terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Luiz Carlos Azedo - Lula chamou Netanyahu para dançar um minueto

Correio Braziliense

Lula errou politicamente. Não sabemos se foi arroubo de oratória ou deliberado. Não vai se desculpar, porém já sabe que precisa relativizar as declarações sobre a guerra de Gaza

De origem aristocrática, o minueto foi uma dança muito popular na corte de Luís XIV, o Rei Sol, monarca conhecido pela frase-síntese do absolutismo: "L'état, c'est moi" (o Estado sou eu). Nos séculos XVII e XII, difundiu-se pela Europa, com ecos por aqui, por ser uma dança alegre e de passos miúdos, que não exigia um grande vigor físico, mas apenas ritmo para acompanhar o compasso 3/4. O minueto inspirou nossos sambistas a dançarem o "miudinho"; na política, "dançar miudinho" é sinônimo de saia justa, isto é, um grande constrangimento.

Muitos compositores incluíram o "minuit" em suas sonatas, sinfonias e músicas de câmara, como Bach, Haydn, Mozart, Beethoven e Paderewski. O minueto da Sinfonia nº 40 de Mozart, porém, nada tem de elegante nem gracioso, mas exprime um grande sentimento de angústia. É mais ou menos o que está acontecendo com a diplomacia brasileira após as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o massacre israelense em Gaza, em retaliação ao atentado terrorista do Hamas.

Lula chamou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para dançar um minueto, mas errou o compasso. Ao comparar o líder israelense a Hitler, e a situação dos palestinos em Gaza à dos judeus nos campos de extermínio nazistas, cometeu um grave erro diplomático, porque tirou a questão da trégua humanitária e das negociações de paz do seu contexto e provocou uma crise diplomática entre Brasil e Israel. Netanyahu, um político populista e experiente, que confronta até os aliados, acusou Lula de antissemitismo, um trauma secular para a comunidade judaica do mundo inteiro, inclusive aqui no Brasil.

Netanyahu reagiu de forma virulenta como sempre faz, mas foi hábil ao tirar de foco o massacre promovido pelas Forças de Defesa de Israel em Gaza, uma retaliação desproporcional ao atentado terrorista do Hamas, mesmo considerando-se a questão dos reféns. Além disso, declarou Lula persona non grata em Israel e humilhou o embaixador brasileiro Frederico Salomão Duque Estrada Meyer ao convocá-lo para uma reprimenda oficial no Museu do Holocausto e não na sede do Ministério de Relações Exteriores.

Com 70 anos, Meyer é um embaixador experiente, que já atuou no Cazaquistão, de 2006 a 2011, e no Marrocos, de 2011 a 2015. Também serviu nas missões diplomáticas brasileiras no Iraque, na Rússia, na Suíça, em Cuba, na Guiana e junto às Nações Unidas. Certamente, se fosse consultado, recomendaria ao presidente Lula focar suas declarações nas negociações em curso entre Israel e o Hamas, via Estados Unidos, Egito e Catar, para libertação dos reféns e uma nova trégua humanitária. Deixar o confronto pessoal com Netanyahu em segundo plano.

A resposta de Lula não foi nem será um pedido de desculpas, como exigem Netanyahu e a comunidade israelita no Brasil, o que seria uma humilhação. Foi também escalar a crise diplomática, ao convocar o embaixador de Israel no Brasil para uma dura conversa com o chanceler Mauro Vieira e chamar o embaixador Meyer de volta ao Brasil. No rito diplomático, são mensagens duras, que antecedem rompimentos diplomáticos, porém, na maioria das vezes são chumbo trocado, e param por aí mesmo.

Genocídio e antissemitismo

A esquerda brasileira acusa o atual governo de Israel de genocida, enquanto a direita revida qualificando-a de antissemita. As duas narrativas dominam os debates sobre a guerra de Gaza nas redes sociais e na mídia, mas a nossa diplomacia não pode cair nessa armadilha, ou seja, na polarização política que existe no Brasil. Netanyahu é aliado de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem informações privilegiadas sobre a situação do Brasil, até porque houve intensa colaboração entre os serviços de inteligência dos dois países. Sabe que a extrema direita brasileira é influente no Congresso e tem apoio de grande parcela da população.

