O Globo
Presidente prioriza entregas e eleições nas
capitais de Minas, São Paulo e Rio para facilitar caminho para a reeleição
Que Lula já está com os dois pés na canoa da
eleição municipal, é perceptível. Mas quanto o presidente enxerga a disputa de
outubro próximo como vital para sua própria reeleição é algo que sua agenda
desta semana ajuda a dimensionar melhor.
O petista traçou um diagnóstico, que
partilhou com aliados caciques de outras legendas, segundo o qual, para ter
tranquilidade na busca pelo quarto mandato, precisa se fortalecer em São Paulo,
Rio e Minas Gerais. Ele já vinha dedicando esforço pessoal à montagem do
palanque de Guilherme Boulos na capital paulista e, com as viagens desta
semana, trata de fortalecer os outros dois vértices do triângulo.
No Rio, primeira perna da caravana da semana, Lula se fez acompanhar de vários ministros e de políticos de diversos partidos, inclusive aqueles com passado ou presente mais próximo ao bolsonarismo. Estava lá o governador Cláudio Castro, numa repetição da tática da aparição de Lula ao lado de Tarcísio de Freitas na semana passada.
Na verdade, Castro é hoje uma ovelha mais
próxima a desgarrar do rebanho bolsonarista que Tarcísio. Aliados do governador
fluminense não descartam nem um desenho em que ele dispute uma cadeira ao
Senado numa chapa que apoie Lula e tenha Eduardo Paes como candidato à sucessão
do governo.
Para a reeleição de Paes, Lula pode convencer
o PT a abrir mão de pleitear a vice. Assim, com uma chapa puro-sangue, o
prefeito se sentiria mais à vontade para deixar o mandato e tentar, de novo, o
Guanabara.
O presidente articula com o PSD a estratégia
municipal tanto do Rio quanto de Belo Horizonte, num pacote fechado. O partido
comandado por Gilberto Kassab governa as duas capitais e terá apoio do PT na
disputa por mantê-las — no caso mineiro, resta apenas combinar se a melhor
estratégia é uma aliança já no primeiro turno ou no segundo em torno de Fuad
Noman.
A trupe que vai com o presidente a Belo
Horizonte para uma série de entregas na quinta-feira também será “pesada”. Lula
tem dito que precisa melhorar sua aprovação no segundo maior colégio eleitoral
do país para chegar forte a 2026. Ele esteve na noite de segunda-feira com o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que estará na comitiva mineira e é
cotado para ser o candidato lulista ao governo do estado daqui a dois anos.
Nem por isso Lula deixou de convidar o
governador Romeu Zema, aquele que — da trinca “conservadora” de governadores
dos estados do Sudeste — é o que mais tem feito movimentos para a disputa
presidencial e mais tem se esforçado para atingir o diapasão do discurso
bolsonarista, com direito ao pacote completo, que vai da estigmatização da
discussão de gênero à negação da vacina. Não se sabe se o representante do
Partido Novo atenderá ao convite, como Tarcísio e Castro, ou apostará ainda
mais na postura de distanciamento do governo federal.
Trata-se de uma aposta de risco. A lista de
obras e programas federais que Lula pretende lançar em BH é pesada, e a
estratégia de “chegar chegando” inclui até a proposital omissão prévia de
alguns anúncios, para causar mais impacto.
Lula montou no detalhe as agendas desta
semana. Mobilizou ministros e o vice, Geraldo Alckmin, para “cobrirem” sua
ausência em cidades de outros Estados da turnê que alavancará o Minha Casa,
Minha Vida. O empenho foi tamanho que o presidente dedicou pouco tempo e
nenhuma preocupação ao recado de Arthur Lira na segunda-feira.
Sua ordem foi que ninguém vestisse a carapuça
ou aumentasse a crise e, quando voltar do road show, ele pessoalmente pretende
se reunir com o presidente da Câmara para tranquilizá-lo dizendo que o governo
não tem interesse algum em criar marola na sua sucessão.
Toda essa costura mostra que 2026 já é uma
folhinha na parede de Lula, aberta concomitantemente à deste ano de eleição
municipal, e os movimentos pelo mapa do país serão feitos agora para colher lá
na frente.
Pode ser.
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