Folha de S. Paulo
Impressionante o desrespeito à cidadania e a
afronta aos direitos humanos
Não há como pensar sobre segurança pública no
Brasil sem considerar o racismo institucional.
A conclusão deveria ser óbvia para quem acompanha o noticiário nacional. País
afora, são reiteradas as situações de abuso e violência cometidos por agentes
de forças policiais contra pessoas negras.
Tem jovem tomando tiro pelas costas, no DF;
disparo de fuzil a queima roupa contra homem desarmado, no RJ; prisão da
vítima no lugar do agressor, no RS; morte por
asfixia em viatura oficial, no SE; E por aí vai...
Contudo, na mais importante unidade da federação o governador decidiu dar de ombros, ironizar e assumir que não está "nem aí" para denúncias de abusos contra negros e pobres durante a Operação Verão, da PM, na Baixada Santista, após a morte de um soldado.
Registros oficiais apontam que, em São Paulo,
as mortes em decorrência de intervenção policial subiram 94% nos dois primeiros
meses de 2024, segundo a Conectas Direitos Humanos e a Comissão Arns, que
apresentaram queixa à Organização das Nações Unidas (ONU) na semana passada.
"Sinceramente, nós temos muita
tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na
Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí",
disse Tarcísio de Freitas a respeito dessa que é a segunda ação mais letal da
história do Estado. Perde só para o massacre do Carandiru.
Impressionante o desrespeito à cidadania e a
afronta aos direitos humanos. Mas a história ajuda a lembrar que a origem da
nossa polícia militar remonta ao século 19, com a chegada de Dom João 6º, em
1808. À época, foi criada a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia do Rio de
Janeiro para proteger os nobres. Um doce para quem adivinhar: proteger de quem?
Segurança pública inclui diversas nuances e
é, com certeza, um tema tão importante quanto complexo. Mas é preciso admitir
que está atravessado pelo vale tudo colonialista alimentado pelo preconceito e
pelo racismo.
Exatamente.
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