A recíproca não é verdadeira na relação de Lula e do PT com a oposição a Netanyahu em Israel. Historicamente, a esquerda brasileira apoia os países árabes. Além disso, há um antissemitismo mascarado como antissionismo na sociedade brasileira, desde o período colonial. O Brasil presidiu a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que criou o Estado de Israel e sempre foi a favor da solução de dois estados para o conflito árabe-israelense. Tanto o Likud, partido de Netanyahu, como o Hamas, doutrinariamente, apostam na guerra contra essa solução.

Lula errou politicamente. Não sabemos se foi arroubo de oratória ou deliberado. Não vai se desculpar, porém já sabe que precisa relativizar as declarações sobre a guerra de Gaza, via a diplomacia, ou o Twitter da primeira-dama Janja da Silva. Tenta descolar sua crítica a Netanyahu da comunidade judaica, mas isso é leite derramado. Há uma questão subjacente que mereceria outra coluna, mas podemos resumir. Há um erro de conceito na sua diplomacia presidencial, que pode resultar num desastre para a política externa brasileira.

Lula era um líder dos países em desenvolvimento reconhecido e respeitado em todo o Ocidente. Ao tentar projetar sua liderança para além da esfera de influência da nossa liderança regional e da posição de 9ª economia do mundo, como fez na guerra da Ucrânia e, agora, em Gaza, não tem consenso interno nem projeção de poder para isso. Ou seja, dá um passo maior do que as pernas e se desgasta junto aos aliados dos países desenvolvidos. O papel de líder no Sul Austral, apenas, não vale essa troca.

 

7 comentários:

  1. https://www.trtworld.com/magazine/israel-is-relentless-in-smearing-any-critical-voice-un-rapporteur-16965320
    OU
    https://www-trtworld-com.translate.goog/magazine/israel-is-relentless-in-smearing-any-critical-voice-un-rapporteur-16965320?_x_tr_sl=auto&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_hist=true

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  2. Quase perfeito, pois também peca no desproporcional. Afinal, quantos palestinos poderiam morrer,serem feridos e sequestrados para que a proporção fosse considerada legal e legítima?

    MAM

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  3. SOLIDARIEDADE PELOS ISRAELENSES
    E PELOS PALESTINOS
    ■Mas sem demagogia.

    =¹》Observando sempre que Israel está lidando com Terroristas e que quem não tiver um entendimento adequado do que isto significa não vai conseguir pensar minimamente a situação como ela é e o que esta situação exige;

    =²》Observando que esta ou qualquer outra situação, seja ela mais complexa ou mais simples, se for pensada por quem é doutrinado à esquerda ou à direita, este perde a capacidade de pensar qualquer coisa sem que contamine o pensamento com os seus condicionamentos e as "verdades de seu viés ideológico;

    =³》Observando que terroristas são instrumentalizados por forças políticas antiliberais e antidemocráticas. E no caso Israel-Palestinos há, de um lado do território, Israel, um Estado democrático isolado na realidade mulçumana; e do outro lado do território há um povo, o povo palestino, que até hoje foi impedido por oligarquias árabes e pelo Irã de organizar seu Estado sem antes exterminar os judeus e acabar com o Estado dos israelenses, cuja referência democrática é um exemplo temido e rejeitado pelas realezas e ditaduras muçulmanas (E a par de que houve, sim, muitas mudanças de posicionamento dos Estados muçulmanos em relação à Israel e estas mudanças que ocorreram entre os árabes favorecem a uma solução da questão, mas ainda há apoio de oligarquias religiosas e de radicais de ultra-direita suficientes na região para sustentar os terroristas do Hamas, e isso hoje está especialmente sendo aproveitado de diversas formas e por diversos motivos por Rússia e China.

    ■■■Considerando também que a radicalização desse conflito levou a que se fortalecessem forças de ultra-direita em Israel, vistas hoje por boa parte da população israelense como garantia de proteção contra o Hesbolah, os Houthis, o Hamas e toda a beligerância de ultra-direita articulada por Putin e pelo Irã, com colaborações dentro do que conseguem de Nicolas Maduro, Erdogam, Lula e gente assim...

