Valor Econômico
Para analista, um dos principais fatores do
derretimento do governo nas pesquisas é o erro na estratégia de comunicação
Um observador experiente da conjuntura
política, com trânsito livre no Palácio do Planalto, comparou a queda do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas recentes à queda
de um avião.
A metáfora pode soar sensível, até mesmo
trágica, mas é adequada: acidentes desta gravidade decorrem de uma conjunção de
fatores, e não de uma causa isolada, argumentou a fonte, que pediu anonimato,
em conversa com a coluna.
Na visão deste analista um dos principais fatores do derretimento do governo Lula nas pesquisas é o erro na estratégia de comunicação. “O governo é um exército de um homem só”, ponderou. “Só o Lula se comunica no governo, e, ainda assim, tem errado, e está ultrapassado na forma de se comunicar”, criticou.
Para este analista é preciso que auxiliares
de Lula do primeiro escalão incrementem as ferramentas de comunicação
e dialoguem mais com os brasileiros. Ele está correto. No domingo, o jornal “O
Globo” publicou levantamento da consultoria Bites demonstrando que nenhum dos
38 ministros ocupou o espaço nas redes sociais deixado pelo ex-ministro da
Justiça e Segurança Pública Flávio Dino, após a posse dele no Supremo
Tribunal Federal (STF).
Até mesmo lideranças petistas, que viam Dino
com reservas (porque ele seria potencial candidato à sucessão presidencial),
admitem, em conversas privadas, que ele era o único ministro a fazer a disputa
política e a defesa do governo nas redes sociais.
Pelo estilo combativo, a Bites mostrou que
Dino conseguiu 18,8% de tração (medidor desenvolvido pela consultoria em termos
de propagação de ondas nas diversas plataformas), enquanto o ministro que mais
se aproximou desse desempenho foi Camilo Santana, da Educação, com 12% de
tração. Em terceiro lugar, despontou o ministro dos Direitos Humanos, Silvio
Almeida, com 9,14%.
O mesmo analista sustentou que a comunicação
do governo deve ser segmentada, o que não vem ocorrendo. Afirmou que se é
preciso investir em uma campanha sobre o Bolsa Família, os anúncios devem
circular mais vezes, e para um público maior, em Estados das regiões Norte
e Nordeste, onde se concentram os beneficiários, e com ênfase menor nas outras
regiões, onde o programa é visto com restrições.
Para esta fonte, um erro lamentável foi a
falta de uma campanha antecipada sobre o projeto de lei que define regras e
estabelece direitos para o trabalho dos motoristas de aplicativos, como
Uber ou 99. A proposta foi levada a público em solenidade no Planalto, com Lula e
o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, no dia 4 de março.
Embora as empresas tenham se manifestado,
endossando a iniciativa, a proposta não foi bem recebida pelos motoristas.
Em comunicados, a Federação Brasileira de
Motoristas de Aplicativos (Fembrapp) e a Associação dos Motoristas de
Aplicativos de São Paulo (Amasp) disseram que o projeto é prejudicial à
categoria. Em paralelo, grupos ligados ao bolsonarismo têm disseminado “fake
news” de que o governo Lula vai dificultar o empreendedorismo. Diante
deste cenário, em breve serão lançadas peças publicitárias do governo
explicando o projeto de lei. “A comunicação do governo está correndo atrás dos
fatos, quando o correto é se antecipar a eles”, criticou a fonte.
Em conversa com o Valor publicada
no dia 4 de março, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência, Paulo Pimenta, reconheceu que a falta de uma comunicação
segmentada, principalmente nas redes sociais, é um problema, e que
pretende contorná-lo com a contratação de serviços para a comunicação digital,
que estão em fase de licitação.
Outro impasse é a relação com os evangélicos,
que representam um terço da população, e estão majoritariamente conectados
ao bolsonarismo. Um exemplo citado por Pimenta para estabelecer uma
conexão com esse público foi a escolha de um cantor gospel popular, Kleber
Lucas, para gravar o jingle de final de ano, “Um só povo”, veiculado em
dezembro. Pesquisa
Genial/Quaest divulgada na quarta-feira revelou que o governo
é reprovado por 62% dos evangélicos.
O mesmo observador político, que frequenta o
Planalto, ponderou que a reprovação, pela maioria dos 2 mil entrevistados pela
pesquisa Genial/Quaest, divulgada na quarta-feira, à comparação feita por Lula da
ofensiva bélica de Israel, sob o premier Benjamin Netanyahu, com o
holocausto judeu teve peso na queda nas pesquisas, mas não com a influência que
se tem atribuído ao episódio.
Esta fonte argumentou que Lula, no contexto
da guerra na Faixa de Gaza, assumiu, isoladamente, o protagonismo na
ofensiva contra líderes de extrema direita, que se posicionam ao lado
de Netanyahu. Pondera que o líder petista deveria agregar outras
lideranças globais, forças políticas moderadas, ao seu lado. “Ele está
apanhando sozinho”, criticou. Somente há poucos dias o presidente
americano Joe Biden acusou o governo de Israel de “prejudicar mais do que
ajudar” na guerra.
A fonte faz outras ponderações, como as de
que os índices positivos da economia ainda não se refletiram na vida real
dos brasileiros. O governo comemorou o aumento real do salário mínimo, mas
esta fonte alerta que “um aumento de R$ 92 no salário mínimo não vai
mudar a vida de ninguém”.
Verdade.
ResponderExcluirAumento real de salário, dcom com com zero de aumento real.e R$ 92,00 é pouco para quem ganha mais. Porém, para quem vive com apenas um salário mínimo, representa cerca de 10 quilos de pão francês, no mês. Para o pobre isto já faz diferença. Especialmento se comparado
ResponderExcluircom zero de aumento real.