois ministros de suas relações de confiança. Há limites éticos para isso
O ex-governador e ex-senador Flávio Dino, aos
55 anos, novo ministro do Supremo Tribunal, tomou posse, ontem, na vaga de Rosa
Weber. Na cerimônia, apenas falou o presidente da Corte, ministro Luís Roberto
Barroso: “Me limito a fazer uma brevíssima saudação de boas-vindas ao ministro
Flávio Dino, que é uma pessoa recebida por todos nós com muita alegria”. Dino
jurou cumprir a Constituição, assinou o termo de posse, depois se retirou para
participar de uma missa na Catedral de Brasília. Dispensou a tradicional festa
organizada pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB).
À posse minimalista, compareceram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e 900 convidados. Dino será o ministro mais político da Casa, com muita capacidade de interlocução com o Executivo e o Legislativo. A experiência na gestão dos problemas da sociedade e suas conexões com o Judiciário devem pautar sua atuação na Corte.
Se não mudar de ideia no meio do caminho,
abandonando o Supremo antes dos 75 anos, como muitas vezes acontece, Dino será
ministro por 19 anos. No discurso que fez ao se despedir do Senado, não
descartou a volta à vida político-partidária: “Não sei se Deus me dará a
oportunidade de estar novamente na tribuna do Parlamento, no Senado ou na
Câmara”. Talvez tenha sido um gesto afetivo aos colegas parlamentares, mas,
também, pode ter um projeto mais ambicioso, se considerarmos a sua trajetória,
pois era visto como um potencial candidato à Presidência, na sucessão de Lula.
Flávio Dino de Castro e Costa (São Luís, 30
de abril de 1968) formou-se em direito pela UFMA e concluiu o mestrado na
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2001. Foi auxiliar judiciário do
Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região e atuou como advogado. Foi juiz
federal da 1ª Região de 1994 até 2006. Pediu exoneração da magistratura para se
candidatar ao cargo de deputado federal pelo Maranhão, filiando-se ao PCdoB,
mandato que exerceu de 2007 a 2011.
Diretor da Escola de Direito de Brasília do
Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e presidente do Instituto
Brasileiro de Turismo (Embratur), durante o governo de Dilma Rousseff,
elegeu-se governador do Maranhão em 2014, no primeiro turno. Com 63,52% dos
votos válidos, obteve espetacular vitória contra o grupo político liderado pelo
ex-presidente José Sarney. Reeleito em 2018, também no primeiro turno, com
59,29% dos votos válidos, trocou o PCdoB pelo PSB para se eleger senador em
2022.
Interlocutor privilegiado
Ao escolher Dino, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva pôs no Supremo um político com saber jurídico e lealdade
comprovada, o que aumenta a interlocução do governo junto à Corte, que já havia
sido reforçada pela indicação do seu ex-advogado Cristiano Zanin. Essa
interface também foi ampliada pela presença de Ricardo Lewandowski, ex-ministro
da Corte, no Ministério da Justiça e Segurança Pública. Nos últimos anos, os
ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli foram os principais interlocutores do
Supremo com o mundo político, mas Lula tem, agora, dois ministros de suas
relações de confiança. Obviamente, há limites constitucionais e éticos para
essa interlocução.
O fato de que Dino era visto como potencial
candidato à sucessão de Lula incomodava muito o PT. Mas não a ponto de a cúpula
da legenda apostar suas fichas no ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Uma das
preocupações do presidente da República é com a sobrevivência do PT após deixar
o poder. A legenda abriga divergências políticas incontornáveis e rivalidades
pessoais que podem comprometer seu futuro.
Dino é carismático. À frente do Ministério da
Justiça, exerceu um papel destacado na crise de 8 de janeiro de 2023. Tem
formação sólida e experiência jurídica para se destacar pela qualidade de suas
decisões. E pode assumir um comportamento completamente diferente do estilo
“bateu, levou” que havia adotado no Ministério da Justiça. Ou seja, preferir
falar pelos autos e se movimentar nos bastidores da política com discrição.
Uma das características dos ministros do
Supremo é o perfil de “sujeito iluminista”, o “penso, logo existo”, na qual
cada integrante atua como se fosse a própria Corte. Hoje, há forte
questionamento no Congresso quanto às decisões monocráticas em relação aos
demais Poderes. Dino tem o perfil de “sujeito sociológico”, que plasma decisões
no contexto histórico e político.
Muito bom o artigo.
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