Valor Econômico
Aproximação entre Silveira e Haddad pode vir
a quebrar a aliança indissolúvel que Rui Costa mantinha com o MME
A distribuição de dividendos extraordinários
ficou para depois. No limite, até 25 de abril, quando acontecerá a assembleia
de acionistas da Petrobras. A reunião, “tensa”, na definição de um
participante, atravessou a tarde de ontem no Palácio do Planalto e terminou às
19h30. Foi dedicada à exposição dos planos de investimento pela diretoria da
estatal ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos ministros Alexandre
Silveira (Minas e Energia), Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil).
Foi a terceira reunião sobre o tema em menos de uma semana.
Houve distensionamento baseado num “termo de convivência” entre Silveira e o presidente da estatal, Jean Paul Prates, selado por Lula. O compromisso foi de “harmonização” entre o Conselho de Administração, comandado por Silveira, e a diretoria, que responde a Prates.
O compromisso passa por Prates não mais
comentar decisões do conselho. Foi assim que selou sua permanência à frente da
empresa e é assim que pode vir a conseguir que seja levada à assembleia uma
proposta próxima àquela que defendia previamente, de distribuição de metade dos
dividendos extraordinários.
As articulações que levaram a esse
entendimento ocuparam todo o fim de semana e passaram por Haddad, Silveira e
Prates. Silveira também esteve com Gilberto Kassab, mas o presidente do PSD diz
não ter tratado do tema. O titular do MME passou o fim de semana em São Paulo,
onde fez check-up hospitalar e de onde também recebeu telefonemas para que
amenizasse a posição da semana passada de reter 100% dos dividendos
extraordinários em nome dos planos estratégicos da Petrobras.
O plano da Petrobras prevê o investimento de
US$ 102 bilhões entre 2024 e 2028. A conta que, tanto a Fazenda quanto
conselheiros independentes da Petrobras fazem, é que uma empresa deste porte
pode se alavancar em até 2,5 seu ebitda (lucro bruto sem incidência de juros e
tributos). Hoje a alavancagem (endividamento) da estatal não chega a 1,5.
Além de Silveira, o maior defensor da
retenção dos dividendos extraordinários era Rui Costa. Até ontem, Silveira
jogou em dobradinha com Costa, mas há esforços na Fazenda no sentido não apenas
de buscar aproximação como também de reaproximá-lo de Prates. Ambos foram
colegas no Senado.
A postura de Haddad na entrevista que se
seguiu à reunião, de apaziguamento, teve este objetivo. Além de acionistas, a
não distribuição de dividendos também frustrou expectativas do Tesouro, que
estima perdas de até R$ 15 bilhões com a decisão. Na entrevista, porém, Haddad
buscou a equidistância: “A Fazenda não está pressionando para um lado ou
outro”. E não descartou nenhum cenário: “Em momento oportuno, o conselho pode
avaliar a distribuição de dividendos extraordinários em parte ou todo”.
A retenção dos dividendos extraordinários
levou a estatal a perder R$ 55,8 bilhões em valor de mercado na sexta-feira. A
estimativa do mercado para a distribuição de dividendos extraordinários, que
acabou represada, variava entre R$ 23 bilhões e R$ 42 bilhões. A avaliação é
que um recuo do governo levaria a uma rápida recuperação dos seus papéis.
A percepção de interlocutores do governo é
que o presidente Lula entrou na reunião da semana passada excessivamente
influenciado por Rui Costa, um dos maiores críticos da gestão Prates. Também
colaborou para o desentendimento da semana passada a participação do diretor
financeiro da estatal, Sergio Caetano Leite, em encontro no Planalto na semana
passada. Leite teve um posicionamento de enfrentamento com o presidente do
conselho, Pietro Mendes, aliado de Silveira.
Como foi escolhido por Prates, de quem foi
sócio, a postura de Leite acabou por desgastar o presidente da estatal e
levá-lo à abstenção na reunião do Conselho de Administração, da qual participou
por celular a despeito de estar na sala ao lado na sede da empresa. Ainda na
semana passada, porém, Lula já tinha sinalizado a Prates que havia descartado
sua substituição. Ao insistir com o presidente da Petrobras para que
permanecesse no Palácio do Planalto depois da segunda reunião, Lula ouviu de
Prates que ele perderia o último voo para o Rio. “Mando um avião levá-lo”,
disse o presidente.
Maior defensor da retenção dos dividendos no caixa da Petrobras com o argumento de preservar o plano estratégico da estatal, o ministro da Casa Civil está desgastado pela defesa que tem feito, até aqui, do investimento da Petrobras na petroquímica Unigel, que já recebeu parecer desfavorável do TCU. Costa também tem acumulado sucessivos embates com Haddad e municiado Lula na pressão por gastos que comprometeriam a meta de déficit zero estabelecida para este ano. O início do entendimento de ontem sinaliza que uma aproximação entre Silveira e Haddad pode vir a quebrar a aliança indissolúvel que Costa mantinha com o MME até aqui.
Lendo e aprendendo.
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