    ■■■Há outras questões nisso::

    OS NÚMEROS, POR EXEMPLO::
    ■O HAMAS -e sempre o Hamas, o grupo terrorista- informa número de vítimas e outros números sobre a guerra.

    O Hamas fala em mais de 20 mil mortes.
    ■O exército de Israel contabiliza 12 mil terroristas eliminados e aproximadamente 6 mil deles presos.

    ■■Nem eu, nem a descendente árabe Dorrit Harazim, nem Lula, nem a ONU, nem ninguém sabe os números do sacrifício de combater os terroristas. Após o conflito, outros muitos números irão circular porque há o trabalho sério de pesquisadores (estes números sérios dos pesquisadores serão pouco importantes para as turbas radicais) e há os números que continuarão a ser circulados pelos radicais:: os números informados sem prova pelos terroristas e repetidos pelos que os apoiam.

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    1. ■■O Hamas fez tudo de modo a que::
      í) O maior número de terroristas fiquem vivos;
      ii) O maior número de civis morra (cada corpo de civil, ou de terrorista disfarçado de civil, serve de propaganda a ser repetida pelas máquinas das ditaduras e por seus adestrados).

      ■■■ Se os números de cada lado estiverem corretos (É praticamente impossível estarem corretos os números informados pelo Hamas, já que sabemos que grupos ideológicos, ainda mais os ultra-radicais de direita como o Hamas, não têm nenhum compromisso com a verdade, considerando eles que a verdade não existe e que quando existe a verdade é relativa), mas se os números estiverem corretos, então esta é a guerra travada nas condições de Gaza -um território mais que adensado- em que está ocorrendo o menor número de vítimas não envolvidas na luta, segundo os estudos de guerras nestas situações urbanas.

      TODOS os que lamentam de forma menos ponderada as vítimas o fazem porque é uma consideração que sossega a própria consciência ou fingem que lamentam apenas porque, junto com seus aliados radicais de direita e os radicais ditos de esquerda no mesmo objetivo antiliberal, querem ver interrompido o combate para que o Hamas permaneça ativo.

      ■Querer que o Hamas permaneça ativo atende à vontade das ditaduras e a seus associados - PT e PSOL, inclusive- mas não ajuda a encaminhar nenhuma solução, de modo que o objetivo destes não é resolver o problema, mas proteger os terroristas do Hamas para que eles possam continuar a agir.

      ■■■Há sim, erros cometidos por Israel contra os palestinos. Mas um destes erros não é o combate aos terroristas. Pelo contrário:: os supercovardes terroristas do Hamas submetem os palestinos, os impede há décadas de avançar nas negociações para ter seu Estado antes que o Hamas e Irã consigam exterminar Israel e usam tanto os corpos dos palestinos como escudos humanos, e por isso é que morrem muitos civis, e usam o lugar de vida dos palestinos como base para praticarem terrorismo.

      ■■Não há nenhum genocídio em Gaza. Genocídio é apenas um destes termos terroristas que o PT, o PSOL e aliados sempre inventam para exercerem seu radicalismo, seu ódio e sua irresponsabilidade.

      ■■Todos os acontecimentos neste episódio deverão ser investigados ao final, como tem que ser investigado qualquer episódio assim. Se constatado crime de guerra por parte do Estado de Israel, terá que haver punição rigorosa. Mas os gritos e as mentiras dos aliados dos terroristas não podem servir para impedir que o Hamas seja combatido e saia do conflito covarde que criou em condições de voltar a operar tão cedo.

      ■■■Os apoiadores de terroristas são ainda mais covarde que eles!

      ■■■Aos que são verdadeiramente defensores da democracia cabe hoje apoiar Israel no combate que trava contra os terroristas. Amanhã, terminada a guerra, caberá aos que são democratas verdadeiros voltar a fazer o que sempre fizemos, que é exigir que as condições para o estabelecimento de um Estado Palestino surja.

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  4. O nazismo durou seis anos,se a guerra continuar por esse período,a quantidade de palestinos mortos aumentará exponencialmente,apesar que a quantidade não importa,a carnificina já está feita.

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