Folha de S. Paulo
Insatisfação militar com apurações e voto de
Bolsonaro no impeachment prenunciavam golpismo
Os primeiros sinais mais enfáticos de
politização e insatisfação de setores das Forças
Armadas, notadamente do Exército, começaram a ser notados após a instalação
da Comissão da Verdade durante o governo de Dilma
Rousseff.
No dia 16 de maio de 2012, com a presença dos
ex-presidentes José Sarney, Fernando
Collor de Mello, Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da
Silva, uma cerimônia no Palácio do Planalto, presidida pela então presidente,
que tinha um passado de militância em organização de esquerda da luta armada,
deu início aos trabalhos, embasados em lei aprovada no ano anterior.
Tratava-se, nas palavras de Dilma, de reconhecer que "o Brasil merece a verdade, as novas gerações merecem a verdade e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo". O principal objetivo seria apurar episódios de desaparecimento de mais de uma centena de opositores da ditadura, sem registro de prisão, que teriam sido sequestrados por agentes da repressão.
Em que pesem as ressalvas de que não haveria
ódio ou revanchismo, a
comissão, que apresentou
relatórios em 2014, foi muito mal recebida por militares, que viam na
iniciativa a quebra de um pacto estabelecido em torno da anistia.
A contrariedade com as apurações e com as
pressões que se avolumavam para levar militares a julgamento espalhou-se e
chegou à cólera, notadamente entre os mais radicais, ligados aos chamados
porões da ditadura,
os subterrâneos da tortura e da eliminação de oponentes.
Na votação do impeachment,
ao se formalizar a conspiração que derrotou e depôs a petista, as manifestações
de exasperação eram gritantes.
A mais escabrosa veio no voto contra Dilma
proferido pelo então deputado Jair
Bolsonaro, ex-militar afastado da caserna: "Perderam em 64, perderam
agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula, que
o PT nunca
teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São
Paulo, pela
memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma
Rousseff. Pelo Exército de Caxias, pelas nossas Forças Armadas, por um Brasil
acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim".
A saudação ao notório torturador e demais
considerações eram uma síntese do projeto de governo do futuro presidente.
Antes de chegar ao poder, porém, o maior beneficiário da deposição da
mandatária, Michel Temer,
deu vazão à movimentação militar ao
nomear um general para o Ministério
da Defesa pela primeira vez desde que a pasta fora criada por Fernando
Henrique Cardoso, em 1999 –além de banalizar as requisições das Forças Armadas
para operações de segurança.
Na esteira dos abusos cometidos pela Lava
Jato, que culminaram na prisão sem solidez jurídica de Lula, veio um novo
anúncio do ânimo intervencionista. Por ocasião do julgamento de um pedido de
habeas corpus da defesa do ex-presidente ao STF, no início de
abril de 2018, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, foi
ao Twitter proferir
uma ameaça
–que de velada de fato nada tinha– às instituições, caso os ministros do
tribunal concedessem o pedido.
Ao vencer o pleito, Bolsonaro, como se sabe,
entulhou o governo de militares, com direito a general da
ativa até na Saúde,
cooptou instituições policiais, manipulou a Abin, confrontou
o sistema
eleitoral, ameaçou o Supremo e tentou articular um golpe de Estado, como
agora novas evidências vão reiterando.
Muitos anos (quase oito completos) e muitos
panos se passaram desde que o populista celerado da ultradireita anunciou suas
intenções na votação do impeachment. Só não viu quem não quis. Felizmente, a
democracia venceu.
O filósofo bolsonarista Denis Rosenfield, que nega que 8/1 tenha sido uma tentativa de golpe, certamente não viu porque não quis ver! E continua querendo se fazer de cego... Durante décadas criticou a Esquerda por ser antidemocrática. Acabou apoiando Bolsonaro e seus militares golpistas, amigos do "filósofo"!
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